terça-feira, 26 de junho de 2012

Não se deixe enganar

Neste momento, o Cruzeiro lidera o Campeonato Brasileiro e com essa colocação voltou à tona a velha discussão sobre a qualidade de Celso Roth como treinador. Antes de tudo, é preciso deixar de lado a ótica maniqueísta que rege as análises futebolísticas no Brasil para não elevar o comandante da Raposa a um nível onde ele nunca esteve, mas também não deixar de reconhecer os méritos de quem construiu uma carreira pautada por trabalhos dignos.
Roth, assim como Muricy Ramalho e outros, faz parte de uma geração de técnicos que se moldaram nas décadas de 1990 e 2000, onde a marcação tornou-se prioridade em detrimento do futebol. Era em que o meio-campo se esvaziou de criatividade, em que os alas se tornaram um amálgama dos laterais e dos pontas e quando os três zagueiros eram marca registrada de nossas equipes. Atualmente, mesmo com o retorno da linha de quatro na defesa e de sistemas que emulam o que o restante do mundo faz, ainda estão nítidos os conceitos táticos desse passado recente.
Os melhores exemplos de como Celso Roth trabalha foram dados pelo jornalista e ex-setorista de Internacional e Grêmio, Eduardo Cecconi. No Inter, foram comuns os comentários de que os treinos eram todos voltados para a marcação e para a chamada bola parada. Para o ataque, pouca atenção. No rival Tricolor, uma história de sua última passagem é ainda mais reveladora. Após assumir o time, o técnico reuniu os titulares e, apontado para cada um dos reservas, instituiu uma anacrônica marcação homem a homem.
Obviamente, isso não quer dizer que os métodos de Roth não podem dar certo. Podem, ainda mais num país onde o esporte está tão atrasado em relação ao que estamos vendo nos melhores times da Europa. No entanto, quando cobramos um futebol mais bem jogado, quando pedimos o retorno dos pensadores ao meio-campo, quando falamos em retomada do protagonismo da Seleção, estamos indo na contramão de tudo o que Roth representa. Afinal, do contrário, estaremos apenas confirmando nosso eterno vínculo com o resultado, uma cultura que nos levou ao estágio em que o futebol brasileiro hoje se encontra.     
Foto: André Casado / Globo Esporte

8 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

O Roth é monotemático, assim como outros de sua geração; quando precisa de vencer uma partida decisiva, furar um sistema tático semelhante ao seu e impor a grandeza do time que dirige, seus times costumam ter dificuldades; além disso falta ainda mais talento ao time do Cruzeiro, que até melhorou com as contratações, mas ainda penso ser pouco para brigar diretamente pelo título.

Michel Costa disse...

Também considero o elenco do Cruzeiro apenas mediano. O W.Paulista vem jogando bem, mas sabemos que ele não é nenhum craque. Já Montillo, com liberdade, pode fazer a diferença para a Raposa. Não por acaso, Roth já escalou seu exército de volantes para liberar o argentino de funções mais defensivas.

minicritico disse...

Roth é mestre em tirar leite de pedra, gerar expectativas incompatíveis com a real capacidade dos seus elencos (normalmente medianos) e depois naturalmente cair na tabela, consequentemente sendo chamado de "cavalo paraguaio". Foi assim com o Inter em 1997, o Palmeiras em 2001, o Galo em 2003 e 2009, com o Vasco em 2007 e com o Grêmio em 2008.

Danilo disse...

Celso é um treinador comum. Arma o time com vários jogadores que apenas marca e sem criatividade no ataque, dependendo da individualidade do Motillo. Vários treinadores brasileiro fazem isso. Mas, a diferença é o resultado favorável. Infelizmente tem jornalista que analisa apenas o resultado. Enquanto isso, nosso futebol continua fixo nos conceitos da década de 90.

Danilo disse...

O meu comentário não chega a ser uma crítica ao Celso Roth. Ele faz o que todo os treinadores brasileiros fazem, com êxito que poucos conseguem com times medianos. Minha crítica vai aos jornalista que fazem elogios exagerados por causa, apenas, dos resultados. Sem contextualizar o futebol praticado por esse time.

Danilo disse...

O texto do Mauro Cezar Pereira, na minha opinião, é lamentável. Colocou Tite e Celso Roth no mesmo saco. Apenas por terem a semelhança de times com forte marcação. Mas o time de Tite nenhum jogador cumpre apenas uma função. É coletivo. É moderno. Faz bem para futebol brasileiro. Eu quero mais igual ao dele.

Michel Costa disse...

Acho que a queda dos times de Roth também podem ter uma outra explicação, Pedro. Não sei se ele ainda utiliza isso, mas, há alguns anos, a preparação de seus grupos era voltada para o tiro curto, justamente para que o time dispare na frente no começo e depois administre a folga. No entanto, obviamente, faltam pernas no fim e o time cai de produção. Ou seja, é uma tática esperta, mas só para quem quer se garantir nos primeiros meses de emprego.

Michel Costa disse...

Também não vejo muita similaridade entre Tite e Roth, Danilo. Apesar de ambos serem gaúchos e nascidos na mesma cidade (!), Tite tem uma concepção de futebol mais moderna do que Roth. Além disso, enquanto esse último aprendeu o que sabe com Felipão, o primeiro não só bebeu de outras fontes como continua buscando aprimoramento, inclusive fora do Brasil.