terça-feira, 26 de junho de 2012

Não se deixe enganar

Neste momento, o Cruzeiro lidera o Campeonato Brasileiro e com essa colocação voltou à tona a velha discussão sobre a qualidade de Celso Roth como treinador. Antes de tudo, é preciso deixar de lado a ótica maniqueísta que rege as análises futebolísticas no Brasil para não elevar o comandante da Raposa a um nível onde ele nunca esteve, mas também não deixar de reconhecer os méritos de quem construiu uma carreira pautada por trabalhos dignos.
Roth, assim como Muricy Ramalho e outros, faz parte de uma geração de técnicos que se moldaram nas décadas de 1990 e 2000, onde a marcação tornou-se prioridade em detrimento do futebol. Era em que o meio-campo se esvaziou de criatividade, em que os alas se tornaram um amálgama dos laterais e dos pontas e quando os três zagueiros eram marca registrada de nossas equipes. Atualmente, mesmo com o retorno da linha de quatro na defesa e de sistemas que emulam o que o restante do mundo faz, ainda estão nítidos os conceitos táticos desse passado recente.
Os melhores exemplos de como Celso Roth trabalha foram dados pelo jornalista e ex-setorista de Internacional e Grêmio, Eduardo Cecconi. No Inter, foram comuns os comentários de que os treinos eram todos voltados para a marcação e para a chamada bola parada. Para o ataque, pouca atenção. No rival Tricolor, uma história de sua última passagem é ainda mais reveladora. Após assumir o time, o técnico reuniu os titulares e, apontado para cada um dos reservas, instituiu uma anacrônica marcação homem a homem.
Obviamente, isso não quer dizer que os métodos de Roth não podem dar certo. Podem, ainda mais num país onde o esporte está tão atrasado em relação ao que estamos vendo nos melhores times da Europa. No entanto, quando cobramos um futebol mais bem jogado, quando pedimos o retorno dos pensadores ao meio-campo, quando falamos em retomada do protagonismo da Seleção, estamos indo na contramão de tudo o que Roth representa. Afinal, do contrário, estaremos apenas confirmando nosso eterno vínculo com o resultado, uma cultura que nos levou ao estágio em que o futebol brasileiro hoje se encontra.     
Foto: André Casado / Globo Esporte

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Contagem Regressiva: Junho de 2012

