quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Taticamente Falando.

Espaço destinado a comentar um assunto que é interessantíssimo para alguns, mas considerado por muitos, aborrecedor ou até mesmo difícil de ser assimilado, mas que sem o mínimo conhecimento desse aspecto o futebol não pode ser compreendido em sua totalidade.
Após três anos de ausência, a análise tática está de volta ao “Além das Quatro Linhas”. Uma pausa motivada muito mais pela inabilidade deste blogueiro para desenhar os sistemas do que por desinteresse pelo assunto. Neste espaço, pretendo abordar o tema sempre buscando explicar os termos mais utilizados no universo da tática contextualizando-os com acontecimentos atuais e históricos. Todavia, diferentemente do que fazem de maneira brilhante os amigos André Rocha, Eduardo Cecconi e os nobres integrantes de “A Prancheta”, aqui a ideia central é tratar das expressões usadas quando se fala em tática e não mostrar como determinadas equipes jogam atualmente.
O falso nove.
A expressão “falso nove” é relativamente nova do dialeto futebolês. Difícil precisar quando surgiu, mas ganhou força após o técnico do Barcelona, Pep Guardiola, deslocar o atacante Lionel Messi da ponta direita para o centro do ataque motivado pelo baixo rendimento do sueco Zlatan Ibrahimovic, centroavante que chegou com pompas, mas que terminou a temporada 2009/10 amargando o banco de reservas.
Nessa função, ainda desempenhada pelo craque argentino, a posição de centroavante (ou nove) é apenas o ponto de partida para os deslocamentos pelos lados do campo e recuo à intermediária para ajudar na armação das jogadas. Com isso, os zagueiros centrais adversários perdem a referência de marcação e enfrentam o dilema de sair da área à caça de Messi e ver Villa e Pedro entrando em diagonal às suas costas ou ficarem plantados esperando o camisa 10 vindo de trás com a bola dominada.

No entanto, antes de Messi, outro genial jogador já colocava o “falso nove” em prática em gramados italianos. Sob o comando do técnico Luciano Spalletti, Francesco Totti era o “falso 9” de uma Roma que se alinhava num 4-2-3-1. Como o jogador mais adiantado dos Giallorossi, Totti tinha total liberdade para se movimentar pelo ataque e voltar para armar. Não é exagero dizer que o ídolo romanista era o dono do time e via seus companheiros jogando em função de seu talento. Porém, em certos momentos, ter uma equipe inteira em órbita de um único atleta era muito mais problema do que solução.

Os dois exemplos acima citados não são protagonizados por dois jogadores muito acima da média por mero acaso. Fazer bem as funções de “arco” e “flecha” é tarefa para poucos. Talvez por isso, o “nove clássico” ainda seja tão popular no mundo da bola.

12 comentários:

Rodolfo Moura disse...

Michel,
Parabéns por mais este post, no qual você aborda, com a propriedade de sempre, uma faceta do futebol que eu nunca consegui fazê-lo no 'Calcio Serie A',
Entretanto, logo hoje, no dia do meu aniversário, quando entrei aqui pela primeira vez antes das 7h00 da manhã, você não disponibilou o 'Question'!
Abraços,

Arthur Barcelos disse...

Muito bom o post Michel! Parabéns. Explicou muito bem a função desempenhada pelo "falso nove".

Duas ótimas citações (Messi e Totti). Isso porque ainda tem os mitos: Cruyff - http://yfrog.com/z/h77cymhj ; e Di Stéfano - http://yfrog.com/z/ntqrgiaj

À espera do Question. Abraço!

Michel Costa disse...

Hehehe... calma, Rodolfo.
Em primeiro lugar, meus parabéns pela data e meus votos de muita saúde e paz para você meu amigo.

Sinto falta do Calcio Serie A. Pra mim, ele sempre foi o espaço mais bacana do calcio na internet brasileira. Outro dia, fiquei imaginando como seria o "Quem vem lá" com Forlán...

Quanto ao Question, daqui a pouco estará disponível.

Grande abraço.

Michel Costa disse...

Salve, Arthur.
Cheguei a pensar no Di Stefano como o primeiro "falso nove". Porém, ainda tenho dúvidas de que essa era mesmo sua função. Para muitos, o argentino era quase um box-to-box, afinal, uma de suas definições era: "âncora da defesa, armador do time e principal atacante".
Meio louco isso, não?

Abraço!

Thiago Ribeiro disse...

O "primeiro" falso nove de monta foi Hidegkuti dos mágicos magiares (HUngria-1952-154) e do Honved. antes, outro jogador tentou fazer isso no próprio Honved,mas só Hidegkuti conseguiu mostrar a função para o mundo.

Thiago Ribeiro disse...

Salvo engano, Di Stéfano, grande 8, jogava na frente do WM do Real Madrid, mas ele recuava para armar, assim Púskas, o 10 entrava na área.

Era igual ao WM da Hungria, Hidegkuti recuava e Puskas podia finalizar dentro da área.

Na Argentina, Di Stéfano era o central direito (8) da pirâmide (2-3-5)

Michel Costa disse...

Boa lembrança, Thiago.
Li sobre a função de Hidegkuti em "As maiores seleções estrangeiras de todos os tempos" e concordo contigo. Naquela fantástica Hungria sua função era recuar para que outros jogadores como Puskas ocupassem a faixa mais adiantada do gramado.

Abraço.

André Rocha disse...

Primeiro "falso nove" que se tem notícia foi Sindelar, do Wunderteam da Áustria nos anos 1930. Mas não é absurdo afirmar que foi Hidegkuti. Muito bom o post, Michel. Que venham outros! Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

boa lembrança, André, o Sindelar da Áustria, vinha até o meio criar!

Thiago Ribeiro disse...

Slavo engano, eu li no Zonal Marking sobre o "falso 10".

seria o caso de Robin Van Persie e Cesc Fábregas no Arsenal, um sai da área pra armar, outro entra pra concluir.

era mais ou menos o que acontecia no Real Madrid de Púskas e Di Stéfano, o 9 recuava e o 10 entrava na área.

Na Hungria, com o recuo de Hidegkuti (9), tanto Púskas (10) quanto Kocsis (8) entravam na área pra fazer gols.

Se bem o q for contar o que aquela Hungria fazia e o que hj nós chamamos de modernos, não tá no gibi: Zakarias descendo da 1º volância e transformando o "back 3" em "back 4", por exemplo

Michel Costa disse...

Obrigado, André. E muito bem lembrado! Já li alguma coisa sobre o notável Wunderteam que assombrou a Europa.

Quanto ao "Taticamente Falando" quero que tenha uma periodicidade pelo menos mensal.

Grande abraço.

Michel Costa disse...

De acordo, Thiago.
Mas, de todas as funções, a que mais sinto falta no futebol atual é a do líbero. Não falo do jogador de sobra numa linha de três, mas daquele jogador capaz de sair para o jogo, armar e chegar ao ataque. Beckenbauer, Scirea e Baresi são bons exemplos.

Abraço.