quinta-feira, 28 de julho de 2011

Aquela velha conversa de bar.

A participação do Internacional na recém-encerrada Audi Cup ressuscitou uma velha discussão: Os melhores clubes brasileiros são páreo para os grandes da Europa?
Como é natural nos debates futebolísticos por aqui, as respostas mais comuns manifestam opiniões extremas. Enquanto alguns acreditam que não há comparação, pois as equipes europeias são muito mais fortes, outros dizem que os brasileiros podem jogar de igual para igual.
O mais curioso nisso tudo é que ambos os lados frequentemente ignoram os jogos entre as equipes, único parâmetro disponível, e se agarram a conceitos forjados em elementos mais subjetivos como poderio financeiro, status dos atletas e interesse demonstrado nas competições.
Particularmente, prefiro observar os embates. Não como a Audi Cup, onde a própria fórmula de disputa impossibilita análises mais profundas, mas finais como o Mundial de Clubes e amistosos à vera. Nesses jogos, que acompanho desde o início dos anos 1990, foi possível perceber duas coisas:
- Até o surgimento da chamada Lei Bosman o equilíbrio imperava. Quase não havia muita diferença técnica entre as grandes equipes. Os duelos do São Paulo de Telê contra Barcelona (92) e Milan (93) são bons exemplos.
- Após a citada lei, as coisas mudaram de figura. Podendo contratar os melhores do mundo, os gigantes do Velho Continente se tornaram verdadeiras seleções, mas, ao mesmo tempo, concentraram os melhores jogadores numa elite cada vez menor. Um grupo seletíssimo, baseado em países como Inglaterra, Espanha e Itália, além do Bayern na Alemanha.
Mesmo sim, nas poucas oportunidades que o nosso calendário estrangulador permitiu, as partidas entre brasileiros e europeus apresentaram uma diferença – sobretudo nos placares – menor do que supõe o tamanho dos cofres e o glamour dos elencos.
Existem muitas explicações para isso, mas acredito que a principal se encontra no fato de que os times locais são, em sua maioria, formados por jovens jogadores que ainda não consolidaram suas carreiras no exterior. Quem viu Juninho Pernambucano entortando o lendário Fernando Redondo na final de 1998 não seria capaz de afirmar que ali estava o homem que mudaria para sempre o destino do Lyon. E quem via um impúbere Alexandre Pato no comando do ataque do Inter de 2006, talvez não imaginasse que ali estaria um titular do Milan e da Seleção Brasileira anos depois.
Infelizmente, são raras as oportunidades em que as forças locais se opõem aos multimilionários da bola. Todavia, nas poucas vezes em que isso aconteceu, as contas bancárias não estabeleceram o abismo que muitos supõem existir.         
Imagem: Reuters    

12 comentários:

marcus buiatti disse...

Concordo com quase tudo Michel.

Acho que os jogos oficiais são parâmetro melhor (não acho o único) e que amistosos de pré temporada servem, claro, para alguma análise, mas muito pouco e cheia de ressalvas que - neste ponto discordo - não são subjetivas, são objetivas. É fato que os times europeus, em competições de pré temporada não estão preocupados com resultado, com a competição (em geral, salvo exceções). É fato que estão em estágio inferior de preparo físico e que, como se dá a preparação física deles (pesada e longa durante toda a pré temporada), estes jogos servem mais pra soltar os músculos que pra observações técnicas e táticas, especialmente no início.

Eu já vi, em jogos de pré temporada resultados como: Tenerife 4 x 0 Grêmio, Chelsea 5 x 0 Flamengo, Flamengo 3 x 0 Real Madrid (lembrado por vc), etc e etc.

Lembro que quando era garoto, eu, são paulino, assisti as vitórias do São Paulo no Teresa Herrera (4 x 0 contra Barcelona) e no Ramón de Carranza 1992 (4 x 0 contra REal Madrid) como se fossem títulos mundiais, enganado pela minha desinformação e pela Bandeirantes. Claro que na Toyota a final contra o Barcelona foi muito mais equilibrada, embora, para mim, o São Paulo tenha sido superior, como o Palmeiras foi contra o Manchester em 99, mas perdeu.

