sexta-feira, 22 de junho de 2012

Contagem Regressiva: Junho de 2012

Para um fanático por futebol, Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo. É um período para se tirar férias do trabalho e só sair de casa para tratar de assuntos estritamente necessários. São semanas mágicas, onde um jogador consegue deixar o mundo mortal para fazer parte do panteão dos Deuses da Bola e, de quebra, transformar um país inteiro numa grande festa. É uma época para se rir, chorar, se emocionar. Enfim, é um momento que será guardado para sempre em nossos corações...
Brasileiro gosta mesmo é de vencer
Quando Ayrton Senna colidiu sua Williams na fatídica curva Tamburello, uma parcela dos sonhos de muitos brasileiros se foi junto com o piloto. Sonhos de vitórias, conquistas e, sobretudo, de momentos felizes. Para muitos, os triunfos Senna representavam uma forma de fuga dos problemas do cotidiano, a materialização de um sucesso que provavelmente nunca teriam em suas vidas.
Seguindo a mesma linha, podemos lembrar o “surto” de tênis durante o auge de Gustavo Kuerten, o Guga. Naquela época, pessoas que nunca se interessaram pelo esporte deixaram de lado seus afazeres para acompanhar os jogos do Manezinho da Ilha. E o que dizer do “boom” que o vôlei brasileiro sofreu após a conquista da medalha de ouro nos Jogos de Barcelona em 1992? Não por acaso, a manutenção de grandes gerações do vôlei estabeleceu um público fiel e que sempre se renova. De certo modo, as aspirações dessas pessoas seguem o mesmo padrão: Sentir como sua a vitória de terceiros. Isso é o que move o torcedor.
Logicamente, no futebol não é diferente. No caso dos clubes, a necessidade imediata está na vitória sobre os adversários. Como essa vitória chega está num absoluto segundo plano, uma vez que o importante é comemorar e reunir argumentos para zoar os torcedores rivais. No entanto, quando o assunto é a Seleção Brasileira, vencer não basta. No Brasil, a Seleção é vista como uma espécie de patrimônio mundial do futebol bem jogado. Tem a obrigação de vencer sempre, atuar bem e, quando perde, só aconteceu porque tropeçou em seus próprios erros. Poucas vezes se reconhece a qualidade do outro lado. “Perdemos para nós mesmos” é quase um mantra, apesar de representar um evidente equívoco.
Nos últimos tempos, diante da entressafra de talentos que o futebol brasileiro atravessa e sem grandes resultados, o público se afastou. Hoje, o desdém foi adotado como uma prática natural. Nem a proximidade de uma Copa do Mundo em nosso território parece fazer diferença. Afinal, as tão desejadas vitórias acachapantes rarearam, o País não elege o melhor jogador do mundo desde 2007 e nossa maior esperança é um jovem de 20 anos que ainda tem um longo caminho a percorrer.
Obviamente, a situação pode se reverter em caso de bons resultados. E o primeiro passo para a Seleção trazer sua torcida para perto é faturar a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Londres. Talento para essa missão não falta, embora o time ainda esteja em formação. Caso essa conquista se realize, tenha a certeza de que a distância para os fãs diminuirá. Afinal, o que não falta é gente buscando uma vitória para chamar de sua.     
Os rivais.
No dia 6 de julho, Mano Menezes convocará os 18 atletas que defenderão o Brasil nos Jogos Olímpicos de Londres. Salvo por alguma lesão, dificilmente a lista trará nomes diferentes dos que foram vistos nos quatro amistosos preparatórios. Todavia, seguindo recomendação do COI, o técnico reduziu a lista inicial de 52 nomes para apenas 35, onde as notas positivas são as presenças do volante Fernando e do atacante André, ambos atravessando grande fase atuando por Grêmio e Atlético Mineiro.   
A CBF anunciou ainda amistosos com África do Sul e China nos dias 7 e 11 de setembro. A primeira partida marca o retorno da Seleção ao Morumbi e significa a reaproximação da entidade com o São Paulo, clube cuja diretoria havia entrado em conflito com o ex-presidente Ricardo Teixeira após desavenças políticas que culminaram na exclusão do Morumbi da lista de estádios da Copa. O compromisso diante dos chineses ainda não teve seu estádio definido.
De olho na Copa:
Junho também marcou a sanção da Lei Geral da Copa pela presidenta Dilma Rousseff. No último dia 5, Dilma sancionou, com quatro vetos, a lei que define as regras estabelecidas pelo governo federal para a realização do Mundial de 2014. No entanto, a questão mais polêmica que dizia respeito à liberação de bebidas alcoólicas durante o evento teve seu texto aprovado.     
Confira abaixo, o andamento das obras nas doze sedes:         
Dentro do previsto: Belo Horizonte, Brasília, Fortaleza e Salvador;  
Apresentando atrasos: Cuiabá, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo;
Situação preocupante: Curitiba, Manaus e Natal.

