segunda-feira, 31 de março de 2014

Contagem Regressiva: Março de 2014

Para um fanático por futebol, a Copa do Mundo é muito mais do que um evento esportivo. É um período para se tirar férias do trabalho e só sair de casa para tratar de assuntos estritamente necessários. São semanas mágicas, onde um jogador consegue deixar o mundo mortal para fazer parte do panteão dos Deuses da Bola e, de quebra, transformar um país inteiro numa grande festa. É uma época para se rir, chorar, se emocionar. Um momento que será guardado para sempre em nossos corações...
Clima de Seleção*
As torcidas italianas em diversos estádios se levantaram para aplaudir o gol que Ronaldo marcou na tarde de 9 de dezembro de 2001 diante do Brescia. Após mais de dois anos sem balançar as redes numa partida oficial por conta da grave lesão no joelho que quase pôs fim à sua carreira, o Fenômeno voltava a fazer o que mais sabia na vida. Daquele momento até o fim da temporada foram mais seis gols e muitas lesões musculares, algo que colocou em dúvida seu melhor aproveitamento na Copa do Mundo de 2002.
Contudo, se havia a desconfiança de muitos, Luiz Felipe Scolari acreditava no centroavante que escolhera, preterindo um veteraníssimo Romário. No fim, como todos sabemos, Felipão estava certo e Ronaldo foi o artilheiro da campanha brasileira no pentacampeonato mundial tendo Rivaldo, outro nome coberto de dúvidas, ao seu lado. Essa foi apenas uma das vertentes da chamada “Família Scolari”, onde um bom ambiente e um grupo focado foram suficientes para tornar uma conquista que parecia improvável algo real no instante em que o capitão Cafu ergueu a Copa do Mundo.
Esse mesmo clima pode ser visto na atual Seleção Brasileira. Da entrega mostrada na Copa das Confederações até um vídeo simplesonde os jogadores brincam com o baixo desempenho do atacante Hulk no videogame, o que se vê é um grupo de amigos. Atletas que atuam em diversas partes do mundo, enfrentam pressões e situações distintas por seus clubes, mas que servindo a Seleção sentem que, de certo modo, que estão em casa. Um ambiente em que os problemas das agremiações que defendem podem ficar de fora sem que isso represente falta de profissionalismo.
O melhor exemplo disso é Neymar. Ainda em fase de adaptação ao futebol coletivo do Barcelona, sem gozar de privilégios táticos e sendo pivô da queda do ex-presidente do clube catalão, o atacante brasileiro mostra que isso não o afeta em nada quando veste a camisa 10 amarela. É como se houvesse um sentimento de proteção onde Neymar pode mostrar seu melhor futebol sem se preocupar se a última tentativa de drible resultou em desarme. Uma liberdade que ainda precisa ser conquistada no Barça.
*Escrito originalmente para minha nova coluna no site Doentes por Futebol
De olho na Copa
Fábio Hamilton da Cruz foi a terceira vítima fatal nas obras da Arena Corinthians e a oitava em todas as sedes. A título de comparação, foram duas mortes registradas nas construções dos estádios sul-africanos no último Mundial. Logicamente, este é um problema muito mais ligado à construção civil no País do que ao futebol. No entanto, não deixa de chamar a atenção o fato de que grande parte desses acidentes ocorreu no período em que as obras foram aceleradas.
Os atrasos em diversas sedes, sobretudo na construção das estruturas temporárias, fizeram com que a FIFA anunciasse a intenção de rever seu planejamento para os próximos torneios, começando pela Rússia. “Esse foi um grande problema que enfrentamos no Brasil. Essas responsabilidades (estruturas temporárias) são conhecidas há muito tempo. Todas as cidades-sedes assinaram os documentos. Na Rússia esse problema deverá ser minimizado, uma vez que teremos apenas um estádio privado. Os demais são todos do governo. Estádios privados não querem pagar por estruturas temporárias. Temos que achar outro jeito daqui para frente”*, esclareceu o Secretário Geral, Jérôme Valcke, após reunião com membros do governo federal e do Comitê Organizador Local (COL), no Rio de Janeiro.
Com muita coisa a ser finalizada e equívocos na organização, a Arena da Baixada recebeu seu primeiro evento-teste no último sábado. Diante de 10 mil sócios, o Atlético Paranaense recebeu o J. Malucelli e não saíram do zero. A previsão de entrega do estádio é 15 de maio. Até lá, mais um evento deverá ser realizado.       
Depois de uma Copa na África do Sul em que diversas estruturas funcionaram de forma precária, a entidade máxima do futebol vê a possibilidade de tudo se repetir, talvez em maior escala, no Brasil. Quem sabe é a senha para a FIFA retomar a prática anterior onde os países-sedes tinham de apresentar condições para sediar um evento como a Copa para só depois pleiteá-lo. Mas, pelo visto, a ideia é que realmente se construa e se gaste muito.
Confira o andamento das obras para o Mundial de 2014:         
Obras concluídas: Belo Horizonte, Brasília, Ceará, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro e Salvador;
Situação preocupante: Cuiabá, Curitiba e Manaus;
Situação alarmante: São Paulo.
Imagens: Placar, site oficial do Atlético-PR.
*Fonte: Globoesporte.com

