domingo, 10 de julho de 2011

A verdadeira razão.

Via de regra, torcer por um time de futebol não é uma opção consciente. Pode até ser algo passado de pai para filho, mas se não houver identificação com as cores e a história do clube, nada feito. Torcer é uma questão de sentimento. Você vibra com as vitórias, sofre com as derrotas e nem sabe exatamente o motivo.    
Por isso, não compreendo aqueles que dizem não torcer pela Seleção Brasileira por causa de Ricardo Teixeira. Justamente porque essa não é a mesma reação quando seu clube de coração é presidido por algum crápula. No Brasil, as torcidas dos times não diminuem quando a cartolagem é corrupta. Isso normalmente acontece quando há longos períodos de jejum de títulos. Em outras palavras, as pessoas separam a revolta com o dirigente da paixão que têm pelo clube.
Um ótimo exemplo é o “reinado” de Eurico Miranda no Vasco. Os cruzmaltinos mais esclarecidos queriam o ex-deputado longe de São Januário, mas nem por isso deixavam de amar seu clube. Aliás, é justamente essa paixão que não permitia que esses fãs abandonassem o time apesar da presença nefasta de seu presidente.
Curiosamente, o mesmo raciocínio não é aplicado à Seleção. Além da repulsa provocada por Teixeira, há certa irritação (ou seria inveja?) das pessoas com os jogadores milionários que atuam no exterior e vestem a amarelinha. Frequentemente, perguntam em tom irônico o que seria deles caso não praticassem esse esporte. Puro preconceito com pessoas que nasceram pobres e que venceram na vida por mérito próprio.
Vale lembrar também da visão equivocada e alimentada por parte da imprensa de que o Brasil precisa ganhar tudo. Aqui, ainda se cultiva o entendimento de que a Seleção só perde para ela mesma e que quando não ganha é porque tudo está errado. Simplesmente não aceitam a presença de um adversário qualificado do outro lado e que derrotas fazem parte do futebol. Essas derrotas provocam uma frustração nas pessoas que, em resposta, passam a ignorar ou torcer contra.
Isso sem falar na absurda imposição de ganhar e ainda dar espetáculo. O futebol não funciona assim. Com o atual calendário apertado, as seleções dispõem de pouco tempo para treinar. A princípio, o técnico deve buscar o entrosamento e competitividade. Jogar bem (que é algo subjetivo) é uma coisa que vem com o tempo.
Por essas e outras, vejo com alguma desconfiança quando ouço alguém dizendo que não torce ou deixou de torcer pela Seleção por causa do presidente da CBF. Acredito que a verdadeira razão provavelmente está entre as citadas acima. Mas é bem mais fácil justificar com um argumento coberto pelo verniz da razão.
Foto: AFP

7 comentários:

Anônimo disse...

Michel, a relação de torcer para o clube e para a seleção é diferente mesmo. Um dos problemas também é a postura do cartola. Ele não está nem aí para aproximar a torcida da seleção e manda sempre o time jogar longe do país.
abs
Venditti

Michel Costa disse...

Tem razão, Venditti. Mas, se formos procurar na história, veremos que a relação torcedor-seleção sempre foi conturbada. No caso de nossa maior cidade, São Paulo, sempre foram comuns os episódios de hostilidade. Mesmo quando o Brasil jogava em nosso território com mais frequência. A má vontade com os craques Zico e PC Caju estão aí para comprovar.
Outro caso famoso é a da vaia que marcou a despedida da Seleção de 70.
De certo modo, essa relação me lembra mais a que os torcedores tem com a seleção de vôlei. O que as pessoas querem é uma vitória arrasadora (de preferência com show) para chamar de sua. Quando ela não vem, o mais comum é apontar culpados por esse fracasso. Sem dúvida, um prato cheio para os psicólogos.

Abraço.

marcus buiatti disse...

Michel,

Sobre o tema, corroborando o que vc pensa, mandei a seguinte mensagem para a Espn Brasil:

"A ESPN Brasil realiza um ótimo trabalho de fiscalização e investigação sobre a CBF e a péssima administração de nosso futebol. É dos poucos meios que combatem a CBF com isenção.

MAS, se me permitem a crítica construtiva, acho que o canal ou parte dele, erra gravemente quando mistura seleção e CBF, quase fazendo uma "campanha" contra a seleção brasileira.

Seleção não é CBF. É um patrimônio cultural brasileiro, como todas as seleções o são de seus países. É uma instituição administrada pela CBF e por Ricardo Teixeira. TODAS as críticas a Teixeira e CBF são válidas e merecem aplausos, mas não quando confundem a instituição seleção com a entidade. Porque?

