Quando
o Cruzeiro deu sinais de que seria bicampeão brasileiro, ali por volta da
virada do primeiro para o segundo turno, um velho discurso voltou à tona: o
Brasileirão deveria retornar ao “mata-mata” como fórmula. Afinal, segundo muitos,
o formato de disputa por pontos corridos se torna desinteressante a partir do
momento em que um time dispara na liderança. Os mais atentos poderiam desconfiar
que o tal desinteresse cresce na medida em que o virtual campeão não é um clube
do Rio ou de São Paulo, mas essa é outra história. Duvido muito que o torcedor
celeste tenha ficado desestimulado.
A
verdade é que nosso futebol já deveria ter superado esta discussão. Sobretudo
agora que a Copa do Brasil também tem seu desfecho no fim do ano e abriga novamente
todas as grandes equipes do país. Quem prefere jogos finais tem seu momento com
uma competição que ainda tem como bônus a classificação para a Copa
Libertadores do ano seguinte. Enquanto isso, o campeonato nacional tem razões para
ser realizado em pontos corridos em turno e returno. E não são poucas.
A
começar pelo aspecto financeiro das equipes. Para que se realizem mais três
fases – quartas de final, semifinal e final – precisamos de mais seis datas
após o término da primeira. E Isso, com a concomitância de competições como
Copa do Brasil ou Sul-Americana, representa no mínimo um mês a menos de
atividade para os doze times que não se classificarem para as finais. Na
prática, esse cenário dificulta negociações com televisão, patrocinadores e
significa menos dinheiro de bilheteria. Prejuízos que os quatro eliminados nas
quartas de final também sentirão em parte.
Outro
aspecto relevante é a meritocracia. Imaginar o vencedor da primeira fase eliminado
pelo oitavo colocado, que muitas vezes chega cambaleante, é tudo o que um
torneio não precisa. Se a fórmula fosse aplicada atualmente, por exemplo, teríamos
Cruzeiro e Atlético Paranaense lutando por uma vaga nas semifinais. Caso os
paranaenses avançassem, todo o trabalho e investimento cruzeirense iriam por
água abaixo em duas partidas. Difícil encontrar disparate maior.
Por
fim, mas não menos importante, está o planejamento. Com a mudança ocorrida em
2003, passou a ficar claro para os dirigentes que o título está muito mais ao
alcance de quem se organiza para conquistá-lo. Num país onde o amadorismo ainda
impera no esporte, nada melhor do que termos uma liga que por sua natureza fomenta
o planejamento dos clubes. Não por acaso, a edição de 2014 premiou a agremiação
que fez tudo da forma mais correta possível. Parabéns, Cruzeiro, legítimo
campeão brasileiro.
Coluna escrita originalmente para o site
Barroso em Dia.
Foto: Cristiane Mattos / Futura Press
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