Como velha raposa do
futebol que é, Ramón Díaz sabia o que fazer para anular a Seleção Brasileira. Observou
o que o compatriota José Pékerman havia feito com a Colômbia e adiantou sua
marcação para explorar o crônico problema brasileiro na transição entre defesa
e meio-campo. Como ocorria com Luiz Felipe Scolari, a equipe de Dunga sofre tanto
para sair jogando quanto para manter a bola em seus pés. Sem conseguir usufruir
da posse, restava apenas a tentativa dos contragolpes que se tornaram a única alternativa
após o gol nascido na primeira boa escapada.
Numa de suas entrevistas
coletivas, Dunga declarou que o sofrimento daria a tônica do percurso de seu
selecionado na Copa América. E assim foi. Sofreu diante de Peru, Colômbia,
Venezuela a na eliminação diante do Paraguai. Desses quatro, apenas os
colombianos eram rivais de destaque no atual cenário mundial. Nos outros casos
o Brasil penou justamente por não conseguir transformar sua superioridade
técnica em domínio e, sobretudo, em gols que dariam a tranquilidade necessária.
Um episódio emblemático ocorreu diante da Venezuela, quando Dunga optou pela
entrada de mais dois zagueiros e viu um adversário que estava praticamente
batido ressuscitar e quase empatar.
Sofrimento normalmente
gera pressão. E pressão pode provocar nervosismo. E isso provavelmente explica
o pênalti absolutamente desnecessário cometido por Thiago Silva e que acabou
resultando no gol paraguaio. Uma instabilidade preocupante ainda mais por se
tratar de um zagueiro experiente e que figura entre os mais valiosos do
planeta. Não é absurdo dizer que o Paraguai não levava perigo suficiente para
chegar ao empate sem uma mãozinha do defensor. E não há dúvida de que daqui em
diante seu nome sempre será questionado por imprensa e torcida.
Quem também sofre é o
presidente da CBF, Marco Polo Del Nero. Acuado pelas investigações do FBI e da
Polícia Federal, o dirigente pode tentar desviar o foco de si para a escolha de
um novo treinador para substituir Dunga. Muitos dirão que não faltam motivos
para a troca, o que até pode ser verdade. No entanto, em nome da continuidade
do trabalho, recomenda-se que o técnico permaneça. Independente do nome
escolhido para a sequência, os problemas indicam que o sofrimento deve dar a
tônica até a Copa do Mundo de 2018. Talvez Dunga não esteja tão errado assim.
Crédito da imagem: Reuters
2 comentários:
O Dunga não é a causa do problema, é muito mais uma consequência de anos de soberba baseados em alguns bons resultados que mascararam uma queda nos conceitos de posse de bola, controle, armação, de pensar o jogo. Anos que fizeram o Brasil acreditar que apenas o talento individual resolveria todos os problemas. Hoje, com todos mais nivelados, não adianta apenas achar que alguém vai resolver as partidas sozinho. A geração atual do Brasil não é totalmente horrível, mas o time, que não tem tantos protagonistas no futebol mundial, precisa ter o mínimo de trabalho de conjunto
O problema é muito mais amplo no futebol nacional. É necessária uma mudança total no comando do futebol brasileiro, sendo que muitos que estão lá deveriam estar presos. Passando nos conceitos do que é apresentado em campo. Além de uma lição de humildade e de menos ilusão, até mesmo para uma boa parte da imprensa, que continua vivendo de oba-oba e desconhecimento. Talvez uma não ida a alguma Copa também ajude…
Sem dúvida, Alexandre. Pessoalmente, não concordo com a ideia de que a geração atual é ruim. Pode não ser tão recheada de estrelas como a de 2006, por exemplo, mas grande parte do grupo atual atua com destaque nos principais times e campeonatos do mundo. Material para construir uma equipe mais forte existe, no entanto, para lograr êxito, é preciso que compreendam todas as demandas que o futebol moderno exige, começando pelo básico: organização e planejamento de médio/longo prazo.
Abraço.
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