domingo, 23 de março de 2014

Na berlinda

Esqueça teorias conspiratórias para favorecer a Argentina na Copa. Além de não existir nada que sustente tal absurdo, Tata Martino, técnico do Barcelona, tem planos bem mais urgentes para Neymar. Contestado por seu início no clube catalão, Martino está ciente de que seus objetivos são reconstruir sua equipe e, se possível, conquistar algum título nesta temporada. Para tanto, o argentino sabe muito bem que Neymar pode ser uma peça fundamental e não esconde esse pensamento ao dizer que o brasileiro é um jogador especial.
Ao contrário de grandes nomes como Romário, Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho que defenderam clubes de menor porte antes de rumarem para o gigante europeu, Neymar não passou pelo mesmo vestibular. O Barcelona não pretendia perder de vista um alvo que estava na alça de mira há tantos anos e fez de tudo para contar com ele em suas fileiras, inclusive, consultar os caciques do elenco sobre sua chegada. Apesar desse esforço, é evidente que a situação de Neymar em seu novo clube não é das mais tranquilas. Como se não bastasse o desembarque em um novo país, em uma nova cultura e, sobretudo, num futebol diferente, o atacante se viu como o centro do imbróglio envolvendo sua contratação junto ao Santos. Um episódio que culminou com a renúncia de Sandro Rosell do cargo de presidente do Barcelona e colocou o camisa 11 no olho do furacão quando seus vencimentos – superiores aos de alguns medalhões – foram revelados. Quem leu “A bola não entra por acaso”, do ex-dirigente Ferran Soriano, sabe que essa informação não deve ter sido bem digerida num ambiente estelar como o do Barça.
Entrando no campo da especulação, o que se diz é que parte do elenco pediu a Martino que Pedro fosse o escolhido para começar jogando o clássico contra o Real Madrid. Exatamente o que parcela considerável da torcida vem fazendo nas enquetes promovidas pelos principais sites esportivos da Espanha. Pedro, prata da casa, é autor de gols importantes na história recente do Barcelona e um dos xodós da torcida. Pode não ter o talento de Neymar, porém, já foi testado e aprovado e está perfeitamente adaptado ao time. É a chamada escolha de segurança numa partida que vale a sobrevivência na busca pelo título nacional.
Se tal tentativa de ingerência realmente aconteceu, Martino não deu ouvidos. O nome de Neymar aparece em todas as prévias do jogo, mais uma vez escalado aberto pela direita, espaço que não lhe é tão familiar quanto a esquerda que deverá ser ocupada por Iniesta. Afora o deslocamento da faixa habitual, Neymar tem hoje a chance de começar a reescrever sua história na Catalunha. Atuar bem contra o maior rival é a chave para quebrar desconfianças.   
Imagem: Albert Gea/Reuters