Para um fanático por futebol, Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo. É um período para se tirar férias do trabalho e só sair de casa para tratar de assuntos estritamente necessários. São semanas mágicas, onde um jogador consegue deixar o mundo mortal para fazer parte do panteão dos Deuses da Bola e, de quebra, transformar um país inteiro numa grande festa. É uma época para se rir, chorar, se emocionar. Enfim, é um momento que será guardado para sempre em nossos corações...
Brasileiro gosta mesmo é de vencer
Quando Ayrton Senna colidiu sua Williams na fatídica curva Tamburello, uma parcela dos sonhos de muitos brasileiros se foi junto com o piloto. Sonhos de vitórias, conquistas e, sobretudo, de momentos felizes. Para muitos, os triunfos Senna representavam uma forma de fuga dos problemas do cotidiano, a materialização de um sucesso que provavelmente nunca teriam em suas vidas.
Seguindo a mesma linha, podemos lembrar o “surto” de tênis durante o auge de Gustavo Kuerten, o Guga. Naquela época, pessoas que nunca se interessaram pelo esporte deixaram de lado seus afazeres para acompanhar os jogos do Manezinho da Ilha. E o que dizer do “boom” que o vôlei brasileiro sofreu após a conquista da medalha de ouro nos Jogos de Barcelona em 1992? Não por acaso, a manutenção de grandes gerações do vôlei estabeleceu um público fiel e que sempre se renova. De certo modo, as aspirações dessas pessoas seguem o mesmo padrão: Sentir como sua a vitória de terceiros. Isso é o que move o torcedor.
Logicamente, no futebol não é diferente. No caso dos clubes, a necessidade imediata está na vitória sobre os adversários. Como essa vitória chega está num absoluto segundo plano, uma vez que o importante é comemorar e reunir argumentos para zoar os torcedores rivais. No entanto, quando o assunto é a Seleção Brasileira, vencer não basta. No Brasil, a Seleção é vista como uma espécie de patrimônio mundial do futebol bem jogado. Tem a obrigação de vencer sempre, atuar bem e, quando perde, só aconteceu porque tropeçou em seus próprios erros. Poucas vezes se reconhece a qualidade do outro lado. “Perdemos para nós mesmos” é quase um mantra, apesar de representar um evidente equívoco.
Nos últimos tempos, diante da entressafra de talentos que o futebol brasileiro atravessa e sem grandes resultados, o público se afastou. Hoje, o desdém foi adotado como uma prática natural. Nem a proximidade de uma Copa do Mundo em nosso território parece fazer diferença. Afinal, as tão desejadas vitórias acachapantes rarearam, o País não elege o melhor jogador do mundo desde 2007 e nossa maior esperança é um jovem de 20 anos que ainda tem um longo caminho a percorrer.
Obviamente, a situação pode se reverter em caso de bons resultados. E o primeiro passo para a Seleção trazer sua torcida para perto é faturar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres. Talento para essa missão não falta, embora o time ainda esteja em formação. Caso essa conquista se realize, tenha a certeza de que a distância para os fãs diminuirá. Afinal, o que não falta é gente buscando uma vitória para chamar de sua.     
Os rivais.
No dia 6 de julho, Mano Menezes convocará os 18 atletas que defenderão o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres. Salvo por alguma lesão, dificilmente a lista trará nomes diferentes dos que foram vistos nos quatro amistosos preparatórios. Todavia, seguindo recomendação do COI, o técnico reduziu a lista inicial de 52 nomes para apenas 35, onde as notas positivas são as presenças do volante Fernando e do atacante André, ambos atravessando grande fase atuando por Grêmio e Atlético Mineiro.   
A CBF anunciou ainda amistosos com África do Sul e China nos dias 7 e 11 de setembro. A primeira partida marca o retorno da Seleção ao Morumbi e significa a reaproximação da entidade com o São Paulo, clube cuja diretoria havia entrado em conflito com o ex-presidente Ricardo Teixeira após desavenças políticas que culminaram na exclusão do Morumbi da lista de estádios da Copa. O compromisso diante dos chineses ainda não teve seu estádio definido.
De olho na Copa:
Junho também marcou a sanção da Lei Geral da Copa pela presidenta Dilma Rousseff. No último dia 5, Dilma sancionou, com quatro vetos, a lei que define as regras estabelecidas pelo governo federal para a realização do Mundial de 2014. No entanto, a questão mais polêmica que dizia respeito à liberação de bebidas alcoólicas durante o evento teve seu texto aprovado.     
Confira abaixo, o andamento das obras nas doze sedes:         
Dentro do previsto: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador;  
Apresentando atrasos: Cuiabá, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo;
Situação preocupante: Curitiba, Manaus e Natal.

sábado, 16 de junho de 2012

Revolucionários, mas nem tanto

Há alguns anos, Zagallo disse que o esquema tático do futuro era o 4-6-0. Como não poderia deixar de ser, a imprensa caiu matando em cima do Velho Lobo por enxergar nessa declaração uma postura defensivista do ex-técnico. Na verdade, assim como o “gol é apenas um detalhe” de Parreira, essa foi mais uma polêmica fabricada num país que ignora debates mais elaborados. O que Zagallo queria dizer é que o futebol caminhava para a extinção dos atacantes fixos com o trabalho ofensivo sendo feito pelos homens que chegam de trás com a bola dominada.
O tempo passou e em parte deu razão a Zagallo. O sistema mais usado no mundo provavelmente é o 4-5-1 (4-2-3-1) onde um único atacante é referência para o restante do time. Todavia, apesar de provavelmente desconhecer a citada previsão, o técnico da Espanha Vicente del Bosque resolveu aplicar o módulo na partida de estreia na Eurocopa diante da Itália. Na ocasião, o escolhido para cumprir a função de “falso 9” foi Cesc Fàbregas, meia improvisado na posição algumas vezes por Pep Guardiola no Barcelona. Fábregas, ótimo jogador e afeito à função nos tempos de La Masia, tentou cumprir o papel, até marcou gol de empate, mas era visível que se sentia pouco à vontade no papel.
A campeã mundial, como sempre, teve mais posse de bola e maior domínio territorial, mas faltava profundidade. O time tocava, tocava e, na maioria das vezes, esbarrava na defesa italiana. Não por acaso, a experiência só durou uma partida e na sequência contra a Irlanda lá estava Fernando Torres no onze inicial. Um centroavante de fato que mesmo longe de sua melhor forma marcou dois gols contra a Irlanda. Naquele momento, Torres era a referência para um meio-campo capaz de criar diversas oportunidades de gol por jogo. Muitas vezes, a simples presença de um jogador mais fixo naquele espaço é o suficiente para que haja a conclusão satisfatória de um lance. Possivelmente, alguém vai se lembrar de Messi e seu caminhão de gols pelo Barcelona mesmo sem atuar mais fixo entre os zagueiros. Porém, como dizem, toda regra tem a sua exceção.       
Foto: AFP

