domingo, 6 de novembro de 2011

Lembra desse?!

Aquele lance ou momento que você, por um motivo ou outro, nunca esqueceu.
A pressa é sempre inimiga.
É normal entre os fãs de futebol a necessidade de cravar o futuro de um garoto bom de bola. Aliás, faz parte da pressa dos dias de hoje, onde as notícias da última semana parecem ser de um passado longínquo. Agora, a bola da vez é Neymar. Surgem a todo o momento novas comparações com craques consagrados, numa ânsia desenfreada de estabelecer logo em que patamar o jogador do Santos está na história do futebol.
Isso me fez lembrar o distante 1996. No primeiro semestre daquele ano, Zagallo, técnico da seleção, buscava sua dupla de ataque ideal após decidir que Romário não faria parte do grupo que tentaria a conquista do ouro nos Jogos de Atlanta. Um dos titulares era Bebeto, campeão do mundo dois anos antes e um dos três jogadores acima dos 23 anos (os outros eram Aldair e Rivaldo) que foram escolhidos pelo Velho Lobo. Ao lado do atacante baiano, o nome preferido era o de Sávio, estrela do Flamengo e uma das maiores promessas brasileiras para as Olimpíadas e o Mundial da França. Marques e Amoroso também brigavam pela vaga, enquanto Ronaldo do PSV, que ainda se recuperava de uma cirurgia no joelho, parecia uma opção distante e pouco interessante.
Todavia, por uma manobra do destino, Marques se lesionou a poucos dias da convocação e abriu espaço para o futuro fenômeno entre os 18 convocados. Nos EUA, Ronaldo não precisou de muito tempo para mostrar quem era o verdadeiro titular da posição, anotando seis gols na campanha. O Brasil ficou apenas com o bronze, mas o centroavante, que se apresentou ao Barcelona logo depois, deixou claro qual seria seu lugar na história. Por sua vez, Sávio não fracassou na carreira. Pelo contrário. Negociado com o Real Madrid, o ponta foi titular em diversas ocasiões e conquistou muitos títulos, mas nunca chegou a ser o que dele se esperava.   
Denílson foi um caso semelhante. Nasceu no São Paulo como uma espécie de Garrincha canhoto, encarnando o espírito dos velhos ponteiros. Era a primeira opção de banco na Copa de 1998, porém, não passou nem perto de corresponder às expectativas. Vendido ao Betis por 32 milhões de dólares, foi durante anos o jogador brasileiro mais caro da história. Descrever a passagem de Denílson pela Espanha como fracasso seria eufemismo. A contratação do brasileiro pelo clube andaluz seguramente figura entre as piores da história na relação custo-benefício. Ao todo, foram 33 gols em 186 partidas, nenhum título conquistado e um rebaixamento no currículo.
O ano de 2002 marcou o surgimento da dupla Diego e Robinho. À época era impossível falar de um sem mencionar o outro. Eles eram arco e flecha a serviço do Santos campeão brasileiro daquele ano. Diego era técnico, cerebral, um perfeito maestro. Robinho era o drible, a velocidade e a fantasia. Lembro-me até a hoje da coluna de Juca Kfouri no jornal Lance! do dia seguinte: “Feliz do Santos que um dia teve Pelé e hoje tem Pelé (Robinho) e Maradona (Diego).” Desnecessário explicar o absurdo da observação, mas a verdade é que Diego e Robinho realmente eram vistos como os futuros craques do Brasil. Não foi o que se viu. Robinho, que sem modéstia se anunciava como futuro melhor do mundo, pelo menos disputou duas Copas, foi muito importante na Era Dunga e tem mais prestígio atualmente. Por sua vez, Diego tenta reerguer sua carreira no Atlético de Madrid após frustrantes passagens por Juventus e Wolfsburg.  
Hoje, coincidentemente, Ganso e Neymar repetem a história no mesmo clube paulista. Muitos veem em Ganso a figura do clássico meia armador há muito perdida em nosso futebol. Infelizmente, as frequentes lesões o deixaram à margem da evolução do amigo, pois Neymar é a nova febre do Brasil. É adorado por crianças e adultos. Seus gols e dribles são mostrados a exaustão e muitos juram que o santista já atingiu o patamar de Messi e Cristiano Ronaldo, mesmo sabendo que sem uma transferência para a Europa é praticamente impossível a comparação.  Mas existe a pressa, a necessidade compulsiva de se classificar definitivamente um atleta de apenas 19 anos. Que tal deixar o garoto traçar seu caminho? Como vimos acima, não faltam exemplos de promessas que não se cumpriram.
Imagens: Lancenet, Reuters, IG e Gazeta Press          
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