domingo, 16 de março de 2014

A queda

Há alguns dias o site da BBC publicou um artigo de Bill Wilson no qual tentava explicar as razões para a estagnação do futebol italiano no cenário mundial. Entre todos os fatores, a diferença de arrecadação em relação aos grandes rivais europeus é o que mais se sobressai. Não é segredo para ninguém que não se faz futebol de alto nível sem grandes investimentos, exceções honrosas ao Borussia Dortmund da temporada passada e ao atual momento do Atlético de Madrid. Os resultados das equipes italianas na Europa despencaram na proporção em que cessaram os altos investimentos de seus mandatários. E, como essas agremiações nunca foram ensinadas a caminhar com as próprias pernas, o resultado disso tudo é mesmo desolador.
Contudo, a matéria da BBC não mencionou algo que não pode ser desprezado. A intensidade de jogo dos times italianos também caiu. Nem mesmo os sistemas defensivos funcionam com a mecânica de antes. O jogo está mais lento. No aspecto físico, a discrepância também é perceptível. Cesare Prandelli, técnico da Itália, classificou como “quase constrangedor” o desnível atlético de seus jogadores em relação aos espanhóis, adversários no último amistoso da Azzurra. Sem dúvida, uma observação impensável há alguns anos.
Curiosamente, uma partida citada no artigo de Wilson costuma ser exemplo frequentemente tomado por este blogueiro quando o assunto é a queda do futebol italiano. A final da UEFA Champions League 1993/94 entre o Milan de Fabio Capello e o Barcelona de Johan Cruyff é até hoje um símbolo da eficácia italiana na distante década de 1990. Antes de a bola rolar, muitos pensavam que o time de Romário e Stoichkov era favorito naquela decisão. No entanto, com muita aplicação e uma estratégia impecável, os rossoneri massacraram o time catalão por inapeláveis 4 a 0. Futura estrela da Copa dos Estados Unidos, Romário mal foi notado em campo. Se havia equilíbrio em termos de talento, certamente não havia em termos táticos.
A lógica nos diz que é mais fácil colocar em prática qualquer estratégia de jogo quando se tem grandes jogadores. Porém, marcação forte e organização defensiva eficiente dependem bem menos de investimentos pesados do que montar um ataque com Ibrahimovic, Cavani e Lavezzi. E até isso vem se tornando artigo raro na Velha Bota. Esqueça a velha máxima de que as defesas italianas são as mais robustas do mundo. Nem mesmo a virtual campeã Juventus consegue imprimir o ritmo necessário para sobreviver em uma Champions League. Talento não é a única coisa que falta. A preparação física se mostra deficitária, os grandes treinadores militam noutras praças e a última “inovação” tática foi a ressurreição do obsoleto 3-5-2. Infelizmente, a escalada do Calcio de volta ao topo não vai depender apenas de empresários dispostos a gastar os tubos no Belpaese.    
Foto: The Guardian

segunda-feira, 10 de março de 2014

É Tetra!

Prezados,
É com imenso prazer que informo o lançamento do livro “É Tetra! - A conquista que ajudou a mudar o Brasil” em parceria com o amigo André Rocha (blogueiro do Olho Tático e comentarista da ESPN Brasil) e generosa colaboração dos mestres Lédio Carmona, Mauro Beting e Paulo Vinícius Coelho. Uma obra destinada a contar a trajetória da Seleção Brasileira do fracasso em 1990 até a conquista do tetracampeonato mundial nos Estados Unidos.

Sinopse
1994. Para uma renomada seleção como a brasileira, 24 anos sem conquistar um título mundial é uma eternidade. Some-se a isso o período histórico e econômico instável do início da década de 1990, a perda de um ídolo nacional como Ayrton Senna e as poucas glórias no esporte se resumindo a uma medalha olímpica no vôlei - um esporte ainda não tão popular - e teremos um cenário particularmente hostil quando o técnico Carlos Alberto Parreira e seus comandados embarcaram para os Estados Unidos em busca de um troféu que parecia improvável.
A maior esperança brasileira em território norte-americano atendia pelo nome de Romário. Talentosíssimo goleador, o atacante vivia a melhor fase de sua carreira no Barcelona de Johan Cruyff. No imaginário popular estavam os dois gols que o Baixinho havia marcado diante do Uruguai no Maracanã na vitória por 2x0 que sacramentou a classificação para a Copa.  Ao lado de Bebeto, Romário formava uma dupla de ataque capaz de marcar contra qualquer defesa. Todas menos uma: A Itália de Arrigo Sacchi. Neste momento, o destino da Seleção Brasileira ficou nas mãos do goleiro Taffarel.
Editora: Via Escrita
Previsão de lançamento: Abril de 2014

