domingo, 14 de dezembro de 2014

O fim de uma era

O programa Linha de Passe de segunda-feira (08/12) marcou a última aparição ao vivo do comentarista Paulo Vinícius Coelho na ESPN Brasil. Um dos principais nomes do jornalismo esportivo brasileiro, PVC, como é chamado, sempre se destacou dos demais profissionais da casa por sua memória prodigiosa, seu poder de argumentação baseado mais em fatos do que em achismos, sua visão tática, sua rede de informantes que o permite estar quase sempre à frente das notícias e, por que não dizer, por seu carisma. A partir de janeiro de 2015, Paulo será mais um integrante do Fox Sports, um grande reforço, vale ressaltar.
Não cabe neste espaço especular os motivos que levaram à sua saída. Meus breves contatos com ele foram através de e-mails e Twitter. Até mesmo suas bem traçadas linhas na contracapa do livro “É Tetra!” foram por intermédio do amigo André Rocha. Sendo assim, a intenção deste post é tentar dimensionar o que a saída de PVC significa para a ESPN nacional que há poucas semanas também perdeu os direitos da UEFA Champions League para o Grupo Turner/Esporte Interativo, assim como já havia perdido a Serie A italiana e a Bundesliga para a Fox.   
Os fãs do esporte mais atentos devem ter percebido as mudanças ocorridas na ESPN Brasil após João Palomino assumir o posto de diretor de jornalismo antes ocupado por José Trajano. Visando aumentar a audiência, Palomino promoveu diversas alterações na programação deixando de lado o ambiente quase artesanal que tão bem identificava o canal tornando-o mais próximo do que o SporTV, seu maior concorrente, sempre fez. Paralelamente, as edições do aclamado Bate-Bola se espalharam por toda a grade promovendo horas e horas de debates que na maioria das vezes são apenas comentários em sequência sem nenhum tipo de embate de ideias.
Talvez por isso tenha me chamado tanto a atenção a troca de PVC da segunda para a terceira edição do Bate-Bola. Na versão vespertina, Paulo Vinícius e Mauro Cezar Pereira frequentemente confrontavam seus pontos de vistas em acalorados debates nos quais o assinante só tinha a ganhar. Com a separação dos parceiros dos tempos de Placar, as atrações se tornaram cada vez mais estéreis e, por que não dizer, descartáveis. Hoje, o melhor programa diário dos canais esportivos é o Redação SporTV e seu formato ágil e informativo. Justamente o que a ESPN perdeu.
Numa das últimas edições do Linha de Passe, José Trajano, um dos fundadores do canal, disse em tom de lamentação que o jornalismo que ele mais admira é o investigativo, com o repórter indo ao encontro da notícia e não com comentaristas num estúdio. Pelo visto, esse caminho não será mais seguido pela ESPN Brasil, talvez excetuando o notável trabalho investigativo de Lúcio de Castro. Com a perda de tantos campeonatos importantes, a solução mais provável é que os programas de debate ganhem ainda mais destaque. Nem que seja para falar sobre as competições mostradas pela concorrência.

