domingo, 16 de fevereiro de 2014

Saudade, palavra triste


Nesta semana, o ex-jogador Roberto Rivellino voltou à cena paracriticar a atual geração brasileira. Para o campeão mundial em 1970, o momento do futebol brasileiro é péssimo em termos de qualidade e só Neymar se destaca. Indo além, Rivellino criticou a presença do atacante Hulk na equipe, atleta que, para ele, só atua na Seleção Brasileira por questões táticas. Completando seu raciocínio, menciona a ausência de grandes centroavantes e afirma que a qualidade do time comandado por Luiz Felipe Scolari está na defesa e não no ataque.
A exceção da dificuldade de se encontrar boas opções para a camisa 9 do Brasil, posição onde nem o titular Fred é unanimidade, não é possível concordar com a opinião do antigo meia. Não quando se acompanha com atenção o que se passa fora do Brasil. Citado nominalmente, Hulk é um bom exemplo. Desde os tempos de Porto, o paraibano se mostra um atacante moderno, capaz de marcar gols fantásticos e, ao mesmo tempo, auxiliar defensivamente. Para Hulk, a velha desculpa do “se eu marcar não tenho força para chegar à frente” nunca foi válida. A única explicação para a implicância sofrida pelo jogador do Zenit é quando ela parte de alguém que só o vê em esporádicas aparições pela Seleção. Provavelmente, caso de Rivellino.
Outra observação curiosa do ex-craque diz respeito à carência de centroavantes. A lendária Seleção de 1970 também sofria dessa carência e viu Zagallo solucioná-la adiantando o meia-atacante Tostão. Uma equipe que contava com outros improvisos como o do próprio Rivellino aberto pela ponta esquerda e o volante Piazza recuado para o centro da zaga. Não faltava talento no meio-campo liderado por Gérson e Pelé, porém, nem todas as posições estiveram bem servidas quando o Brasil se sagrou tricampeão no México.
Roberto Rivellino possivelmente não sabe, mas a “péssima geração” atualmente ocupa a liderança quantitativa de atletas tanto nas grandes ligas europeias quanto na UEFA Champions League. Segundo o Cies Football Observatory, 471 atletas brasileiros atuam nos principais campeonatos do Velho Continente seguidos à distância pelos franceses e seus 306 representantes. Na Champions League, topo do futebol mundial, são 86 brazucas contra 80 franceses e 65 espanhóis. Além de Neymar, jogadores como Oscar, Willian, Ramires, Daniel Alves, Marcelo e outros são titulares das principais agremiações do planeta. Se fossem péssimos, esses dados nunca seriam possíveis.
Embora tenha sido um jogador excepcional, Rivellino sempre fez coro ao discurso de que tudo no passado era melhor e o que vivemos hoje não presta. Diferente de Tostão, que não fecha os olhos para o presente, Riva prefere alimentar a visão saudosista de um perfeito futebol de sonhos que não se sustenta quando as antigas imagens em preto e branco revelam um esporte mais lento, menos intenso e nem por isso desprovido de erros. Talvez por saber que parte de sua idolatria se baseia nos melhores momentos de antigos VTs, privilégio que os jogadores do presente não podem contar.
Foto: Marcos Guerra/Globo.com  

4 comentários:

Danilo Borges disse...

Rivelino só pode tá de brincadeira, temos ótimos, jogadores, inclusive alguns vão ficar de fora da Copa, como Coutinho, Douglas Costa, Miranda, Filipe Luis, o goleiro do Valencia. Realmente a 9 aparentemente não temos tantas opções, porém Fred, Jô, L.Damião, são ótimos jogadores, sem falar em Pato, que se lutasse um pouquinho mais e se machucasse um pouquinho menos, estaria na seleção.

Michel Costa disse...

O que mais me incomoda do discurso de Rivellino é esse saudosismo que ignora os problemas do futebol do passado e o coloca num pedestal intocável, bem acima do atual. Contudo, basta ir ao youtube e procurar partidas na íntegra - não apenas gols e jogadas bonitas - para notar que nem tudo era esse mais de rosas. De todos os ex-jogadores, Tostão é quem mais reconhece as qualidades do passado sem desmerecer o presente. Não por acaso, é o mais conceituado entre todos.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Você resumiu bem a situação; talvez pelo tempo em que o Brasil passou sem conquistar títulos pós-70, o futebol do passado foi colocado de uma forma exagerada como algo próximo da perfeição; talvez o número de jogadores acima de uma média da época fosse realmente alto, mas usar isso para desprezar o que acontece hoje no futebol mundial é errado. O futebol hoje é mais competitivo entre os continentes, existe mais gente praticando o esporte, ou seja, se não é tão "plástico", tem outros componentes que o mantém atraente.

Michel Costa disse...

Acho que, em média, a quantidade de bons jogadores brasileiros é quase sempre a mesma. Às vezes temos carência de goleiros, outra de zagueiros e agora é de centroavantes. É meio cíclico isso.
O futebol do passado tem algumas vantagens em minha opinião:
1º Está protegido pelo filtro do tempo. A memória afetiva garante as lembranças boas e os grandes momentos;
2º Praticamente todos os bons jogadores atuavam no país. Isso, obviamente, elevava o nível dos campeonatos. Hoje, nossos melhores estão espalhados pelo mundo.
3º Como o futebol era mais lento e a marcação menos acirrada, as chances de erro diminuíam consideravelmente.

E, com tudo isso que escrevi acima, ainda é duro assistir a um jogo do passado... hehe.

Abraço.