sábado, 8 de março de 2014

A audácia de Fernando Diniz

Como jogador, Fernando Diniz teve uma trajetória relativamente discreta. Defendeu clubes importantes do futebol brasileiro, alternando muitas vezes a titularidade e o banco de reservas. Foi um meia de boa técnica, que agradava seus treinadores pela inteligência tática que demonstrava em campo. Fora dos gramados, fugia do estilo boleiro, chegando a ser objeto de matérias na imprensa esportiva que realçavam um perfil intelectual pouco comum no meio. À distância, Diniz se parecia mais com um estudante universitário do que com um jogador profissional.
Agora treinador, Fernando Diniz também se diferencia de seus novos pares. Comandando atualmente o Grêmio Osasco Audax, time que disputa a primeira divisão paulista, tem chamado a atenção do meio esportivo pelo estilo implantado em sua equipe. Com clara inspiração no Barcelona de Pep Guardiola, o Audax preserva o toque de bola acima de tudo e não apela para chutões nem em momentos de alta pressão dos adversários. Uma prática que não deve garantir a classificação para as oitavas de final do campeonato estadual e que talvez careça de mais qualidade dos atletas, mas que já deixou sua marca. Nem que seja pela distinção dos demais.
Ex-comandante de Fernando no Fluminense, Flamengo e Santos, Oswaldo de Oliveira tem uma opinião não muito esperançosa quando o assunto é a aplicação desse estilo nos grandes times do País: “Lá a chinelada não arde tanto quanto arde nos nossos jogadores. Mas realmente é uma forma inteligente e ousada de jogar”, diz o atual técnico do Santos, ciente da pressão por resultados imediatos tão típica de nosso futebol.
Logicamente, o técnico do Audax discorda. Para Fernando Diniz, os grandes times podem apostar nesse estilo desde tenham paciência e confiança no trabalho. No entanto, o jovem treinador tem consciência de que tudo está ligado à performance da equipe: "Não tem sustentação de jogo sem resultado, mas ele não caminha separado da produtividade, do jogar bem, jogar bonito. Se eu começo a ganhar com o time jogando muito mal, eu tenho muito mais preocupação do que empatar ou perder jogando bem. Não olho só resultado, mas acaba sendo essencial", afirma.
Não restam dúvidas de que a mentalidade expressa acima se difere do que pensa a maioria dos nossos treinadores. E isso só faz aumentar a expectativa de um dia vermos Diniz chefiando algum time tradicional do Brasil. Todavia, como o próprio técnico assegura, toda e qualquer estratégia do futebol tem compromisso com o resultado. Antes de tudo, um treinador monta sua equipe com o objetivo de vencer e isso não deve ficar em segundo plano. E não há maneira melhor de se obter as vitórias almejadas do que jogar bem.
Fonte: Terra
Foto: Eric Mantuan/GE   

segunda-feira, 3 de março de 2014

Pontos e Vírgulas

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.

Tudo por um furo

Até o momento em que assinou contrato com o Barcelona, o atacante Neymar deve ter sido negociado umas dez vezes. Além do clube catalão, o Real Madrid chegou a contratar o craque da Vila algumas vezes. Bayern e Manchester United também estiveram perto. Bem, pelo menos, foi o que as notas e manchetes estamparam nos últimos três anos. No fim, as denúncias de um torcedor do próprio Barça revelaram que Neymar Pai só abriu reais tratativas com o atual clube do brasileiro. O restante foi apenas especulação tratada como notícia.

Bem menos conhecido do que Neymar, Hernane, centroavante do Flamengo, esteve envolvido por duas vezes em situação semelhante apenas no ano de 2014. Primeiro foi a proposta do Al Gharafa. Segundo alguns veículos brasileiros, o Brocador estava certo como o novo reforço do clube catariano, onde, inclusive, receberia um bônus para cada gol que anotasse. No entanto, as negociações com o rubro-negro carioca não tiveram o desfecho desejado pela agremiação baseada em Doha.

Na última semana foi a vez do mercado chinês sondar Hernane. O Shanghai Shenhua, novo clube do zagueiro Paulo André, fez uma boa proposta e os dirigentes do Flamengo pediram garantias bancarias para fechar o negócio. As garantias não vieram e o artilheiro do Brasil em 2013 permaneceu na Gávea. A similaridade entre as duas propostas é que ambas não foram mais do que propostas. A negociação poderia ser concluída ou não. E no caso de Hernane não foram. Então por que motivo elas foram tratadas como se estivessem num estágio mais avançado do que realmente estavam?

A explicação é simples. Atualmente, dar a notícia antes dos concorrentes se tornou mais importante do que dar a notícia correta. Pelo visto, aguardar o desfecho das negociações é perder tempo e acessos preciosos que não podem ser desperdiçados. E se depois a negociação não se concretizar, é fácil: Basta lançar a informação definitiva que novos acessos serão mais do que bem-vindos. Afinal, ninguém vai se lembrar que aquela situação foi dada como certa há alguns dias. Pois este espaço se lembra. E lamenta profundamente que a credibilidade seja algo tão sem importância no jornalismo contemporâneo.

Imagens: Paramount, André Durão (GE)