quarta-feira, 6 de julho de 2011

Afinal, o que queremos?

Historicamente, a palavra “planejamento” nunca fez parte do dicionário dos dirigentes brasileiros. Sempre seguindo a cartilha do amadorismo, os responsáveis pelos rumos de nossa seleção e de nossos clubes são capazes de reduzir a pó qualquer estrutura que vise médio e longo prazo.
No entanto, num breve ato de reflexão é possível perceber que a maneira como os cartolas enxergam o futebol é muito parecida com o que pensam – em sua maioria – torcedores e jornalistas esportivos. A cobrança de resultados imediatos e o desprezo à continuidade é uma marca nacional. Não tenho conta de quantas vezes vi dirigentes jogando trabalhos pelo ralo, jornalistas fazendo uso das mais possantes cornetas e torcedores pedindo a cabeça do técnico a cada derrota. Trata-se de uma característica atávica dos brasileiros.
O melhor reflexo dessa mentalidade pode ser observado na Seleção Brasileira. Excetuando as peculiaridades regionais, a visão e a cobrança costumam ser as mesmas. Qualquer resultado ruim é capaz de levar o torcedor da confiança extrema à depressão. Carlos Alberto Parreira e Dunga sentiram isso na pele. Ambos chegaram à Copa do Mundo com o time pronto e com boa aprovação pública, mas viram tudo se transformar em pó depois da eliminação. 
Antes da Copa de 2006, Parreira se proclamava um “gestor de talentos” tantas eram as opções daquele momento. O experiente treinador conduziu todo o processo após o pentacampeonato de 2002 com tranquilidade. Promoveu as saídas de veteranos como Rivaldo e as entradas de jovens jogadores como Kaká e Robinho no momento certo, venceu a Copa América de 2004 com um time praticamente reserva, faturou a Copa das Confederações no ano seguinte e, de quebra, classificou a Seleção em primeiro lugar nas Eliminatórias Sul-Americanas. Tudo como manda o figurino, até chegar à preparação em Weggis, Suíça. Ali, Parreira percebeu que parte de sua constelação estava dizimada por uma temporada desgastante, enquanto outra se apresentou absolutamente fora de forma. E quando isso se somou a uma preparação quase circense estava claro que não poderia dar certo.
Em seguida, Dunga chegou para colocar ordem na casa. Na visão da CBF nada melhor do que um ex-capitão durão para colocar os craques folgados nos eixos e resgatar o “amor à camisa”. Ricardo Teixeira chegou a dizer que seria a Seleção mais fechada de todos os tempos. Todavia, como a velha piada do gênio da lâmpada que não fazia nada certo, os desejos de torcida e imprensa foram atendidos por vias tortas. O time se tornou uma espécie de exército, trancafiado, longe de tudo e com o seu comandante em guerra com a imprensa. Devoção a causa não faltava, porém, o talento ficou em segundo plano. Novamente, não deu certo.  
Não me surpreendi quando Teixeira apareceu no programa “Bem Amigos” do Sportv logo após a derrota brasileira para a Holanda se eximindo de qualquer responsabilidade e jogando o então ex-treinador Dunga aos leões. O dirigente disse que o Brasil seguiria um novo rumo e que a renovação era o caminho, mesmo que isso implicasse em derrotas no percurso.
Entretanto, a primeira iniciativa da nova “filosofia teixeiriana” não poderia soar mais incoerente. Se as pessoas pediam um time mais solto e suplicavam pelo renascimento da escola brasileira, nada mais ilógico do que oferecer o comando desse novo projeto a Muricy Ramalho que, embora tenha inegável capacidade para montar times competitivos, não é muito mais do que um Dunga com currículo. Felizmente, o então técnico do Fluminense recusou o chamado. 
Então, por linhas tortas, a CBF chegou a Mano Menezes. Inteligente, o técnico gaúcho conseguiu combinar o desejo dos fãs com seu entendimento do futebol atual e construiu uma filosofia baseada no protagonismo e na iniciativa de jogo. Para tal missão, Mano conta com uma boa e jovem geração com características compatíveis com a proposta de jogo. Todavia, não será de uma hora para a outra que esses jovens formarão um time na acepção da palavra. Isso vai demandar tempo e treinamento. Maus resultados no início não deveriam colocar em xeque tudo o que se planeja para esta Seleção. Caso contrário, estaremos provando mais uma vez que para o futebol brasileiro a única filosofia que se enxerga é a da vitória.    
Créditos das imagens: AFP (Parreira), Reuters (Dunga), Agência Estado (Mano Menezes).

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