quarta-feira, 26 de outubro de 2011

E se Ferguson fosse brasileiro?

Nos últimos meses, Sir Alex Ferguson, técnico do Manchester United, cometeu dois grandes erros no comando do time inglês. O primeiro, mais grave, aconteceu na última final da UEFA Champions League quando os Red Devils foram derrotados pelo Barcelona por 3 a 1. Na ocasião, o escocês abriu mão de um meio-campo mais “pegador” ou pelo menos mais povoado que pudesse criar mais dificuldades a Messi & Cia. e viu seus comandados serem totalmente dominados pelo rival. Logicamente, o Barça seria favorito de qualquer jeito, mas ver o atacante mexicano Javier Hernández como uma peça nula em campo, desconectado do time, enquanto os outros nove jogadores de linha corriam tentando fechar os espaços foi decididamente um erro.
O outro equívoco aconteceu no derby diante do Manchester City. Com um jogador a menos desde o início do 2º tempo, Ferguson abriu seu time para a goleada que se construiu após os 45 minutos da segunda etapa. Como recomendaria o folclórico Neném Prancha, o United não poderia levar três gols no momento de “recuar os arfes para evitar a catastre (sic)”. Com isso, os Citizens impuseram a maior goleada do confronto, ganharam moral e deixaram uma marca que deve se perpetuar pela história. Ao escocês restou reclamar de seus pupilos nos vestiários no melhor estilo “vocês perderam”.
Se tais episódios acontecessem numa equipe brasileira, Fergie provavelmente teria sua cabeça colocada a prêmio. Seus 25 anos de clube, inúmeros títulos e incontáveis acertos não valeriam nada diante dos citados fracassos. Ou melhor, tais derrotas não aconteceriam por um único motivo: Se treinasse no Brasil, Ferguson nunca chegaria à marca de 25 temporadas no comando de um time. Seus primeiros quatro anos sem nenhuma conquista já seriam suficientes para causar sua demissão e hoje ele estaria pulando de galho em galho como fazem todos os técnicos brasileiros.
Obviamente, o pensamento em destaque não leva em consideração que Ferguson não é um técnico como tradicionalmente conhecemos. Ele um manager com funções administrativas e de planejamento que ultrapassam as obrigações de nossos “professores” e que sugere um trabalho a médio/longo prazo. O chamado coach talvez se aproxime mais do que temos aqui. Porém, as recentes notícias envolvendo a chegada de Emerson Leão ao São Paulo me fizeram pensar (mais uma vez) sobre como o futebol é visto por dirigentes, torcedores e jornalistas brasileiros. O ex-goleiro chega com a missão de disciplinar a aparentemente deslumbrada garotada tricolor e recolocar o time nos trilhos. Para tanto, Leão tem apenas a garantia de sete jogos até o final do campeonato. Em caso de sucesso, seu contrato poderá ser renovado para a temporada 2012.
Não é preciso ser um gênio para perceber que essa mentalidade que envolve nosso futebol está errada. Não se dirige qualquer esporte de maneira profissional assim. No mundo ideal, o técnico do São Paulo ainda seria Muricy Ramalho. Afinal, ao contrário do que muitos tricolores podem pensar, Muricy nunca teve a obrigação de vencer uma Libertadores, mas disputar o torneio de uma forma compatível com o elenco a sua disposição. E isso ele fez. Agora, ser campeão envolve outros fatores que fogem dos limites de qualquer treinador. Não por acaso, o competente Muricy é o atual campeão sul-americano com o Santos e o São Paulo continua sem rumo, assim como a maioria de nossos clubes, apresentando seu novo Leão semana após semana.     
Imagem: Reuters

6 comentários:

Thomas de Carvalho Silva disse...

Parabéns pelo post, caro Michel. Pois bem, se Ferguson fosse brasileiro, seria grande a chance de, após a goleada sofrida, encontrar-se desempregado. No entanto, hoje vemos que, pouco a pouso, os dirigentes brasileiros estão mudando - para melhor. Dois casos emblemáticos: o do Corinthians, que segurou TITE quando todos pediam a sua cabeça, e o do Botafogo, qye manteve CAIO JÚNIOR, mesmo após uma série de maus resultados. Hoje, ambos encontram-se bem colocados na tabela. Bons sinais! Abraço!

Michel Costa disse...

Obrigado, Thomas.

No entanto, acho que só o dirigente do Corinthians pode ser chamado de exceção a essa regra. Lembremos que o Botafogo demitiu Joel Santana há pouco tempo, mesmo depois do técnico ter levado o time ao improvável título carioca de 2010 numa campanha que já tinha sido marcada pela demissão de Estevam Soares.
E, como escrevi acima, trata-se de uma exceção e infelizmente não vejo grandes mudanças nessa mentalidade num futuro próximo. Afinal, ela está enraizada em todos os agentes que participam do futebol brasileiro. Do torcedor ao dirigente, passando até mesmo pela imprensa esportiva.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

no caso isso só funcionaria no brasil SE o dirigente e o técnico fossem a mesma pessoa!

é isso que o manager significa, um GERENTE de futebol, como muitos clubes, inclusive no meu botafogo, andam contratando gerentes profissionais de futebol.

Michel Costa disse...

É por aí, Thiago.
No entanto, dá para dizer que a função de manager não existe no Brasil.
Mal comparando, seria como se Luxemburgo fosse o responsável por todo o futebol do Flamengo, administrando, contratando, dispensando e escalando o time. Ou seja, não daria certo...haha.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

hahauhauh, dá até medo pensar no Luxa com um cargo desses, aliás, o sonho dele é ser presidente do flamengo!

ahuaha\uhauhauhauhau - o meu também AHUAHAUHAUHAUAHUAHUA

#desejandoOMalAlheio

mas voltando ao caso que conheço melhor, no Botafogo seria o Anderson Barros o responsável pelo time em campo, escalando, lendo o jogo, etc. etc. etc.

Só de lembrar das besteiras e das "apostas" que ele já fez, me enchem de terror!

mas outra coisa deveria ser feita - ou tentada - quando um presidente de clube fosse eleito, na sua chapa estivesse lá o nome do técnico que o acompanharia pelo mandat e a proposta de jogo do time - ofensivo, marcador etc etc.

isso daria mais tempo aos técnicos para prepararem um bom projeto, já que a proposta de futebol foi apresentada na eleição!!

Veja o Arsenal, lá está a pindaíba porque WENGER não abre os bolsos. Isso é dele não dos donos do clube. SE e QUANDO sair o fair play econômico na UEFA, ele vai estar um passo a frente, enquanto isso, hoje, ele está dois atrás (o que seria um salto qualitativo enorme).

Michel Costa disse...

Haha... O Luxa está mais para um Sam Allardyce, aquele mesmo que foi acusado de se beneficiar com a negociação de jogadores.
A verdade é que não temos profissionais com esse perfil por aqui. Temos até bons técnicos de campo, mas nenhum deles é um manager de fato. No máximo, podem indicar esse ou aquele jogador, numa iniciativa que ainda precisa do crivo dos dirigentes do clube.

Abraço.