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Pontos e Vírgulas

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.
Nós, os nerds
É triste constatar, mas o futebol se tornou um mero entretenimento no Brasil. Pelo menos é o que pensa uma grande parcela da imprensa esportiva de nosso país. Para estes, a análise dos jogos, a preocupação com a tática e a informação estão em segundo plano. Nesse contexto, mais vale a pilhéria, a confusão, a polêmica e a especulação. Relevância? Para quê? Compromisso com a verdade? Bobagem. Vale tudo pela audiência e pelos cliques a mais.
Nesse contexto, quem se preocupa com a informação correta, com as análises mais profundas e quer distância do oba-oba instalado é tachado de nerd, mal-humorado e outros adjetivos pouco elogiosos. Como se fosse impossível levar o futebol a sério sem se tornar um idiota bitolado.
No último sábado, tive um nítido exemplo de como as coisas funcionam por aqui. Diante da má atuação do holandês Robin Van Persie na partida contra a Dinamarca pela 1ª rodada da Euro 2012, André Rizek, comentarista e apresentador do Sportv, desencavou a esfalfada comparação entre o atacante do Arsenal – artilheiro da última edição da Premier League com 30 gols – e o gremista André Lima, centroavante voluntarioso, mas limitado. Uma piada que, além de gasta, acaba deixando no ar que o comandado de Bert van Marwijk é um jogador superestimado por quem acompanha o campeonato inglês, algo que está longe de ser verdade para quem não é um espectador esporádico de futebol internacional. Tal episódio gerou um rápido diálogo no Twitter.

Ao contrário do que possa parecer, o pequeno debate não me irritou. Não tenho idade e nem paciência para discutir na internet. Esse momento só serviu para me dar mais uma amostra de como são vistas as pessoas que levam futebol a sério e não enxergam nesse esporte uma simples forma de entretenimento como um programa de auditório qualquer. A esses olhos, somos nerds que se importam demais com algo desimportante. Mas, se essa é a definição de um nerd do futebol, assumo esse rótulo com orgulho.