Imagem: Reprodução ESPN

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A melhor fórmula

Quando o Cruzeiro deu sinais de que seria bicampeão brasileiro, ali por volta da virada do primeiro para o segundo turno, um velho discurso voltou à tona: o Brasileirão deveria retornar ao “mata-mata” como fórmula. Afinal, segundo muitos, o formato de disputa por pontos corridos se torna desinteressante a partir do momento em que um time dispara na liderança. Os mais atentos poderiam desconfiar que o tal desinteresse cresce na medida em que o virtual campeão não é um clube do Rio ou de São Paulo, mas essa é outra história. Duvido muito que o torcedor celeste tenha ficado desestimulado.
A verdade é que nosso futebol já deveria ter superado esta discussão. Sobretudo agora que a Copa do Brasil também tem seu desfecho no fim do ano e abriga novamente todas as grandes equipes do país. Quem prefere jogos finais tem seu momento com uma competição que ainda tem como bônus a classificação para a Copa Libertadores do ano seguinte. Enquanto isso, o campeonato nacional tem razões para ser realizado em pontos corridos em turno e returno. E não são poucas.
A começar pelo aspecto financeiro das equipes. Para que se realizem mais três fases – quartas de final, semifinal e final – precisamos de mais seis datas após o término da primeira. E Isso, com a concomitância de competições como Copa do Brasil ou Sul-Americana, representa no mínimo um mês a menos de atividade para os doze times que não se classificarem para as finais. Na prática, esse cenário dificulta negociações com televisão, patrocinadores e significa menos dinheiro de bilheteria. Prejuízos que os quatro eliminados nas quartas de final também sentirão em parte.
Outro aspecto relevante é a meritocracia. Imaginar o vencedor da primeira fase eliminado pelo oitavo colocado, que muitas vezes chega cambaleante, é tudo o que um torneio não precisa. Se a fórmula fosse aplicada atualmente, por exemplo, teríamos Cruzeiro e Atlético Paranaense lutando por uma vaga nas semifinais. Caso os paranaenses avançassem, todo o trabalho e investimento cruzeirense iriam por água abaixo em duas partidas. Difícil encontrar disparate maior.
Por fim, mas não menos importante, está o planejamento. Com a mudança ocorrida em 2003, passou a ficar claro para os dirigentes que o título está muito mais ao alcance de quem se organiza para conquistá-lo. Num país onde o amadorismo ainda impera no esporte, nada melhor do que termos uma liga que por sua natureza fomenta o planejamento dos clubes. Não por acaso, a edição de 2014 premiou a agremiação que fez tudo da forma mais correta possível. Parabéns, Cruzeiro, legítimo campeão brasileiro.
Coluna escrita originalmente para o site Barroso em Dia.
Foto: Cristiane Mattos / Futura Press

domingo, 23 de novembro de 2014

Em obras

Quando se pensa em Seleção Brasileira, o ano de 2014 sempre será lembrado pela tragédia futebolística ocorrida na Copa do Mundo. Daqui a 50 anos ainda encontraremos quem esteja debatendo sobre os motivos que levaram o selecionado mais vitorioso da história a ser massacrado dentro de sua própria casa. Todavia, como o “levanta, sacode a poeira e dá volta por cima” é também um lema do povo brasileiro, nada mais justo do que partir para a ótica da reconstrução da equipe.
Com a saída de Scolari, Dunga não era o nome preferido de imprensa e torcida. A Seleção que o ex-capitão comandou entre 2006 e 2010 era muito competitiva, mas carecia de criatividade. É quase consenso entre os críticos que nosso futebol deveria se inspirar nos exemplos de Espanha e Alemanha e construir um time capaz de propor o jogo como um dia fomos capazes de fazer. Uma questão já debatida neste espaço é se temos jogadores para tal missão. A resposta mais sensata neste momento é não. Durante anos, formamos atletas de estilo vertical, baseando-nos na tese de que os mais talentosos devem ficar mais próximos do gol adversário. Com isso, o meio-campo se tornou uma área muito mais de destruição do que de construção. Sobretudo, pela necessidade de cobertura de laterais apoiadores.
Passou quase despercebida a viagem da comissão técnica pela Europa após os amistosos contra Turquia e Áustria. Na Alemanha e na Inglaterra, Dunga se reuniu com Jürgen Klopp e José Mourinho, técnicos conhecidos pelo estilo intenso e vertical ora visto no Borussia Dortmund e no Chelsea. Alguém provavelmente vai pensar num diálogo com Guardiola, porém, está bastante claro que o tipo de jogo que Dunga enxerga como ideal para os seus comandados certamente não é o tiki-taka. E isso não significa que ele está errado.
É possível aproveitar as qualidades que o jogador brasileiro oferece hoje e ser competitivo ainda assim. Nos seis amistosos realizados depois do Mundial, o novo treinador deu mostras de que teremos uma equipe (ao lado) mais organizada, compacta e intensa do que a anterior. O fato de ter sacado do grupo a figura de um centroavante mais fixo é um indício de que o desejo é que todos participem do jogo. Em entrevista após a vitória sobre os austríacos, o meia Roberto Firmino destacou ao microfone aquele que é o mantra de seu chefe: “Se igualarmos a pegada, nossa qualidade individual vai se sobressair.” Infelizmente, há quatro anos, esse pensamento não se confirmou plenamente.
De qualquer forma, é impossível negar que o saldo deste reinício é positivo. Mais do que as seis vitórias, foi importante resgatar o moral do grupo. Vencer sempre será o melhor remédio para se curar as feridas do futebol. Deste modo, a Seleção encerra seus trabalhos em 2014 e se reúne novamente em março do ano que vem. Embora a CBF não confirme, os rivais devem ser Nigéria e França. Aproveitando a ocasião, este colunista também se despede temporariamente deste espaço e promete retornar às atividades em 2015. Até lá!  
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.

