domingo, 30 de outubro de 2011

A queda de um campeão.

Parece que aconteceu há dez anos, mas 2010 foi o ano em que a Internazionale conquistou tudo. Num espaço de sete meses, o capitão Javier Zanetti teve a honra de erguer os troféus da Serie A, Coppa Italia, UEFA Champions League e Mundial de Clubes da FIFA. Difícil explicar como uma equipe conseguiu ir do céu ao inferno em pouco mais de um ano, mas este post busca responder a essa pergunta.
Em primeiro lugar, nenhum time consegue enfileirar técnicos como Rafa Benítez, Leonardo, Gian Piero Gasperini e Claudio Ranieri impunemente. Ok, o espanhol possui um histórico de bons resultados bem superior aos dos outros três, mas cometeu o pecado mortal de ignorar todo o ótimo trabalho que José Mourinho havia realizado em duas temporadas e decidiu, por convicção ou por vaidade, fazer tudo do seu jeito. Como resultado, viu o time que herdara cair de produção vertiginosamente e acabou pagando com seu cargo antes da virada do ano.
Leonardo assumiu em seguida com a missão de reorganizar os Nerazzurri. Vindo de um período conturbado no banco do Milan, o brasileiro conseguiu conquistar a confiança dos jogadores, porém, sua quase total inaptidão para montar defesas não deu a consistência necessária a um time que tentava manter os títulos que ostentava. Talvez por perceber que seu perfil estava muito mais ligado aos aspectos administrativos de uma agremiação do que ao trabalho de campo, Leonardo aceitou a proposta do PSG e se tornou diretor executivo do clube francês.
Depois de vasculhar o mercado em busca de um novo treinador e receber negativas de nomes como Fabio Capello e Marcelo Bielsa, a Inter finalmente acertou com Gian Piero Gasperini, que trabalhava como comentarista desde sua saída do Genoa. Gasperini iniciou o trabalho técnico nesta temporada, mas sua insistência com seu 3-4-3 anacrônico e incompatível com o elenco disponível abreviou sua passagem.
Depois de fracassar com Juventus e Roma, Claudio Ranieri assumiu a vaga muito mais por ser um nome disponível do que por ser o técnico dos sonhos de uma grande equipe. Ciente desse atual estágio de sua carreira, o romano chegou a Via Durini tentando fazer o óbvio e deixando que a qualidade do elenco fizesse sua parte. E é neste ponto que reside o maior problema interista. Embora seja prematuro falar em declínio, é evidente que o grupo vencedor de outrora não vem sendo capaz de responder aos desafios propostos.
Observando os pilares da equipe é possível diagnosticar que a maioria se encontra bem longe da melhor forma física e técnica. Começando pela meta, não é segredo que Júlio César não é nem sombra do melhor goleiro do mundo na temporada 2009/10. Não se sabe se a falha contra a Holanda na Copa do Mundo de 2010 destruiu sua confiança, mas a verdade é que Júlio nunca mais foi o mesmo após se chocar com Felipe Melo na fatídica eliminação brasileira na África do Sul.
Na lateral direita, após quase se transferir para o Real Madrid, Maicon também viu seus melhores dias ficarem para trás. Problemas físicos e alguma displicência fizeram o camisa 13 amargar seus piores momentos com a camisa da Inter. Com o perdão do trocadilho infame, o baile que levou de Bale na partida contra o Tottenham resume bem o que foi a temporada passada para Maicon. Neste certame, após se recuperar de uma cirurgia no joelho, o lateral ainda se esforça para reencontrar sua melhor forma. Na zaga central, Lúcio segue mostrando a vontade de sempre, todavia, a ausência que alguém como Mourinho no banco de reservas parece ter despertado o zagueiro afoito que estava adormecido. No lado esquerdo, as frequentes lesões de Samuel vêm deixando uma lacuna no setor. Até este momento, nem Ranocchia e muito menos Chivu conseguiram atingir o nível do experiente argentino.  
No meio-campo, embora Zanetti e Cambiasso continuem correndo como sempre, o maestro Sneijder vê o futebol que fez dele um dos melhores do mundo em 2010 ficar para trás. Além disso, o fracasso na transferência para o futebol inglês (United ou City) parece estar influenciando em seu desempenho nos gramados. Enquanto isso, as presenças opacas de jovens como Obi e Álvarez no setor ajudam pouco. Na frente, está cada vez mais evidente a falta que Eto’o faz. Sem o camaronês, não há ninguém do elenco capaz de resolver o jogo sozinho, embora Pazzini continue perigoso quando recebe a bola em condições de finalizar. Por sua vez, Diego Milito desapareceu no banco de reservas, enquanto os recém-contratados Diego Forlán e Mauro Zárate ainda buscam seu espaço no time.
Nesse cenário, não é absurdo pensar em reforços. A aquisição de um lateral-esquerdo confiável, um volante capaz de dar mais pegada ao meio-campo e um atacante de velocidade são as carências mais visíveis do plantel. O volante Sandro do Tottenham, o meia Kevin Strootman do PSV e os atacantes Hulk do Porto e Carlos Tévez do Manchester City são as especulações de momento. Resta saber se depois de anunciar que o clube já estava se ajustando ao Fair Play financeiro da UEFA, o presidente Massimo Moratti estará disposto a abrir os cofres em janeiro. Se bem que uma breve consulta à tabela de classificação da Serie A mostra que motivos para isso não faltam.         
Imagens: Reuters, Getty e Goal.com