12 comentários:

Danilo disse...

Acho, que o Problema não é o torcedor que gosta apenas da seleção e times quando vencem. Problema é profissionais da imprensa e de quem trabalha nos clubes de futebol avaliarem o técnico usando critérios desses torcedores. Acho um atraso profissionais de diretorias de clubes brasileiros acatarem o que os líderes de torcidas organizada pensam. Enquanto isso, vemos clubes da Inglaterra, Alemanha, Espanha e Portugal acatando ordem de teoristas e analistas com profundo conhecimento do futebol e de seres humanos. Além de jornalistas que fazem comédia e tem seus cargos garantidos pela sua competência, não por ter uma história na emissora.

Danilo disse...

*que não fazem comédia.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Texto ótimo Michel! O blog Esporte Fino já tinha abordado esse tema há alguns anos: http://www.esportefino.net/brasileiro-gosta-mesmo-de-esporte/ Não me esqueço de ver em 2004 uma TV na rua da cidade onde eu morava, com pelo menos 100 pessoas paradas vendo ginástica artística, só porque a Daiane dos Santos tinha chance de medalha de ouro e, quando ela perdeu muita gente (inclusive na mídia) a chamou de "amarelona" quando ela não ficou entre as 3 primeiras; a cultura do futebol é tão marcada no país que ela é levada para os outros esportes: "ganhou é gênio, perdeu não vale nada" e a falta de apoio da TV aberta à outros esportes é visível: a Record por exemplo, teria a chance de dar espaço a outros esportes por transmitir Olimpíada mas os eventos que têm de judô, tênis de mesa ela joga para a Record News; na Olimpíada mesmo só vai dar espaço a modalidades em que o Brasil tem chance de ouro certamente. No futebol, além desse maniqueísmo, temos o imediatismo, que eleva jogadores que ainda não são craques a um patamar muito alto ainda sem terem mostrado consistência para tal.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Sobre a Lei Geral da Copa: A mídia pega uma parte (liberação de bebidas) para esconder o todo (falta de estrutura das cidades, transporte público caótico, problemas dos aeroportos, etc). Discute-se perfumaria e não se fala do necessário; até parece que a Budweiser não iria vender suas cervas por aqui...

O Chile não jogará mais com o Brasil; essa reaproximação do SP com a CBF mostra que não existem santinhos no nosso futebol, nem querubins. Se o JJ tivesse vergonha na cara não liberaria as dependências do clube para uma entidade que excluiu o estádio do SP da Copa de uma forma tão vergonhosa como foi feita; mas como hoje são todos amiguinhos...

Michel Costa disse...

Acredito que uma coisa é reflexo da outra, Danilo. Parte da imprensa cobra como se fosse torcedora e as coisas acabam se misturando.
Quanto as influências do Brasil e da Europa, não poderia estar mais de acordo. Se existe uma área em que estamos atrasadíssimos esta é a gestão esportiva. Chamá-la de amadora chega a ser elogio.

Michel Costa disse...

Em primeiro lugar, obrigado pela correção, Alexandre. Tinha digitado sobre o amistoso com o Chile há mais dias e nem me liguei na troca de adversários.
Quanto ao jornalismo ser pautado pelas vitórias, penso que esse é um dos grandes males de nossa imprensa esportiva. Mas, como escrevi acima, considero isso um reflexo de nossa própria sociedade. Não por acaso, possíveis bons trabalhos vão pelo ralo nos primeiros tropeços. Me lembro quando Telê esteve ameaçado de demissão antes de montar o grande time do São Paulo da primeira metade dos anos 90. Imagine se o Tricolor o tivesse demitido? Possivelmente, o clube do Morumbi nunca teria sentido o gostinho de ser campeão do mundo.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Sem problemas Michel sobre os amistosos do Brasil, você tem crédito!