domingo, 10 de junho de 2012

O saldo dos amistosos

Após as partidas diante de Dinamarca, Estados Unidos, México e Argentina, o técnico da Seleção Brasileira, Mano Menezes, tem muito no que pensar até o início dos Jogos Olímpicos de Londres. Se por um lado o estilo agressivo e ofensivo agradou, a vulnerabilidade defensiva causou apreensão. E como a equipe não havia treinado dessa forma anteriormente, o tempo para adaptação a essa nova concepção pode ser muito curto.
De qualquer modo, os amistosos também serviram para afirmar alguns nomes, enfraquecer outros e constatar a manutenção de alguns. Dividindo os atletas de acordo com o momento atual é possível separá-los em três categorias:
Subiram:
- Rafael Cabral. Goleiro abaixo dos 23 anos, Rafael se mostrou seguro quando exigido e não cometeu nenhuma falha grave. Praticamente dispensou a necessidade de convocar Jefferson.
- Rafael Silva. Chamado às pressas por causa da lesão de Daniel Alves, o lateral do Manchester United ganhou espaço após as fracas atuações de Danilo no lado direito.
- Sandro e Rômulo. Aprovados como volantes, só precisam acertar o posicionamento à frente da defesa. Questão de treino.
- Oscar. Certamente foi quem mais se beneficiou no período. Mais dinâmico do que Ganso, saiu da série de amistosos como provável titular em Londres. A seu favor, também conta o fato de poder atuar ao lado do meia santista, jogando mais pelos flancos.
Na mesma:
- Thiago Silva, David Luiz e Marcelo. Salvo algum problema físico, os três devem ser os jogadores acima dos 23 anos. Inclusive, o milanista foi confirmado por Mano como o capitão do time nos Jogos. Pouco testado, David Luiz ficaria com uma das vagas pelas más apresentações da dupla de zagueiros sub-23 formada por Bruno Uvini e Juan Jesus. Quanto a Marcelo, preocupa o comportamento intempestivo do lateral, mas nada que uma boa conversa não possa resolver.
- Hulk. Após a excelente partida contra a Dinamarca, o atacante do Porto não conseguiu manter o nível. Extremamente individualista, irritou os companheiros em alguns lances. Além disso, as carências defensivas devem pesar nas escolhas do técnico pelo uso de todos os reforços na defesa.
- Neymar. Continua sendo o principal nome da Seleção, mas não deu o salto de qualidade definitivo que se espera. Muito preso ao lado esquerdo num primeiro momento e mais solto contra a Argentina, ainda não descobriu seu melhor espaço na Seleção.
- Jefferson (acima de 23 anos), Neto, Alex Sandro, Casemiro, Giuliano, Wellington Nem e Alexandre Pato. Pouco utilizados, não ganharam e nem perderam pontos dentro de campo. Espera-se muito mais de Pato, mas como se recuperava de lesão a cobrança tende a ser menor.    
Desceram:
- Danilo. Sua deficiência na marcação foi escancarada nos amistosos e o apoio ao ataque também não foi dos melhores. Tem o atenuante de ter jogado pouco após a lesão que sofreu.
- Bruno Uvini e Juan Jesus. Preocupavam quando eram apenas os zagueiros da Seleção sub-20 e causam pavor no time olímpico. Suas atuações fizeram aumentar a necessidade por dois jogadores acima dos 23 anos na zaga.
- Lucas Moura. Uma das grandes promessas do futebol brasileiro, ainda não deslanchou. Teve poucas oportunidades nos amistosos e não as agarrou. Todavia, a necessidade defensiva deve abrir caminho para a sua titularidade.
- Leandro Damião. O que era certeza se transformou em dúvida. Desconectado do restante do time e sem conseguir mostrar seu faro goleador, seu melhor momento foi o pivô para o gol de Oscar contra a Argentina.
- Daniel Alves e Paulo Henrique Ganso. Infelizmente, suas lesões acabaram provocando perda de espaço no grupo. Por disputar uma das vagas acima da idade limite, o lateral não deve ir aos Jogos. Ganso provavelmente estará presente, mas terá que convencer Mano de que vale a pena acomodá-lo ao lado de Oscar.
E você, o que achou dos amistosos?      
Imagem: Agência Estado, IG e UOL.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Question – Premiação

Conforme informado anteriormente, o vencedor da quinta edição do Question tinha o direito de escolher o livro sobre futebol que gostaria de receber do blog “Além das Quatro Linhas” a partir de uma lista pré-determinada ou indicar outra obra de sua preferência.
Seguindo a segunda opção, o campeão Luciano Fitochi escolheu “Santos 100 anos, 100 jogos, 100 ídolos” de Celso Unzelte e Odir Cunha, livro que, como o nome já diz, homenageia o centenário do alvinegro praiano.
Na oportunidade, agradeço a todos que participaram desta série e reitero o convite para a sexta edição.
Grande abraço!

