A vitória da Seleção Brasileira sobre
a França por 3 a 1 no amistoso desta quinta-feira não foi uma vingança pela
derrota na final de 1998. Do mesmo modo, o triunfo no Stade de France também
não devolve as eliminações nos Mundiais de 1986 e 2006. Nem apaga da memória o
massacre sofrido na última Copa e muito menos soluciona os sérios problemas
estruturais do futebol brasileiro que, diga-se, têm pouco a ver com a Seleção e
seus inúmeros “estrangeiros”. E qualquer apregoação nessa direção provavelmente
resvalará numa euforia que sempre nos fez mal.
No entanto, é preciso observar o
momento da Seleção Brasileira sem as amarras do trabalho anterior e olhando
para frente. Após a derrota para
Alemanha, o que mais se cobrava da equipe verde-amarela era competitividade e
apresentação de um futebol compatível com o que o mundo inteiro pratica. Tratava-se
de algo muito mais relevante do que vitórias em amistosos ou recolocação no
ranking da FIFA. E é exatamente isso o que está acontecendo sob o comando de
Dunga.
A tão malfadada bola longa (ou chutão,
como preferir) não faz mais parte do repertório verde-amarelo, a pressão alta
está mais coordenada e a compactação está próxima do ideal. Tudo dentro do
figurino neste estágio do trabalho. Isso não quer dizer que a Seleção está
pronta para vencer seus desafios até 2018, muito menos indica que o trabalho está
perto do fim. Ainda existem diversos pontos a serem aperfeiçoados como a bola
parada, a velocidade de transição e o entrosamento dos homens de frente. Sem
falar que um selecionado nacional nunca é obra pronta. A porta sempre deverá
estar aberta para a chegada de novos talentos, sob o risco de repetir 2010.
Contudo, é preciso reconhecer que algo
está sendo feito. Inclusive em termos de proposição de jogo, algo cobrado por nove
entre dez comentaristas. É notório que a figura de Dunga causa repulsa e que
sua retórica pouco adequada aos nossos tempos não é bem aceita num mundo onde o
discurso costuma valer tanto quanto a prática. Se deixarmos o preconceito de
lado, veremos que existe algo positivo em andamento, mesmo que o autor do
trabalho não seja o arquiteto dos sonhos.
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