sábado, 16 de junho de 2012

Revolucionários, mas nem tanto

Há alguns anos, Zagallo disse que o esquema tático do futuro era o 4-6-0. Como não poderia deixar de ser, a imprensa caiu matando em cima do Velho Lobo por enxergar nessa declaração uma postura defensivista do ex-técnico. Na verdade, assim como o “gol é apenas um detalhe” de Parreira, essa foi mais uma polêmica fabricada num país que ignora debates mais elaborados. O que Zagallo queria dizer é que o futebol caminhava para a extinção dos atacantes fixos com o trabalho ofensivo sendo feito pelos homens que chegam de trás com a bola dominada.
O tempo passou e em parte deu razão a Zagallo. O sistema mais usado no mundo provavelmente é o 4-5-1 (4-2-3-1) onde um único atacante é referência para o restante do time. Todavia, apesar de provavelmente desconhecer a citada previsão, o técnico da Espanha Vicente del Bosque resolveu aplicar o módulo na partida de estreia na Eurocopa diante da Itália. Na ocasião, o escolhido para cumprir a função de “falso 9” foi Cesc Fàbregas, meia improvisado na posição algumas vezes por Pep Guardiola no Barcelona. Fábregas, ótimo jogador e afeito à função nos tempos de La Masia, tentou cumprir o papel, até marcou gol de empate, mas era visível que se sentia pouco à vontade no papel.
A campeã mundial, como sempre, teve mais posse de bola e maior domínio territorial, mas faltava profundidade. O time tocava, tocava e, na maioria das vezes, esbarrava na defesa italiana. Não por acaso, a experiência só durou uma partida e na sequência contra a Irlanda lá estava Fernando Torres no onze inicial. Um centroavante de fato que mesmo longe de sua melhor forma marcou dois gols contra a Irlanda. Naquele momento, Torres era a referência para um meio-campo capaz de criar diversas oportunidades de gol por jogo. Muitas vezes, a simples presença de um jogador mais fixo naquele espaço é o suficiente para que haja a conclusão satisfatória de um lance. Possivelmente, alguém vai se lembrar de Messi e seu caminhão de gols pelo Barcelona mesmo sem atuar mais fixo entre os zagueiros. Porém, como dizem, toda regra tem a sua exceção.       
Foto: AFP

12 comentários:

João Paulo disse...

Eu sempre vou preferir um "9" de oficio... se Fernando Torres, voltar a ser aquele, sem ser "só" toque e posse de bola não tem ninguém que segure a Espanha.

Thiago Ribeiro disse...

o problema, caro Michel, não é a ausência de um 9, mas os pontas. No Barcelona, o seu auge tinha Messi saindo da área e a entrada dos pontas dentro da mesma.

não vou fazer uma pesquisa pra dar a fonte agora, mas certa vez li no Zonal Marking que o falso nove só funciona com um falos dez, por isso o Arsenal de Persie e Fábregas funcionava, o centro-avante saía da área pra entrada do meia.

Este é o maior problema hj da Espanha, problema inclusive previsto pelo próprio Zonal Marking: sem pontas de ofício com Iniesta e David Silva.

Michel Costa disse...

Realmente, João Paulo. Com Torres em sua melhor forma, a Espanha seria ainda mais temível.
Felizmente para os adversários, nenhum time é perfeito... hehe.

Michel Costa disse...

Então temos dois problemas, Thiago. Sem um 9 e sem pontas capazes de abrir o jogo, a Espanha fica refém do próprio toque de bola, pois não conseguirá abrir espaços contra grandes defesas. Como Del Bosque parece ter percebido esse problema, duvido muito que o 4-6-0 seja usado contra a Croácia amanhã.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que tudo depende das peças que você tem; se você têm muitos meias de habilidade, jogadores que atuam pelos lados do campo e tem alguma carência no ataque, você pode jogar assim. Mas mesmo nessa situação, você têm de buscar alguma alternativa para ter uma referência na área; no meu modo de entender, em um dia que você não está bem em campo, o adversário, caso você não tenha alguém para prender a zaga rival, vai te pressionar mais. É algo interessante você preencher o meio e sair em conjunto para o ataque, mas uma alternativa mais tradicional na área é sempre preciso.

Douglas Muniz disse...

Me lembro o que disse o Paulo Calçade quando o Corinthians no ultimo Brasileirão não jogou com o Liedson, ou mesmo quando ele era substituído. Que ao Corinthians faltava profundidade, referência ofensiva e com um repertório até menor de jogadas. Acho que é importante demais uma referência, o que Zagallo disse tem sentido, mas creio que seja muito dificil que algum técnico em algum outro time (Barcelona é exceção) que não trabalhe com uma referência, mesmo que ela tenha mobilidade, circule pelo centro do ataque...

O que te parece Michel?

Abraços!!!

Michel Costa disse...

De acordo, Alexandre. Aliás, de memória, os únicos grandes times que não tiveram uma referência na área foram o São Paulo de Telê e o atual Barcelona. Mesmo assim, ambos tinham a chegada de alguém capaz de marcar os gols vindo de trás. No caso, Raí e Messi.

Michel Costa disse...

Acho que tudo tem a ver com a circunstâncias, Douglas. Não é impossível jogar bem sem uma referência na área, mas, para mim, é bem mais fácil atuar com essa figura em campo. E não apenas como opção para quem vem de trás como também para ser o homem capaz de aproveitar qualquer bola na área ou nos arredores dela. Muitas vezes, num jogo truncado, uma única chance nos pés certos pode fazer a diferença no placar.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Mesmo o SP não jogava com o Raí como esse cara que chegava tanto na área no começo; em 92 o Palhinha jogava mais no ataque, só em 93 o Raí atuou mais por ali, sempre com a presença do Muller como o cara mais avançado, mas pelo lado esquerdo para puxar os contra-ataques, além do Cafu como desafogo pelo lado direito; em 91, ano que o time venceu o Brasileiro, jogou muitas vezes como 9 autêntico o Eliel, que não atuou no ano seguinte.

Michel Costa disse...

Verdade, Alexandre. O SPFC não tinha a figura exata do falso 9. Porém, também não tinha um CF fixo, pois Muller caía muito pela ponta e Palhinha (que jogava demais à época) voltava muito para buscar jogo. Assim, nenhum deles poderia ser definido como um 9 de fato, daí a referência.

Danilo disse...

A Espanha não precisa de 6 meio-campos. Xabi Alonso, Busquets, Silva, Xavi e Iniesta já está de bom tamanho. Del Bosque deveria fazer o melhor. Pois foi desse jeito que foi campeão mundial, deixando o time na mesma forma do Barça. Já que não tem Messi para fazer o Falso-9, coloca o Torres ou Llorente. Jogadores oportunistas e impiedosos, transformando a chance em gol sem dó.

Michel Costa disse...

É o que eu penso, Danilo. Aliás, ontem, o Claudio Carsughi definiu bem o estilo espanhol ao classificá-lo como preciosista. E é isso mesmo o que parece. Não por acaso, a Fúria teve o ataque menos positivo de um campeão do mundo.