domingo, 15 de março de 2015

A era da desinformação

Quando adolescente, ao tentar entender o funcionamento da imprensa em geral, sempre ouvi dizer que imparcialidade era a palavra-chave. Que o jornalismo imparcial era o melhor caminho para a informação. Mais velho, percebi que embora isso seja o ideal, a imparcialidade era algo utópico uma vez que todo profissional possui seus conceitos e que isso inevitavelmente o faria tomar partido do que entendesse ser o mais correto. Ou, na pior das hipóteses, tomaria partido do seu contratante. Deste modo, a imparcialidade deu lugar à isenção, termo parecido, mas que no jornalismo seria o equivalente à liberdade para informar sem estar atado a compromissos de terceiros.
Infelizmente, nesta altura da vida me parece evidente que imparcialidade e isenção, em diferentes escalas, não existem em sua plenitude nos meios de comunicação. E isso acontece porque sempre haverá interesses econômicos, políticos ou ideológicos se sobrepondo à informação. Ou melhor, a informação está lá, mas exposta da forma ou do tamanho que for mais conveniente. Alguém poderia dizer que o diabo mora nas manchetes, mas desconfio que ele sobrevive e se revigora na falta de espírito crítico do público em geral. Com esse espírito seria mais simples buscar a informação mais completa em meio a tanto achismo e indução ao erro.
O que estamos vivendo no Brasil atualmente talvez seja a expressão máxima de como a imprensa pode manipular a opinião pública sem necessariamente mentir. Basta omitir fatos – a alta do dólar no mundo inteiro aqui travestida de desvalorização do real é um bom exemplo – escolher os colunistas cujo posicionamento seja o mais conveniente, além de mascarar dados e temos o cenário perfeito para quem já está predisposto a clamar por impeachment, intervenção militar e retorno da ditadura (alô, professores de História!).
No entanto, ao contrário de outras épocas, o acesso à informação e a diversidade de meios de comunicação e interesses são capazes de suplantar, pelo menos em parte, a venda que alguns tentam colocar na população brasileira. Hoje não é tão fácil manipular num país inteiro como se fez nas décadas de 1960 e 1990, ainda mais com tantos escândalos pipocando por todas as partes. Contudo, restou provado que a regulamentação da mídia é uma necessidade real. Não como forma de interferir na liberdade de expressão ou mesmo censurar, mas para coibir a formação de oligopólios e monopólios e combater à desinformação.
Não permita que alguém pense por você.

Imagem: Reprodução

4 comentários:

Danilo Costa disse...

Michel, sou leitor do seu blog que tanto adoro. Mas vou ter que discordar em parte e não leve para o pessoal. Isenção e imparcialidade foi bem discutido. Mas o outro tema é a falta de independência. Se uma revista é de esquerda ou de direita, ou é do PT ou do PSDB não tem problema. O problema é um jornal ou jornalista chapa-branca que recebe dinheiro público pra defender uma ideologia. Isso vale para sindicatos, ongs, movimentos sociais, movimentos de minorias etc. Como no protesto de sexta, aonde os militantes ganharam um marmitex e 80 reais para estampar imagens de ditadores e genocidas. O que estamos vivendo neste domingo no Brasil é uma expressão democrática. O brasileiro está insatisfeito com o governo, motivos aos quais gastaria todos os caracteres do comentário. E isto é possível graças as nossas instituições, que impede o autoritarismo feito na Venezuela, Argentina e Bolívia. Países que criaram regulações que impede a liberdade de expressão e a informação. Democracia é muito mais do que votos e populismo. Todos sabemos que há compra de votos, clientelismo e cabides de emprego. Além de gastos altíssimos na campanha e propagandas na mídia com dinheiro público. Há uma contradição do penúltimo e último parágrafo sobre manipulação. Aliás, manipulação depende de indivíduo a indivíduo. Em um país de analfabetos funcionais e de baixíssima cultura não há crítica. Em vez de fazer regulamentações feitas em países autoritários, deveríamos copiar modelos de países democráticos. O principal aliado dos monopólios e oligopólios da mídia é o Estado, que dispõe o BNDES e o dinheiro de estatais e propagandas políticas. Uma das necessidades reais do Brasil é ter honestidade intelectual. Não deixe que o jabá estatal pense por você.

Michel Costa disse...

Danilo, em primeiro lugar, agradeço o comentário e sinta-se à vontade para comentar sempre que quiser. Quanto ao texto, tentei escrevê-lo da forma mais apartidária possível. A intenção é tratar da manipulação midiática como um todo. Isto posto, estou totalmente de acordo sobre a não utilização do dinheiro público em publicidade. Mas o que não ficou claro em sua objeção é que os veículos de oposição também recebem, receberam e querem receber ainda mais. O caso da Veja é tão emblemático que creio que nem preciso explicar. Sobre a questão da manipulação, não há contradição. Eu disse que ela existe, mas que não seja tão fácil de se realizar como no passado quando só a Globo ditava as regras.

Michel Costa disse...

Ah, faltou comentar sobre a regulamentação. Em países como EUA e Inglaterra existe algo próximo de uma regulamentação sem que isso seja tratado como antidemocrático. Nesses países não se publica mentiras ou acusações sem que haja consequências.
Abraço.

Michel Costa disse...

Corrigindo: *é tão fácil. E não "seja".