Sobre o Telê, ele perdeu 5 partidas seguidas contando o primeiro jogo da Libertadores de 1992 e alguns do Brasileiro, incluindo um 4x0 para o Palmeiras. Não me recordo de pressão interna ou "fogo amigo" da diretoria, mas certamente deve ter tido pressão nesse sentido e, realmente, sem a presença do Telê os títulos seguintes seriam mais complicados provavelmente, apesar de que o Telê, na hora de reformular aquele time pós-93, fez muitas bobagens (não quis o Gamarra no SP, liberou o Muller e não o quis de volta em 95, etc.); claro que o SP ficou sem muito $ depois que o Morumbi precisou ser reformado, mas faltou mais atenção da parte dele na hora de montar um novo time.

O que me incomoda até mais de analisarem só o resultado, no caso específico do futebol, é o desejo de rotular: "menino" Neymar, "argentino é catimbeiro", e outras frases e expressões feitas. Com os outros esportes o caso é de desprezo mesmo.

Michel Costa disse...

Telê era um técnico das antigas. Excelente, mas das antigas. Era capaz de reconhecer um bom jogador quandoo via um, porém, mapear a América do Sul estava além de suas possibilidades. Duvido que ele sabia quem era Gamarra. Mesmo lembrando que o paraguaio jogou como volante no início de carreira, seu talento saltava aos olhos.
Acho que a reforma do Morumbi pesou bastante na fase pós-bicampeonato mundial. O time se desmanchou, a base não foi aproveitada da melhor maneira e o pique caiu. Mesmo assim, não creio que haja um torcedor do clube que não suspire ao lembrar daquela época.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Sempre reverencio o Telê, ele sempre fez questão de ver e fazer o time jogar para a frente e usar com maestria os contra-ataques, mas isso não me impede de lembrar de algumas mancadas que ele deu. O Gamarra, para você ter uma idéia, jogou na Libertadores de 93 pelo Cerro treinado pelo Carpegiani (que usava o Arce como meia-ponta pela direita!), ou seja, ele teve como vê-lo; mas entendo que ele não tinha uma "rede de olheiros" espalhada pela Sul-América. Mas com certeza, no trabalho de "campo e bola" como diria Lucio de Castro, ele era especial.

Michel Costa disse...

Telê sempre será lembrado como um dos melhores técnicos que o País já teve e como um dos defensores do futebol bem jogado. Todavia, dois detalhes de sua carreira me chamam a atenção:

1) Após a derrota de 82, ele passou a adotar dois volantes meramente pegadores em suas equipes. Zico dizia que ele nunca mandou bater, mas escalar Doriva e Dinho, por si só, já era um incentivo à pancadaria.

2) O fim dos pontas e o surgimento dos alas também estão ligados a sua passagem pela Serleção. Sempre relaciono o surgimento dessa aberração tática à presença dos volantes marcadores que tanto empobrecem nosso futebol.

Logicamente, Telê não sabia dos danos que estava provocando no esporte que tanto amava, mas, à margem se sua contribuição, sempre haverá esse equívoco.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que a coisa dos volantes foi feita meio que em resposta às críticas mesmo. Só que ficou provado que mesmo com essa escalação mais protegida no meio, os times dele não perderam tanto em ofensividade; sobre os laterais penso que essa tendência veio também de fora, com os times preenchendo mais o meio campo, com 4 jogadores, o espaço dos pontas foi diminuindo mesmo.

Michel Costa disse...

Tenho minhas dúvidas se a liberdade dos alas foi algo importado, Alexandre. Afinal, não me recordo de laterais puramente apoiadores noutros países a não ser o Brasil.Quando Telê deixou de utilizar dois pontas na Seleção o fez por iniciativa própria, mesmo com muitas vozes contrárias. De qualquer modo, concordo que essa medida não tirou a ofensividade do SPFC, mas as escalação de dois caçadores sempre me soou incoerente quando colocada diante de tudo o que ele pregava.