quinta-feira, 7 de junho de 2012

À Parreira

Tornou-se lugar comum dizer que Dunga não deixou legado para seu sucessor na Seleção Brasileira. Não que seja uma mentira completa, mas esse comentário ignora o simples fato de que nenhum técnico se preocupa com isso. Historicamente, o foco sempre foi montar um time que finalize o ciclo quando a Copa do Mundo chegar. E agora com Mano Menezes não é diferente.
A chamada para o post abaixo gerou um interessante debate no Facebook. Nesse espaço, conversamos sobre como Mano Menezes promoveu a transição entre o grupo que caiu nas quartas-de-final do último Mundial e o atual. Muitos concordam que o rompimento com a geração e a mentalidade do grupo anterior foi feita de forma correta. Sempre discordei dessa tese e agora tento explicar por quê.
Antes de tudo, é preciso recordar em que país estamos. No Brasil, tanto imprensa quanto torcida não se importam com o estágio em que o trabalho se encontra. Perdeu, é crítica. Ainda mais quando se trata da Seleção. Deste modo, até para evitar uma pressão desnecessária, o melhor caminho talvez tenha sido traçado por Carlos Alberto Parreira em sua trajetória entre 2002 e 2006 à frente do Brasil. Logicamente, alguém vai se lembrar da campanha na Copa da Alemanha, mas o fracasso está muito mais ligado ao descompromisso de alguns jogadores do que à maneira como Parreira conduziu o processo.   
Após a saída de Luiz Felipe Scolari, Parreira não excluiu o trabalho anterior apressadamente. Apesar da concepção de jogo diferente, o técnico manteve os principais nomes do pentacampeonato e o primeiro passo foi mudar o quase improvisado 3-4-2-1 de Felipão para um 4-3-1-2 mais funcional. Parreira também não efetivou os jovens Robinho e Kaká automaticamente, preferindo promover os dois aos poucos. Com isso, manteve o Brasil sempre competitivo durante os quatro anos de seu trabalho. Venceu as Eliminatórias, a Copa América (com uma equipe B), a Copa das Confederações e ainda montou um time que praticava um futebol bem próximo do que nós brasileiros imaginamos como ideal.
Mano Menezes procurou outro caminho. Sob o discurso da proposição de jogo, da retomada do protagonismo e amparado pela ideia de que o Brasil produz jogadores em escala suficiente para adoção de qualquer filosofia, Mano deletou tudo o que Dunga havia feito e tentou partir do zero. Entretanto, o ex-treinador do Corinthians descobriu em pouco tempo que a situação não era exatamente como ele imaginava. Em primeiro lugar, até pela mentalidade de nossos treinadores, formamos durante anos jogadores muito mais de força e potência do que troca de passes e cadência. Em média, os principais nomes produzidos nos últimos anos são atletas de velocidade e profundidade, muito mais voltados para o contragolpe do que para uma “cadência espanhola”. Aqui, os meio-campistas modernos, capazes de marcar, armar e também atacar dão lugar a volantes marcadores ou a meias que só se ocupam da fase ofensiva, como se fosse impossível exercer mais de uma função.
Por esse atropelo nas decisões, Mano passa a impressão de que fez muito pouco em dois anos de trabalho. Só agora, com a corda colocada em seu pescoço pelo presidente da CBF, resolveu apostar tudo num ousado sistema de marcação adiantada e de ocupação do campo adversário. Como a Seleção passou tanto tempo num limbo tático, o prazo é curto para ajustar o time a essa nova mentalidade. Pode dar certo, mas um fracasso nos Jogos Olímpicos deve colocar fim à trajetória do técnico. Caso isso aconteça, vão dizer que a demissão foi provocada pela forte cobrança por resultados tão típica de nosso país. Particularmente, ficarei com o equívoco do descarte de todo o trabalho anterior, algo que o bom senso de Parreira certamente não recomendaria.    
Imagem: Globo Esporte