Infelizmente, são poucos jogos oficiais entre os clubes grandes europeus e os grandes brasileiros para permitir uma análise mais acurada. Nos últimos jogos oficiais, finais do Mundial, pra mim fica claro que, como vc disse, a distância está crescendo. Ao contrário dos anos 80, 90, onde havia equilíbrio e até superioridade brasileira em alguns confrontos, cada vez mais há desequilíbrio.

De qualquer forma, tenho pra mim, e aí é questão subjetiva, que a distãncia não é tão grande quanto se imagina, MAS ainda é grande. Salvo exceções como este belo time do Santos, ou um time não tão forte europeu, como o Porto de Mourinho.

Esta distância, claro, é diluída por ser apenas um jogo e pelas circunstâncias diversas que envolvem a preparação e motivação de times europeus e sulamericanos. Neste ponto discordo de vc, isto é objetivo, fato, dado de análise que não pode ser relevado.

A importância dada ao torneio pelas equipes sulamericanas e européias é distinta (isso é um FATO, não é subjetivo e não quero dizer que eles não dão importância, mas ao grau de importância). Por outro lado, a pressão para ganhar o torneio é maiorpara nossas equipes, com os tais "projeto Tókyo" (agora mudou de nome) que ficam martelando a cabeça dos atletas o ano todo.


O que está se tornando chato nesta discussão, pra mim, é que cada vez mais argumentos racionais são deixados de lado. Virou uma guerra brasileirinhos x estrangeirinhos. E nesta guerra, quem perde é a razão e o bom senso. Me incluam fora dessa. Neste tipo de "debate", onde até jornalista sério acaba entrando, argumentos são passionais, distorcidos e desonestos intelectualmente. Ninguém tem interesse na busca da verdade, de ler ou ouvir um bom argumento, refletir sobre ele...o objetivo é agredir a outra corrente, do outro lado da "trincheira".

abraços!

Eduardo Junior - Blog Europa Football disse...

E na Audi Cup, ficou até difícil fazer uma análise mais profunda. Os titulares do Inter não jogaram muito bem e perderam pro time B quase C do Barcelona, mas na disputa do terceiro lugar, o expressinho colorado atuou bem e derrotou um time quase titular do Milan.

marcus Buiatti disse...

concordo, Eduardo.

Eu até, não sei se vc e o amigo Michel concordam, fiquei com a seguinte impressão: o Inter A poderia ter jogado muito mais e o Milan, estivesse fisicamente um pouco melhor e forçasse um pouco mais, teria ganho com facilidade do Inter B (que ainda assim, jogou muito bem).

abs!

Michel Costa disse...

Marcus e Eduardo,

Também não levo em consideração torneios amistosos como essa Audi Cup. Realmente não dá para concluir muita coisa. No entanto, finais do Mundial Interclubes e alguns outros amistosos são o único parâmetro de que dispomos para qualquer comparação. Todas as outras maneiras tem um grau de subjetividade que, para mim, acabam se tornando praticamente desconsideráveis.
Comparar os nomes nas escalações, por exemplo, não parece a melhor saída. Quem garante que o garoto desconhecido do grande público não é na verdade um futuro world class?
Por essas e outras, procuro me basear naquele que considero o único ponto de observação real: Os jogos entre as equipes.

Abraços.

Ps: Marcus, quando foi mesmo Chelsea 5x0 Flamengo? Era o time titular do Fla?

marcus Buiatti disse...

Michel,

Acho que em 97 ou 98, Umbro Cup. Eu tenho gravado o jogo, mas nunca revi. Era time reserva do Flamengo com alguns titulares, como o Barcelona fez na Audi Cup. o Chelsea estava quase completo e na época era um bom time. Como vc mencionou, um dos jovens do Flamengo era o goleiro Julio Cesar, na época reserva e desconhecido e que viria a ser World Class.


Mas, acredito eu, o Flamengo deve ter se divertido bem na noite anterior...hehehe

Este é um outro problema destes amistosos. Vou citar 2 episódios que li na 4-42, edições diferentes:

1. Bergkamp - entrevista: ele contou que em uma das pré temporadas do Arsenal, na Suécia, ele ficou espantado em ver quase todo o time (Parlour, Adams e etc) indo nos pubs toda noite e tomando todas).

2. A última edição da 4-4-2 conta uma excursão do Manchester United, em 1999, dezembro, na Austrália (pré mundial 2000 no Brasil, onde deve ter ocorrido o mesmo), contada pelos próprio atletas, onde o que menos tinha importância era futebol: mulheres, bebidas, noitadas e noitadas...hehehe

Não acho que isso seja generalizado ou que também uma festinha ou outra atrapalhe tanto. Mas exageros ocorrem nestas excursões e períodos de amistosos.