Porque esta confusão desrespeita o torcedor da seleção (mesmo se fosse minoria), desinforma e confunde. é mal jornalismo, coisa que o canal tanto combate.

Nunca vi ninguém do canal chamar o Milan de "clube do Berlusconi" ou confundir a instituição Atletico Mineiro com Kalil, Flamengo com Edmundo Santos Silva. Sempre o canal respeitou as instituições, que são, em útltima análise, de seus torcedores. Porque fazer isso (apenas) com a seleção brasileira?? Como diz o dito popular: 'não se joga fora a criança junto com a água suja da bacia".

Digo isso com tranquilidade. Não sou pacheco. Já torci contra a seleção, até em favor da Argentina, várias vezes. MAs o torcedor da seleção, e ela própria, como patrimônio cultural, merecem respeito e que não sejam confundidos com a CBF e RT. até porque um dia acabará o reinado dele e, espero, a seleção sobreviverá.

abs!"


Desculpa postar na íntegra aqui, mas eu concordo com sua posição e discordo do Venditti. Seleção merece ser respeitada tanto quanto os clubes, não vejo diferença.

Acho que qualquer um pode torcer contra ou a favor Brasil, Argentina, Islândia... acho lastimável patrulha contra quem torce pela Argentina, por exemplo, ou contra quem torce fervorosamente pelo Brasil. Torcer sim, mas distorcer não. Nunca. Especialmente jornalistas.


abs!

Marcus Buiatti disse...

Eu critico o "Pacheco" não por torcer fervorosamente pela seleção. Jamais. Eu critico o cara que distorce, em nome desta paixão, a realidade, os fatos, como, por exemplo, agora vi alguns compararem o Messi, por ter feito um cai-cai (o único que me lembro em toda sua carreira) com Neymar (que na seleção não tem feito o costumeiro cai-cai que faz no Santos). Isso é pachequismo que não me agrada, quando, em nome da paixão, há distorção da realidade, como se o mundo perseguisse nossa seleção e protegesse o resto, etc.

Adoro o Galvão narrando com emoção, mas odeio quando pra ele todo lance que o juiz dá contra o Brasil é erro. Enfim, é essa distorção que deve ser criticada, por todos, especialmente jornalistas. não torcida, fervorosa ou menos.

Abraço!

Michel Costa disse...

Onde eu assino, Marcus?
Não poderia estar mais de acordo. Mas, no caso específico da ESPN Brasil, creio que quem faz campanha (não sei se consciente) contra a Seleção é o Mauro Cezar Pereira, que não só mistura as coisas como não faz questão nenhuma de esconder que torce contra a Seleção. Sem dúvida, uma postura lamentável para um jornalista.

Abraço.

Marcus buiatti disse...

Amigo Michel,

Além do MCP, o João Carlos e os outros entram no clima, ficam ironizando as coletivas, por exemplo, dos atletas, forçando a barra para "constatar" que seleção perdeu prestígio para clubes, etc. Quem não pensa exatamente assim, como o Lúcio de Castro e o Bertozzi (acho), fica em silêncio, não entra no debate. Uma pena, né?

Acho que a ESPN Brasil está tomando uma postura antipática.

E, para falar a verdade, embora eu tenha dito que o canal tenha uma postura investigativa...pensei a respeito e: qual matéria vc já viu da ESPN Brasil investigando a CBF, RT, como, por exemplo, Andrew Jennings e a BBC fazem?

Tirante uma matéria muito boa do Lúcio de Castro em uma antiga revista ESPN, nunca vi na TV, na ESPN Brasil, qualquer reportagem investigativa deles em relação a este tema, apenas noticias de outros meios e críticas opinativas. Estou errado?

Vc ou os amigos aqui já viram ALGUMA investigação jornalística da ESPN Brasil sobre RT e CBF? algum trabalho bem feito, de repórter, sobre aumento de patrimônio, CPI da NIKE, etc?

Eu não me lembro de nenhuma. Mais recente, com CERTEZA, nenhuma.

Ou seja, é muita fumaça pra pouca ação.

abraço!

Michel Costa disse...

Também não me lembro, Marcus. Por outro lado, já vi programas do gênero abordando falcatruas de outras modalidades.
Não tenho certeza, mas creio que a CBF é mais organizada no sentido de encobrir escândalos. De qualquer modo, também queria ver a equipe chefiada por José Trajano fazendo mais coisas do que apenas repercutir notícias e matérias (como foi o caso recente da Piauí) dos outros.

Abraço.