8 comentários:

Thiago Ribeiro disse...

interessante que vossa senhoria esqueceu-se de citar a jovem "pérola" Phillipe (é assim que se escreve?) Coutinho, um garoto talentoso que se perdeu do futebol na Itália, queriam que fosse o novo Pato.

O problema é que nem o Pato foi O Pato...

o problema, ao meu ver, é outro: há quanto tempo este elenco é o mesmo? Falta renovação, e renovação de qualidade.

Tiram Eto'o e põem um Forlán que já veio bichado da Espanha e que no 2º semestre de 2010 não foi nem sombra daquele do 1º semestre, que liderou o seu time pequeno - Atlético de Madrid - até a conquista da Liga Europa e foi o melhor do mundo. Falta de preparo físico e mau posicionamento estão acabando com ele, na Inter ou jogou de centro-avante ou de ponta-direita, nunca de ponta-de-lança (ou, como definiria Jonathan Wilson em Inglês, onde não há termo para isso: playmaker-comes-second-striker), seu posicionamento mais adequado.

Michel Costa disse...

Salve, Thiago.

Não falei em Coutinho porque a solução da Inter nunca passou pelos pés do jovem meia.
Com certeza o elenco precisa ser renovado e foi justamente isso o que eu abordei no último parágrafo, mas era importante também comentar sobre a queda de produção de alguns titulares.

Abraço.

Arthur Barcelos disse...

Perfeito, Michel. Achei até que pegou leve, rsrs. As coisas não andam nada boas no clube de Appiano Gentile... Aliás, nem citou Nagatomo na lateral-esquerda, que não representa 20% daquele camisa 5 do Japão e 55 do Cesena. Parece ter sentido o peso do manto, o que é uma pena.

Tenho pena de jovens, como Ricky Álvarez, Philippe Coutinho, Andrea Ranocchia, e tantos outros, passem por situações como essas. São colocados a campo com a missão de resolver tudo, e sabemos que as coisas não funcionam assim. Até Cambiasso, não é o mesmo de antes, a chegada de Ranieri até fez o carequinha crescer de produção, mas nada comparado aos tempos de Mancini e Mourinho. Javier Zanetti é o mesmo caso de seu compatriota. Até jogar de zagueiro, jogou nesta temporada, com o insano Gasperini. Com a volta em sua posição de costume, melhorou, Maicon ao menos é melhor do que aquele de 10-11. O problema agora, é que há uma dependência em cima das jogadas do camisa 13, e de Sneijder. Quando não rendem o que podem render, o time não rende. No jogo contra a Juventus, ambos foram bem no primeiro tempo, mas jogaram sozinhos. A ineficiência de Pazzini e Zárate fizeram o time ir para os vestiários perdendo. Na volta, um Sneijder sentindo a lesão que o vem perseguindo na temporada, e um Maicon cansado, e agora ocupado defensivamente (com a entrada de Estigarribia).