domingo, 3 de junho de 2012

Sem euforia antes, sem desespero agora

O México fez a lição de casa. Contra o novo e super ofensivo Brasil, o selecionado tricolor fechou-se na defesa e explorou os generosos espaços concedidos pela retaguarda verde-amarela. Mesmo assim, a derrota por 2 a 0 não deveria ser vista como alarmante.
Antes de tudo, é preciso ter em vista que o Brasil entrou em campo com seu time olímpico enfrentando a equipe principal do México. Em condições normais, o estabanado Juan dificilmente teria lugar na zaga central da Seleção. Além disso, os gols sofridos saíram em lances fortuitos e num momento em que os comandados de Mano Menezes estavam bem na partida.
Por outro lado, a derrota serviu para expor alguns problemas. O principal deles é como lidar com a vulnerabilidade do setor direito da defesa, onde Danilo vem oferecendo generosos espaços aos atacantes adversários. Talvez seja o momento de testar Rafael Silva na posição. Outra questão a ser observada está no comando do ataque. Até este momento, nem Damião, nem Alexandre Pato se mostraram capazes de garantir os gols que a Seleção precisa. Por último, mas não menos importante, tem sido o aprisionamento de Neymar do lado esquerdo do campo. Se existe um jogador neste grupo capaz de desequilibrar uma partida, este é o santista. Todavia, atuando tão aberto e tão distante do gol, Neymar tem sempre uma barreira de marcadores pela frente.
Deste modo, o próximo amistoso contra a Argentina acontecerá num cenário mais tenso do que se imaginava. Completo, o ataque albiceleste deve criar muitas dificuldades para uma defesa que mostrou insegura em alguns momentos. Em caso de nova derrota, muitos irão soar as trombetas do apocalipse e dizer que esta versão da Seleção Brasileira é incapaz de conquistar o ouro olímpico, o que seria uma análise precipitada. Tão precipitada quanto a euforia que começou a se instalar após as vitórias sobre Dinamarca e Estada Unidos.    
Foto: Mowa Press.

sábado, 2 de junho de 2012

Várzea eterna

Ontem, um grande amigo e rubro-negro fanático me cobrou um post sobre a saída de Ronaldinho Gaúcho do Flamengo. Depois de tudo o que já foi dito em todas as mídias possíveis, é difícil escrever algo que não soe repetido. Deste modo, resolvi apenas registrar minha opinião sobre o assunto e constatar que o desfecho dessa história não me surpreendeu em nenhum momento.
Quem acompanha o dia-a-dia do Flamengo percebia, há meses, que a trajetória do meia-atacante na Gávea não seria duradoura. A começar pelo atraso no pagamento do direito de imagem, acordo não honrado pela Traffic e que o clube assumiu sem ter condições de fazê-lo. Se o seu irmão e empresário, Roberto Assis, promoveu um leilão público pelo jogador no início de 2011, era de se imaginar que um atraso de tantos meses não seria tolerado. Da parte da agremiação, os atrasos para os treinos, a vida boêmia, as aparições sem condições para treinar, o mau relacionamento com alguns companheiros e, sobretudo, o pouco retorno técnico eram pistas de que o “casamento” havia chegado ao fim.
Então, volto minha atenção para os dirigentes. Durante os meses em que Ronaldinho esteve no Flamengo não faltaram episódios que davam razão para um rompimento por justa causa. O pior deles talvez tenha acontecido em janeiro com o caso da mulher presente no hotel onde a delegação rubro-negra na concentrava em Londrina. Naquele momento, Vanderlei Luxemburgo, ex-técnico do time, fez questão de expor ao público o que estava acontecendo, mas a decisão de diretoria foi a de passar a mão da cabeça do gaúcho e demitir o treinador – que sofria um desgaste com o grupo, é verdade – na primeira oportunidade. Algo que, vindo da atual diretoria, também não surpreende.
Mesmo antes de sua gestão chegar ao fim, a presidente Patrícia Amorim se junta a outros cartolas de passagem tão desastrosa quanto. A possível dívida de R$ 40 milhões com seu ex-camisa 10 é só mais um exemplo de como o clube de maior torcida no País é dirigido neste momento. O patético apelo aos torcedores, pedindo união contra Ronaldinho é de uma hipocrisia poucas vezes vista. É uma tentativa torpe de colocar a massa contra o (ex-) atleta e aliviar a própria barra. Muitos cairão nessa conversa e odiarão Ronaldinho como faz a torcida do Grêmio. Uma contratação de impacto para tentar acalmar os ânimos provavelmente fará parte desse roteiro.
Por outro lado, como mostra a história, a tendência é que depois dessa tormenta, a poeira baixe e as coisas caminhem um pouco melhor. A ausência de uma figura cheia de regalias e que atrai tantos holofotes pode fazer com que o grupo de jogadores consiga o mínimo de foco no Campeonato Brasileiro. Mas que ninguém se engane. A pior mazela do Flamengo continua na Gávea. Enquanto o clube for dirigido de maneira oportunista e amadora, não há perspectiva de melhora. E quando se olha para o passado, não há razão para grandes esperanças.  
Imagem: Agência Estado.