Imagem: Getty

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Nuvens sobre os aplausos

A torcida turca sempre foi conhecida por seu fervor, indubitavelmente, um traço da cultura e da alma do povo otomano. Quando as seleções de Turquia e Brasil deram o pontapé inicial do amistoso disputado no Estádio Sukru Saracoglu, os torcedores estavam apoiando seu selecionado como sempre fizeram. Contudo, além da indefectível paixão pelo futebol, os turcos também são fãs do talento brasileiro. Algo que Neymar & Cia estavam dispostos a oferecer em Istambul naquela noite.
Não foram apenas quatro gols e nenhum sofrido. A Seleção Brasileira de Dunga tem realizado boas partidas dentro das possibilidades de um novo ciclo. A intensidade cobrada nos treinamentos é vista em campo e o comportamento tático tem sido o mesmo que marcou a primeira passagem do técnico. Obviamente, ainda se espera um volume maior de jogo no meio-campo, mas a transição afoita que se viu no Mundial deste ano está sendo solucionada com uma saída de bola mais tranquila, de pé em pé, e com a presença dos dois volantes. Os lançamentos longos para o centroavante escorar para quem vem de trás estão ficando cada vez mais no passado.
Todavia, o que realmente transformou o amistoso vencido pelo Brasil foram as atuações de Neymar e Willian. O primeiro somando mais dois gols às suas invejáveis marcas, além de uma série de jogadas que levaram seus marcadores à loucura. O segundo mostrando por que deveria ter tido mais oportunidades com Scolari. Seu “elástico” sensacional sobre dois marcadores e seu dinamismo com e sem a bola serviram para assegurar espaço entre os titulares nesse reinício. Atuações suficientes para trazer os adeptos locais para o lado verde-amarelo da força.
Por razões óbvias, não será tão simples para a Seleção Brasileira reconquistar sua própria torcida. As feridas da Copa do Mundo ainda estão abertas e não serão cinco vitórias em amistosos que transformarão toda a frustração em incentivo. Para essa missão, as Eliminatórias serão muito mais determinantes. Somente diante da torcida brasileira será possível dimensionar até que ponto o revés no Mundial pode ser superado. Para o primeiro momento, o que vimos até agora pode ser classificado como auspicioso.

Porém, como nem tudo são flores, os bastidores da Seleção continuam mais quentes do que o desejado. Após o corte do lateral Maicon por ter se apresentado muitas horas depois do combinado, foi a vez de Thiago Silva polemizar sobre a perda da tarja de capitão para Neymar. À imprensa, o zagueiro disse que se sentia chateado pelo acontecido e que o jovem atacante não o havia procurado para conversar sobre o assunto. Em seguida, diante da enorme repercussão, Thiago recuou, apareceu numa descontraída – e oportuna – foto com Neymar e culpou a imprensa pelo suposto superdimensionamento do episódio. Por sua vez, Dunga procurou sepultar a questão de forma apaziguadora, mas firme. Deixou claro que todos têm o direito de se manifestar, mas que a Seleção possui uma hierarquia.
Se a atitude do defensor terá mais desdobramentos, possivelmente só saberemos em futuras convocações. Ex-atleta do Milan, clube conhecido pelo apreço por seus líderes históricos, e atual dono da braçadeira no PSG, é compreensível que Thiago Silva tenha se apegado à condição de capitão da Seleção Brasileira. No entanto, a crise de choro nas oitavas de final perante o Chile, onde sua fraqueza poderia ter desestabilizado o grupo por completo, foi determinante para que todos percebessem que ele não tinha o perfil para a missão. Ainda entre os melhores zagueiros do planeta, Thiago pode ser muito útil para o Brasil. Nesse cenário, cabe ao próprio jogador entender que sua atual aflição pode ser, no fundo, uma boa notícia. Afinal, ficou bastante evidente que a tarja de capitão da Seleção se tornou um fardo pesado demais para ele.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Mowa Press