Abraços!

Michel Costa disse...

Tem razão, meu camarada. Esses torneios valem muito pouco. Por essas e outras, só valorizo o Mundial. Mesmo sabendo que o interesse e o grau de preparação dos clubes brasileiros e europeus é demasiadamente distinto.

Sobre a competição citada, trata-se da disputa do 3º lugar do Torneio Internacional de Amsterdã, quando o Fla realmente entrou com um time recheado de reservas. Taí o vídeo: http://goo.gl/4kgQj

Abraço.

Rodrigo Alves disse...

Essa discussão é boa!

Pra mim nao tem comparacao mesmo. Os times q chegaram aos mundiais foram os melhores q os clubes conseguiram formar em varios anos. Sao os times brasileiros q formaram uma bela equipe, q conseguiram ganhar a libertadores e chegaram ao mundial mtas vezes ate reforcados para a partida...e jogando a vida! Esses, ate conseguem fazer frente se marcarem mto e jogarem com inteligencia. Agora, se pegar os 5 melhores times do brasileirao e colocar na premier league, eu duvido q cheguem a frente d arsenal, chelsea, liverpool e manchester. Nao ha comparacao, elencos mto superiores, taticamente mto superiores, times jogam ha mais tempo, nao tem desmanche no elenco como aqui e por aí vai. Se colocar os Tops brasileiros jogando a champions, nao passam das quartas tb..nao q eles façam tudo melhor dq nos...mtas vezes temos super cracks em formacao ocmo vc bem disse, mas ter time pra chegar mais longe dq isso é pura ilusao..teriamos q formar 2 ou 3 selecoes dos times brasileiros, aí sim teriamos elenco pra competir!

Michel Costa disse...

Olá, Rodrigo.

Em termos de força competitiva dos times, meu entendimento é mais ou menos como o seu. Só que essa elite de clubes (não considero que o Arsenal atual faça parte dela) que você citou não encontra adversários na Europa também. Eles são a exceção da exceção. São pontos muito fora da curva e por isso são superiores. Mesmo assim, excluindo o absurdo Barcelona e talvez o Real Madrid, ainda acho que os melhores times brasileiros podem fazer um bom jogo contra essa elite. O favoritismo, claro, é deles, mas não acredito que os brazucas não seriam meros sparrings desses gigantes.

Abraço e obrigado por participar desse debate.

Marcus Buiatti disse...

Eu também acho que contra a elite da elite (Real, Barça, Chelsea...), em torneio longo os melhores times brasileiros não teriam vez, salvo exceções como ocorre por lá também (de vez em quando um Valência, um Everton... complica e surpreende).

Mas, por outro lado, acho que nossos times medíos e pequenos são melhores tecnicamente, na média, que os europeus médios e pequenos.

MAs, tudo isso é achismo. Seria legal ver um torneio mundial de clubes mais longo e tal (desde que não acabem com a Copa do mundo...hehehe).

Michel Costa disse...

E como seria, Marcus.
Sei que as distâncias impediriam um campeonato longo, mas sempre defendi a ampliação do Mundial de Clubes. Imagine um campeonato com pelo menos dois representantes da América do Sul e dois da Europa. Quem sabe oito times divididos em dois grupos? Seria muito legal.

Abraço.

Prisma disse...

Assino embaixo o q todos vcs disseram sobre esses torneiros de pré-temporada. É mais uma diversão preparatória do que jogos sérios. Esses torneios são bons pra fazer turismo, os jogadores vão pra noitadas (hehehehe) devem comprar alguns presentes, principalmente se forem no Japão ou Estados Unidos, ou algum país exótico.

Na Audi Cup, os resultados não me preocuparam, agora entendi o tal modo de jogo do BARCELONA desde as categorais de base. O time quase C tocou a bola e envolveu completamente o Internacional.

Michel Costa disse...

Verdade, Prisma.
O Barça consegue imprimir seu toque de bola contra qualquer um. E como vem jogando o Thiago Ancântara! Como escreveu o Bertozzi no Twitter, se houvesse um prêmio para o melhor da pré-temporada, o filho de Mazinho certamente o levaria.

Abraço.