Neste momento, o Cruzeiro lidera o Campeonato Brasileiro e com essa colocação voltou à tona a velha discussão sobre a qualidade de Celso Roth como treinador. Antes de tudo, é preciso deixar de lado a ótica maniqueísta que rege as análises futebolísticas no Brasil para não elevar o comandante da Raposa a um nível onde ele nunca esteve, mas também não deixar de reconhecer os méritos de quem construiu uma carreira pautada por trabalhos dignos.
Roth, assim como Muricy Ramalho e outros, faz parte de uma geração de técnicos que se moldaram nas décadas de 1990 e 2000, onde a marcação tornou-se prioridade em detrimento do futebol. Era em que o meio-campo se esvaziou de criatividade, em que os alas se tornaram um amálgama dos laterais e dos pontas e quando os três zagueiros eram marca registrada de nossas equipes. Atualmente, mesmo com o retorno da linha de quatro na defesa e de sistemas que emulam o que o restante do mundo faz, ainda estão nítidos os conceitos táticos desse passado recente.
Os melhores exemplos de como Celso Roth trabalha foram dados pelo jornalista e ex-setorista de Internacional e Grêmio, Eduardo Cecconi. No Inter, foram comuns os comentários de que os treinos eram todos voltados para a marcação e para a chamada bola parada. Para o ataque, pouca atenção. No rival Tricolor, uma história de sua última passagem é ainda mais reveladora. Após assumir o time, o técnico reuniu os titulares e, apontado para cada um dos reservas, instituiu uma anacrônica marcação homem a homem.
Obviamente, isso não quer dizer que os métodos de Roth não podem dar certo. Podem, ainda mais num país onde o esporte está tão atrasado em relação ao que estamos vendo nos melhores times da Europa. No entanto, quando cobramos um futebol mais bem jogado, quando pedimos o retorno dos pensadores ao meio-campo, quando falamos em retomada do protagonismo da Seleção, estamos indo na contramão de tudo o que Roth representa. Afinal, do contrário, estaremos apenas confirmando nosso eterno vínculo com o resultado, uma cultura que nos levou ao estágio em que o futebol brasileiro hoje se encontra.
Foto: André Casado / Globo Esporte