domingo, 9 de novembro de 2014

Neymar e a legião estrangeira

Único brasileiro indicado à Bola de Ouro FIFA 2014, artilheiro do Barcelona na temporada, quinto maior goleador da Seleção Brasileira com 40 gols, capa de grandes publicações, Neymar mostra que está alcançando a maturidade com apenas 22 anos. Até mesmo o “file de borboleta” que sempre o caracterizou ficou para trás. Com 4,5 kg a mais, o brasileiro adquiriu a musculatura necessária para o jogo mais físico que encontrou na Europa. “Ele está ganhando massa, ganhando força e, consequentemente, mais potência”, explica o preparador físico da Seleção, Fabio Mahserehdjian.
Que Neymar se tornou o jogador mais importante da Seleção não é nenhuma novidade. Assim como sua quarta aparição como um dos postulantes à premiação máxima da FIFA também não surpreende ninguém. O que vem chamando a atenção é sua estabilização como um dos grandes nomes do futebol mundial. Antes coadjuvante de Lionel Messi, Neymar começa a dividir o protagonismo no Barcelona com o gênio argentino. Logicamente, a maior liberdade recebida do técnico Luis Enrique e o deslocamento de Messi para uma posição onde se tornou mais “arco” do que “flecha” contribuíram para essa notável evolução, mas nada disso faria diferença se Neymar não fosse o craque que muitos duvidavam ser.
Neste momento, as comparações com Robinho ficaram para trás. Além da origem santista e do gosto pelo drible, pouca coisa os une. Negociado ao Real Madrid em 2005 como novo Ronaldinho Gaúcho, Robinho nunca se afirmou no Velho Continente. E, mesmo na Seleção, sempre pairou alguma desconfiança pelos incontáveis gols perdidos. Por sua vez, Neymar tem se notabilizado não só pelo faro de artilheiro, como pela maestria nas cobranças de falta. A faixa de capitão que agora enverga é apenas mais uma prova de que a pressão de ser a referência não incomoda o atacante. Está cada vez mais claro que o seu patamar é entre feras do calibre de Romário, Ronaldo e Rivaldo.
No entanto, cabe a Dunga estruturar uma equipe que dê suporte ao seu melhor jogador. Um time que funcione bem mesmo num dia ruim do camisa 10 ou em sua ausência. Graças ao nosso inchado calendário que não se interrompe em datas FIFA, a lista de convocados para os amistosos diante de Turquia (12 de Novembro em Istambul) e Áustria (18 de Novembro em Viena) não conta com atletas que militam no Brasil. Portanto, esta será a chance para o técnico observar nomes que ainda não tinham recebido oportunidade neste novo ciclo.
Entre os chamados, destacam-se os retornos do zagueiro Thiago Silva, do goleiro Diego Alves e do meia Lucas Moura. Atravessando boa fase no Porto, Casemiro é mais um indício de que Dunga está à procura de volantes que saibam construir o jogo. Também estreante, Roberto Firmino finalmente terá a chance de comprovar na Seleção tudo o que os mais atentos perceberam no Hoffenheim. Artilheiro da atual edição da UEFA Champions League, Luiz Adriano é o primeiro centroavante convocado após as péssimas apresentações de Fred e Jô no Mundial. Mesmo que a intenção inicial seja a manutenção de uma equipe sem a presença de um nove clássico, não deixa de ser válida a opção de um jogador de área no banco de reservas.
Curiosamente, a nova sensação tupiniquim em gramados europeus ficou de fora da lista. Destaque máximo do Benfica nesta temporada, o meia Anderson Talisca vem chamando a atenção pelos gols e arrancadas fulminantes e já despertou o interesse de gigantes como Chelsea e Manchester United. Convocado por Alexandre Gallo para a Seleção Brasileira sub-21, Talisca está no radar de Dunga e possivelmente figurará em futuras convocações do time principal. Mesmo com todos os seus problemas, o futebol brasileiro tem a capacidade de se renovar como nenhum outro. Resta saber se a nova comissão técnica conseguirá conduzir esse processo de forma satisfatória.

Atualização (10/11): Confirmando sua excelente fase, Talisca foi convocado hoje para substituir o lesionado Lucas Moura nos amistosos diante de Turquia e Áustria. Nada mais justo. 
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagens: Reprodução The Times e AFP

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Ao (contra-)ataque!

