domingo, 14 de dezembro de 2014

O fim de uma era

O programa Linha de Passe de segunda-feira (08/12) marcou a última aparição ao vivo do comentarista Paulo Vinícius Coelho na ESPN Brasil. Um dos principais nomes do jornalismo esportivo brasileiro, PVC, como é chamado, sempre se destacou dos demais profissionais da casa por sua memória prodigiosa, seu poder de argumentação baseado mais em fatos do que em achismos, sua visão tática, sua rede de informantes que o permite estar quase sempre à frente das notícias e, por que não dizer, por seu carisma. A partir de janeiro de 2015, Paulo será mais um integrante do Fox Sports, um grande reforço, vale ressaltar.
Não cabe neste espaço especular os motivos que levaram à sua saída. Meus breves contatos com ele foram através de e-mails e Twitter. Até mesmo suas bem traçadas linhas na contracapa do livro “É Tetra!” foram por intermédio do amigo André Rocha. Sendo assim, a intenção deste post é tentar dimensionar o que a saída de PVC significa para a ESPN nacional que há poucas semanas também perdeu os direitos da UEFA Champions League para o Grupo Turner/Esporte Interativo, assim como já havia perdido a Serie A italiana e a Bundesliga para a Fox.   
Os fãs do esporte mais atentos devem ter percebido as mudanças ocorridas na ESPN Brasil após João Palomino assumir o posto de diretor de jornalismo antes ocupado por José Trajano. Visando aumentar a audiência, Palomino promoveu diversas alterações na programação deixando de lado o ambiente quase artesanal que tão bem identificava o canal tornando-o mais próximo do que o SporTV, seu maior concorrente, sempre fez. Paralelamente, as edições do aclamado Bate-Bola se espalharam por toda a grade promovendo horas e horas de debates que na maioria das vezes são apenas comentários em sequência sem nenhum tipo de embate de ideias.
Talvez por isso tenha me chamado tanto a atenção a troca de PVC da segunda para a terceira edição do Bate-Bola. Na versão vespertina, Paulo Vinícius e Mauro Cezar Pereira frequentemente confrontavam seus pontos de vistas em acalorados debates nos quais o assinante só tinha a ganhar. Com a separação dos parceiros dos tempos de Placar, as atrações se tornaram cada vez mais estéreis e, por que não dizer, descartáveis. Hoje, o melhor programa diário dos canais esportivos é o Redação SporTV e seu formato ágil e informativo. Justamente o que a ESPN perdeu.
Numa das últimas edições do Linha de Passe, José Trajano, um dos fundadores do canal, disse em tom de lamentação que o jornalismo que ele mais admira é o investigativo, com o repórter indo ao encontro da notícia e não com comentaristas num estúdio. Pelo visto, esse caminho não será mais seguido pela ESPN Brasil, talvez excetuando o notável trabalho investigativo de Lúcio de Castro. Com a perda de tantos campeonatos importantes, a solução mais provável é que os programas de debate ganhem ainda mais destaque. Nem que seja para falar sobre as competições mostradas pela concorrência.

Imagem: Reprodução ESPN

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A melhor fórmula

Quando o Cruzeiro deu sinais de que seria bicampeão brasileiro, ali por volta da virada do primeiro para o segundo turno, um velho discurso voltou à tona: o Brasileirão deveria retornar ao “mata-mata” como fórmula. Afinal, segundo muitos, o formato de disputa por pontos corridos se torna desinteressante a partir do momento em que um time dispara na liderança. Os mais atentos poderiam desconfiar que o tal desinteresse cresce na medida em que o virtual campeão não é um clube do Rio ou de São Paulo, mas essa é outra história. Duvido muito que o torcedor celeste tenha ficado desestimulado.
A verdade é que nosso futebol já deveria ter superado esta discussão. Sobretudo agora que a Copa do Brasil também tem seu desfecho no fim do ano e abriga novamente todas as grandes equipes do país. Quem prefere jogos finais tem seu momento com uma competição que ainda tem como bônus a classificação para a Copa Libertadores do ano seguinte. Enquanto isso, o campeonato nacional tem razões para ser realizado em pontos corridos em turno e returno. E não são poucas.
A começar pelo aspecto financeiro das equipes. Para que se realizem mais três fases – quartas de final, semifinal e final – precisamos de mais seis datas após o término da primeira. E Isso, com a concomitância de competições como Copa do Brasil ou Sul-Americana, representa no mínimo um mês a menos de atividade para os doze times que não se classificarem para as finais. Na prática, esse cenário dificulta negociações com televisão, patrocinadores e significa menos dinheiro de bilheteria. Prejuízos que os quatro eliminados nas quartas de final também sentirão em parte.
Outro aspecto relevante é a meritocracia. Imaginar o vencedor da primeira fase eliminado pelo oitavo colocado, que muitas vezes chega cambaleante, é tudo o que um torneio não precisa. Se a fórmula fosse aplicada atualmente, por exemplo, teríamos Cruzeiro e Atlético Paranaense lutando por uma vaga nas semifinais. Caso os paranaenses avançassem, todo o trabalho e investimento cruzeirense iriam por água abaixo em duas partidas. Difícil encontrar disparate maior.
Por fim, mas não menos importante, está o planejamento. Com a mudança ocorrida em 2003, passou a ficar claro para os dirigentes que o título está muito mais ao alcance de quem se organiza para conquistá-lo. Num país onde o amadorismo ainda impera no esporte, nada melhor do que termos uma liga que por sua natureza fomenta o planejamento dos clubes. Não por acaso, a edição de 2014 premiou a agremiação que fez tudo da forma mais correta possível. Parabéns, Cruzeiro, legítimo campeão brasileiro.
Coluna escrita originalmente para o site Barroso em Dia.
Foto: Cristiane Mattos / Futura Press