domingo, 23 de fevereiro de 2014

Contagem Regressiva: Fevereiro de 2014

Para um fanático por futebol, a Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo. É um período para se tirar férias do trabalho e só sair de casa para tratar de assuntos estritamente necessários. São semanas mágicas, onde um jogador consegue deixar o mundo mortal para fazer parte do panteão dos Deuses da Bola e, de quebra, transformar um país inteiro numa grande festa. É uma época para se rir, chorar, se emocionar. Um momento que será guardado para sempre em nossos corações...
Outros caminhos
Quando o assunto é Seleção Brasileira, nenhum tema é tão debatido quanto a posição de centroavante. Embora conte com a confiança de Luiz Felipe Scolari, Fred, atual titular da camisa 9, preocupa por causa de sua fragilidade física. Mesmo não sendo um atacante da estirpe de Romário e Ronaldo, o jogador do Fluminense, em forma, é o nome ideal para atuar entre os zagueiros adversários, função que o técnico não abre mão. Com o reserva Jô visto com desconfiança, alguns nomes estão sendo especulados como Hernane, Leandro Damião e Alan Kardec. No entanto, nenhum deles chega a empolgar.
É improvável que aconteça, mas talvez fosse o momento de Felipão testar uma formação (ao lado) que não dependa de um centroavante de ofício. Mano Menezes, seu antecessor na Seleção, percebeu essa carência e testou, com algum sucesso, Neymar como o jogador mais avançado do time. Excelente finalizador, o atacante do Barcelona se aproximou ainda mais do gol, mesmo sem jogar de costas para a defesa rival. Sem dúvida, uma hipótese que não deveria ser descartada.
Mais preocupante, embora menos discutida, é a questão da saída de bola. Titular da posição de primeiro volante, Luiz Gustavo tem um passe rápido e correto, mas pouco vertical. Bom marcador, o volante do Hamburgo ganhou a posição por saber se posicionar como um terceiro zagueiro e liberar Paulinho para atacar. Defensivamente, funcionou bem na Copa das Confederações, porém, deixou a desejar na transição ofensiva, muitas vezes delegando essa obrigação para o zagueiro David Luiz que muitas vezes arriscava lançamentos que apenas devolviam a posse ao adversário.

Neste espaço, durante o torneio intercontinental, foi sugerido o recuo momentâneo de Oscar para ajudar nessa saída, uma vez que Paulinho também não realiza bem esse trabalho, mas nada melhor do que testar alguém capaz de cumprir todas as funções que um primeiro volante moderno deve exercer sem que isso prejudique o equilíbrio tático da equipe. E esse jogador pode ser Fernandinho. Desempenhando funções parecidas no Manchester City, Fernandinho é o responsável por guardar a posição quando o ótimo Yaya Touré se lança ao ataque e, simultaneamente, distribuir o jogo de trás. Diferente de Luiz Gustavo, Fernandinho tem o passe vertical, busca os companheiros de frente e ainda é capaz de chegar à área. No amistoso diante da África do Sul, teremos a chance de ver isso na prática.           
Os rivais
Luiz Felipe Scolari convocou 16 jogadores que atuam no exterior para a partida contra a África do Sul no dia 5 de março em Joanesburgo. A princípio, a ideia é completar a lista com um goleiro e dois atacantes que militam no futebol brasileiro, algo esperado para esta semana.
Goleiro: Júlio César (Toronto);
Zagueiros: Dante (Bayern), David Luiz (Chelsea) e Thiago Silva (PSG);
Laterais: Daniel Alves (Barcelona), Marcelo (Real Madrid) e Rafinha (Bayern);
Volantes: Fernandinho (Manchester City), Luiz Gustavo (Wolfsburg), Paulinho (Tottenham) e Ramires (Chelsea);
Meias: Bernard (Shakhtar Donetsk) Oscar (Chelsea) e Willian (Chelsea);
Atacantes: Hulk (Zenit) e Neymar (Barcelona). 