Em quatro partidas, quatro vitórias, oito gols marcados e nenhum sofrido. No caminho, rivais como Colômbia e Argentina foram abatidos. Esse é o saldo da nova Seleção Brasileira novamente sob o comando de Dunga. Mas, por que isso não parece ser suficiente para convencer público e crítica? Quem ouve os principais comentaristas ou lê os maiores colunistas tem a impressão de que os resultados têm pouca ou nenhuma importância dentro do cenário pós-Copa. E não é difícil entender os motivos.
Há anos o Brasil vive o mesmo dilema: Queremos mudança nos rumos do futebol, mas não temos dirigentes e técnicos capacitados para a missão. Para piorar, muitos desses cartolas e profissionais simplesmente não identificaram a existência do problema e seguem como se ainda detivéssemos o principal campeonato do planeta. E, de certo modo, a Seleção representa o consolidado de tudo o que tanto se critica no futebol brasileiro e que precisa ser mudado. E talvez esteja aí o nosso erro.
Desde a era Guardiola no Barcelona, passando pela ascensão da Espanha até o ressurgimento da Alemanha, um modelo de jogo se tornou uma espécie de ideal imaginário para o Brasil. Ou melhor, parece ter se tornado a fórmula única para a retomada do estilo há muito perdido. Era como se a adaptação de jogadores de estilo rápido e vertical que produzimos nas últimas décadas para um estilo voltado para o toque de bola fosse uma simples questão de opção do treinador da vez. Infelizmente, a vida real não funciona dessa forma.
A Seleção é o topo da pirâmide. Uma equipe formada por atletas que militam em diversas partes do mundo, mas com uma característica em comum. São jogadores que, em sua maioria, possuem um estilo de jogo vertical, de condução de bola e afeito ao contra-ataque. Assim são Neymar, Diego Tardelli, Oscar, Philippe Coutinho, Willian, Hulk, Robinho, Kaká e Lucas Moura. Paulo Henrique Ganso é um dos poucos a exibir um repertório diferente. E talvez justamente por isso não faça parte dos planos imediatos de Dunga.
Neste cenário, nada mais lógico do que vermos o técnico estruturando seu time para marcar forte e aproveitar os espaços. Com os jogadores que temos, esse é o caminho mais natural a seguir. Além disso, equipes como Chelsea, Real Madrid, Atlético de Madrid e Borussia Dortmund mostraram, recentemente, que é possível vencer de outras formas, desde que não se perca de vista conceitos básicos do futebol atual como organização, compactação, intensidade e jogo coletivo. Isso não quer dizer que nunca mais haverá uma filosofia propositiva no Brasil, mas essa revolução só será possível a partir da base. De baixo para cima.  
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Sportv

domingo, 12 de outubro de 2014

Com a cara de Dunga

Foram apenas três amistosos, algumas horas de treino e períodos de convivência. Contudo, os primeiros jogos da Seleção Brasileira sob as ordens de Dunga deram mostras de que seu estilo de comandar não mudou. Vimos uma equipe aguerrida, buscando fechar os espaços, renunciando à posse de bola em diversos momentos e vencendo com alguma dose de sofrimento. Fora de campo, um técnico vibrante e irritadiço como sempre. De certo modo, é como se os quatro anos que se passaram desde a eliminação para a Holanda em 2010 não tivessem existido. Mas existiram.
Sendo pragmático, é elogiável ver o treinador de um selecionado conseguindo impor suas ideias em tão pouco tempo. A título de comparação, Mano Menezes só conseguiu esboçar algo parecido quando chegou a dois anos no cargo. No entanto, há uma diferença crucial: Enquanto Mano almejava alterar o perfil da Seleção, tentando reimplantar o protagonismo perdido, Dunga optou pelo mais simples, buscando jogar no erro do adversário, algo que corresponde ao tipo de jogador que o Brasil produziu nos últimos anos.
Embora seja difícil saber se Dunga realmente enxerga todo o cenário do futebol brasileiro e mundial ou se apenas implanta sua visão desse esporte, a verdade é que ele conseguiu atingir seu objetivo inicial, ou seja, venceu seus primeiros duelos e viu sua equipe atuar de modo semelhante ao que fazia quando de sua passagem anterior. Dentro desse cenário, melhor impossível. Porém, dentro dos anseios do público, a distância para o modelo tido como ideal é grande.
A começar por sua relação com a imprensa. Pelo menos desde 1990, Dunga vive às turras com os jornalistas esportivos. Nunca digeriu ter visto seu nome batizando o fracasso da Seleção no Mundial da Itália. Tanto que fez questão de “dedicar” o tetracampeonato conquistado nos EUA a esse segmento. E a recíproca é verdadeira. Na última sexta-feira, no programa “Linha de Passe”, o comentarista José Trajano fez questão de lembrar que não gosta do técnico. Pouco depois da vitória por 2 x 0 sobre a Argentina, Mauro Cezar Pereira criticou Dunga pelo entrevero com a comissão técnica rival mesmo sem saber direito o que tinha acontecido.
Todavia, mais importante do que vencer a desconfiança da imprensa é o resgate da competitividade da Seleção. Dunga conseguiu isso em sua primeira passagem, mas sua equipe tinha como ponto fraco a incapacidade de romper defesas mais fechadas, preferindo o contragolpe. O problema é que este provavelmente será o comportamento de 90% dos adversários daqui por diante. Para o Brasil, propor o jogo é também uma obrigação histórica que um peso de cinco estrelas impõe. Sem dúvida trata-se do maior desafio deste ciclo.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Fred Dufour/AFP