O time da Inter, conhecido por ser um grupo "frio", "calculista" e etc, hoje é um grupo que não consegue se "controlar". Um bom exemplo é o jogo contra o Napoli.

E Ranieri não consegue passar essa tranquilidade ao grupo, pelo contrário.

Sobre Forlán, ele chegou sim, a jogar de enganche, mas num 3-5-1-1 insano de Gasperini. Quando jogou assim, ficou claro que não está bem fisicamente. Outro exemplo, foi um 4-4-1-1 que Ranieri utilizou contra o Bologna, talvez a melhor partida de Forlán. Que esse tempo se recuperando de lesão, ele recupere sua forma física.

Ainda há Andrea Poli, que ainda não atuou oficialmente, um ótimo jogador, mas perseguido pelas lesões. É torcer para que em 2012 esteja totalmente recuperado, e que Kucka, quando chegar, não tenha o mesmo problema que teve (tem) Nagatomo. O nome de Strootman me agrada muito. Um meia-central com boa qualidade de saída de bola, e tem uma noção de posicionamento excelente. Mas vejo, que é necessário um reserva para Sneijder, um verdadeiro trequartista, e não um enganche. É necessário também um parceiro para Pazzini. E como bem falou, um lateral-esquerdo. Posição essa que desde 92 (Andreas Brehme, o melhor lateral-esquerdo, logicamente depois de Giacinto Facchetti) não há um homem à altura.

E realmente, apesar do FPF ainda não estar em vigor, tem assustado muito Moratti, talvez por isso não gastou mais do que 10 milhões de euros na janela de verão. E sabemos, que se não usar o dinheiro da Saras já em janeiro, as chances de título, e até mesmo de Champions League, serão mínimas.

Michel Costa disse...

Complemento perfeito, Arthur.
Na verdade, não citei Nagatomo diretamente, mas o simples fato de apontar a carência na lateral esquerda indica o que eu tenho achado do japonês. Depois do ótimo Brehme a Inter ainda teve Roberto Carlos, mas não soube aproveitá-lo. Sorte do Real Madrid...

Sobre Forlán, estou de acordo. Como escrevi no post, ele ainda busca seu espaço no time. De qualquer modo, ainda falta um atacante de velocidade. Uma função que Tevez ou Hulk poderiam desempenhar. Quanto a hipótese de um vice-Sneijder, o melhor nome na praça é o de Hernanes, mas não acredito que a Lazio libere o brasileiro fácil.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

iiiiih, lá vem o Arthur querendo causar confusão!

Tentar explicar pros desavisados que há diferenças entre trequartista e enganche!
ahauhau

Michel Costa disse...

Hahaha... Existe alguma diferença sim, Thiago. Mas vamos deixar o Arthur explicar agora :P

Abraço.

Arthur Barcelos disse...

Na minha visão, posso estar equivocado, existe sim diferença entre 'trequartista' e 'enganche'.

Trequartista é aquele jogador que procura pensar mais no jogo, armar as jogadas. Exemplo: Gianni Rivera e Zinedine Zidane

Enganche é aquele jogador que não se preocupa tanto em simplesmente armar o jogo, geralmente divide essa função com um regista, ele também chega mais a frente, para finalizar e dar opção a quem estiver com a bola, se movimenta mais que o anterior. Exemplo: Zico e Michel Platini.

E ainda temos o debate sobre a diferença entre o regista e o box-to-box.

Aliás, seriam pontos que Michel poderia abordar em futuros postagens na coluna, "Taticamente Falando".

Abraços!

Michel Costa disse...

Grandes definições, Arthur. Concordo com elas e completo que a função que Zico executava também pode ser chamada de "ponta-de-lança".
Quanto ao "Taticamente Falando", sugestões anotadas.

Abraço.