Atualização: Sem surpresas, Scolari convocou nesta segunda-feira o goleiro Jefferson (Botafogo) e os centroavantes (Fred e Jô). Com isso, não haverá tempo hábil para que um novo avançado seja testado antes da convocação final. Em caso de desfalque, Leandro Damião deverá ser o suplente imediato.   
De olho na Copa
O mês de fevereiro foi marcado pela tensão. Devido aos atrasos nas obras em Curitiba, a sede paranaense esteve ameaçada de corte. A garantia da cúpula da FIFA de que o estádio do Atlético Paranaense estava confirmado veio somente na última terça-feira em congresso da entidade realizado em Florianópolis.
Outra sede que se encontrou em risco foi Porto Alegre. Apesar da presença da presidente Dilma Rousseff na inauguração do novo Beira-Rio, os custos das estruturas temporárias ao redor do estádio do Internacional ainda estão em discussão. Segundo Giovanni Luigi, presidente do Colorado, os R$ 30 milhões com os quais o Inter não pretende arcar podem representar um risco de corte para a capital gaúcha.
A nota triste de fevereiro veio de Manaus. Antônio José Pita Martins, de 55 anos, foi mais uma vítima fatal nas obras da Arena Amazônica. Atingido na cabeça por uma peça de metal que se soltou, o trabalhador português não resistiu. Com o falecimento de Antônio, já são três as mortes nessa sede e sete em todo o país.
Em São Paulo, no dia 22, a polícia militar precisou agir para conter dezenas de manifestantes num protesto contra a realização da Copa do Mundo. Ao todo, foram 230 detidos entre manifestantes e jornalistas. O mais estranho na manifestação é que o estádio que abrigará a abertura do Mundial pertence ao Corinthians que arcará com seus custos junto ao BNDES. Trata-se de um financiamento e não de doação de dinheiro público. Não será surpresa se, em breve, aspectos políticos dessa manifestação vierem à tona.  
Confira o andamento das obras para o Mundial de 2014:         
Obras concluídas: Belo Horizonte, Brasília, Ceará, Natal, Porto Alegre*, Recife, Rio de Janeiro e Salvador;
Situação preocupante: Manaus;
Situação alarmante: Cuiabá, Curitiba e São Paulo.
* As estruturas temporárias ao redor do Beira-Rio ainda não estão prontas.
Fotos: Mowa Press, AFP/Jefferson Bernardes

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Saudade, palavra triste


Nesta semana, o ex-jogador Roberto Rivellino voltou à cena paracriticar a atual geração brasileira. Para o campeão mundial em 1970, o momento do futebol brasileiro é péssimo em termos de qualidade e só Neymar se destaca. Indo além, Rivellino criticou a presença do atacante Hulk na equipe, atleta que, para ele, só atua na Seleção Brasileira por questões táticas. Completando seu raciocínio, menciona a ausência de grandes centroavantes e afirma que a qualidade do time comandado por Luiz Felipe Scolari está na defesa e não no ataque.
A exceção da dificuldade de se encontrar boas opções para a camisa 9 do Brasil, posição onde nem o titular Fred é unanimidade, não é possível concordar com a opinião do antigo meia. Não quando se acompanha com atenção o que se passa fora do Brasil. Citado nominalmente, Hulk é um bom exemplo. Desde os tempos de Porto, o paraibano se mostra um atacante moderno, capaz de marcar gols fantásticos e, ao mesmo tempo, auxiliar defensivamente. Para Hulk, a velha desculpa do “se eu marcar não tenho força para chegar à frente” nunca foi válida. A única explicação para a implicância sofrida pelo jogador do Zenit é quando ela parte de alguém que só o vê em esporádicas aparições pela Seleção. Provavelmente, caso de Rivellino.
Outra observação curiosa do ex-craque diz respeito à carência de centroavantes. A lendária Seleção de 1970 também sofria dessa carência e viu Zagallo solucioná-la adiantando o meia-atacante Tostão. Uma equipe que contava com outros improvisos como o do próprio Rivellino aberto pela ponta esquerda e o volante Piazza recuado para o centro da zaga. Não faltava talento no meio-campo liderado por Gérson e Pelé, porém, nem todas as posições estiveram bem servidas quando o Brasil se sagrou tricampeão no México.
Roberto Rivellino possivelmente não sabe, mas a “péssima geração” atualmente ocupa a liderança quantitativa de atletas tanto nas grandes ligas europeias quanto na UEFA Champions League. Segundo o Cies Football Observatory, 471 atletas brasileiros atuam nos principais campeonatos do Velho Continente seguidos à distância pelos franceses e seus 306 representantes. Na Champions League, topo do futebol mundial, são 86 brazucas contra 80 franceses e 65 espanhóis. Além de Neymar, jogadores como Oscar, Willian, Ramires, Daniel Alves, Marcelo e outros são titulares das principais agremiações do planeta. Se fossem péssimos, esses dados nunca seriam possíveis.
Embora tenha sido um jogador excepcional, Rivellino sempre fez coro ao discurso de que tudo no passado era melhor e o que vivemos hoje não presta. Diferente de Tostão, que não fecha os olhos para o presente, Riva prefere alimentar a visão saudosista de um perfeito futebol de sonhos que não se sustenta quando as antigas imagens em preto e branco revelam um esporte mais lento, menos intenso e nem por isso desprovido de erros. Talvez por saber que parte de sua idolatria se baseia nos melhores momentos de antigos VTs, privilégio que os jogadores do presente não podem contar.
Foto: Marcos Guerra/Globo.com  

domingo, 9 de fevereiro de 2014

As razões do meu desafeto

Pouco mais de 15 mil pessoas pagaram ingresso para ver o primeiro Fla-Flu de 2014. Um pequeno público para assistir à vitória por 3 a 0 do Tricolor sobre seu histórico rival. Além do placar elástico e da estreia do atacante Walter pelo Fluminense, chamou a atenção a enorme faixa levada por torcedores do Flamengo contra os abusivos preços dos ingressos. Para o clássico, 100 reais foram cobrados pela entrada mais barata, um preço que poderia chegar a 300. O resultado disso foi um Maracanã vazio, bem longe de sua capacidade máxima. Como justificativa, a diretoria rubro-negra alega que o uso de carteirinhas de estudante – muitas vezes falsas – que conferem o direito da meia-entrada inviabiliza valores mais compatíveis com a realidade brasileira.
No entanto, não é preciso ser especialista no ramo para enxergar o óbvio: Se o Maracanã comporta 73531 torcedores, então alguma coisa está errada. Apesar dos campeonatos estaduais estarem longe do prestígio de outrora, o público presente ao estádio Mário Filho esteve muito aquém do que deveria. Uma das razões ficou estampada nas arquibancadas por mais de 90 minutos. Chegar às outras também não é difícil. A obsolescência à qual os campeonatos regionais ficaram expostos nas últimas décadas é outra delas. De torneio mais importante para os clubes, hoje não passam de um estorvo num inchado calendário, amparado apenas por sua importância política e pelo saudosismo de quem acompanhou seus melhores dias.
A violência dentro e fora dos estádios é a terceira razão, embora talvez seja a mais importante. As imagens dos 200 torcedores corintianos invadindo o CT “Dr. Joaquim Grava” há uma semana são mais uma prova de que as torcidas organizadas ultrapassaram todos os limites possíveis. Como se não bastasse o prejuízo causado por essas gangues que nada contribuem com o futebol e vivem do dinheiro das agremiações, elas ainda se acham no direito de agredir física e verbalmente os atletas em seu ambiente de trabalho. Uma vergonha muitas vezes acobertada pelos próprios clubes, como ocorreu no alvinegro paulista. A desculpa de que “só as organizadas sabem torcer” é uma estupidez histórica que não merece maiores comentários.
Outros fatores como horários das partidas, o fácil acesso aos jogos pela TV e a baixa qualidade do espetáculo oferecido podem ser incluídos nessa equação que resultou no colapso da cultura de se frequentar estádios no Brasil. Assistir a uma partida em in loco se tornou uma aventura arriscada e dispendiosa. Minimizar tais fatores para dizer que brasileiro não gosta de futebol ou que tem preguiça de ir a um estádio é, sem sombras de dúvidas, um desserviço ao que deveria ser um movimento conjunto para se reverter essa situação. E um dos passos para que os times brasileiros sigam sem ver suas torcidas lotando as arquibancadas.      
Foto: Rosana Fraga / Lance!Press

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Touro ou toureiro

A Espanha e o mundo do futebol se despediram de Luis Aragonés na manhã deste sábado. Então com 75 anos, o ex-jogador com passagens por clubes como Real Madrid e Bétis é reconhecido pelas dez temporadas em que defendeu as cores do Atlético de Madrid, onde se tornou um ídolo eterno. Como treinador, Aragonés será lembrado como um homem dono de uma personalidade forte, capaz de encarar nos olhos um Romário consagrado por maior participação no Valencia ou se envolver em polêmicas como na ocasião em que cobrououtra postura do atacante Antonio Reyes diante do negro Thierry Henry, seu companheiro de Arsenal. Para muitos, um flagrante ato de racismo.
Contudo, sua maior contribuição para com o futebol foi a decisiva participação na mudança de mentalidade na Seleção Espanhola. Conhecida como Furia, apesar de poucas vezes ter feito jus ao apelido, a Espanha sempre esteve aquém dos principais selecionados do planeta e só encontrou o caminho das grandes conquistas quando decidiu que deixaria de lado a postura de “touro” para se tornar “toureiro”. Ou seja, ter a bola aos pés e fazer com que seus adversários corressem atrás dela, numa estratégia, ao mesmo tempo, ofensiva e defensiva. Um planejamento que só foi possível com a presença da semente barcelonista trazida por Xavi e Iniesta e que, após ser plantada por Aragonés, vem sendo cultivada pelo sucessor Vicente Del Bosque.
Os leitores deste espaço sabem que o “tiki-taka” espanhol nunca foi o estilo preferido deste blogueiro e que a simples menção de que todas as equipes deveriam seguir os passos de Barcelona e Espanha por aqui é vista como um equívoco histórico tremendo. Todavia, é inegável a eficiência dessa proposta e as duas Eurocopas somadas ao Mundial de 2010 estão aí para provar seu êxito. Uma trajetória de sucesso que no âmbito de seleções começou com Aragonés e que aos poucos faz seguidores. Sem dúvida, uma grande contribuição do agora saudoso treinador.