domingo, 5 de outubro de 2014

Transição e renovação

Não existe fórmula exata para se promover a renovação de uma seleção. Cada treinador adota as medidas que julga necessárias de acordo com as circunstâncias e suas convicções. Além disso, antes mesmo de se pensar em renovação, é preciso promover a transição entre gerações para que não haja uma lacuna entre jogadores jovens e experientes. Em 2002, Parreira teve a paciência necessária para incorporar novos talentos ao grupo pentacampeão, mas errou ao não identificar focos de desinteresse nas grandes estrelas antes do Mundial de 2006. Em seguida, Dunga respondeu forte ao pedir comprometimento, porém, falhou ao se apegar demasiadamente aos atletas que lhe deram suporte durante a trajetória até a África do Sul. Por sua vez, Mano Menezes cometeu o pecado de romper com tudo o que seu antecessor havia feito, apostou na juventude e caiu sem encontrar seu time ideal.
Quanto a Felipão, sua chegada sempre foi mais uma medida política e uma tentativa de recolocar a Seleção Brasileira nos trilhos do que uma decisão estratégica. Embora não possa ser responsabilizado por tudo o que ocorreu na última Copa, ficou evidente logo no início do torneio que a fórmula da vontade acima da organização dificilmente vingaria no futebol atual. Por seu estilo aguerrido dentro e fora de campo, muitos acreditam que Dunga reza a mesma cartilha, todavia, sua primeira passagem foi marcada muito mais pelo pragmatismo do que por um estilo “vamo-que-vamo”. Sua Seleção poderia ser criticada pela falta de ideias, não pela falta de organização. De certo modo, seu estilo pode ser comparado ao do argentino Diego Simeone. O que não é, necessariamente, um elogio.
Dunga é um obcecado por vitórias. Em seu dicionário, jogar bem é vencer e marcar época significa conquistar títulos. Talvez por isso não entenda por que a Seleção de 1982 é adorada mesmo sem ter vencido nada. Deste modo, não surpreende a iniciativa de trazer de volta à pauta jogadores que dificilmente chegarão com fôlego a 2018. A presença de nomes como Maicon, Elias, Robinho e agora Kaká nas duas primeiras convocações indica que a preocupação com o presente é grande. Embora não tenha deixado nada explícito, Dunga quer espantar logo o fantasma dos 7 x 1. Não por acaso, levará o que tem de melhor para pegar a Argentina e sinalizou positivamente para futuros amistosos contra a Alemanha.
Mesmo diante dessa constatação, a iniciativa chama a atenção. Aos 32 anos e com passagem marcada para defender o Orlando City, é pouco provável que Kaká siga como um atleta de nível de Seleção por muito tempo. Bem mais jovem e vivendo boa fase, Ganso seria uma opção que faria mais sentido tanto pela idade quanto por suas características. Neste momento, o Brasil não tem nenhum meia capaz de cadenciar o jogo. Mesmo que o time idealizado por Dunga não tenha como objetivo reter mais a bola, não deixa de ser interessante ter alguém como o são-paulino como alternativa.
Paralelamente, também existe a percepção de que o radar da comissão técnica segue atento a novos valores. Chamado preventivamente por causa da lesão de Jefferson, o goleiro Marcelo Grohe vem se apresentando em grande forma no Grêmio. Convocados depois dos cortes de Marquinhos, Ramires e Fernandinho, o zagueiro Juan Jesus e os volantes Souza e Rômulo fazem parte de um perfil de renovação. Apesar de Juan ser um defensor não mais que razoável, Souza e Rômulo são opções bastante auspiciosas do comandante brasileiro, uma vez que são exemplos típicos de volantes capazes de marcar e atacar com eficiência, seguindo a tendência mundial. O que indica que, além do momento, Dunga também olha para o futuro.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Getty Images

domingo, 21 de setembro de 2014

A Seleção não tem culpa

Na última quarta-feira, Dunga, técnico da Seleção Brasileira, divulgou a lista contendo os 22 convocados para os amistosos diante de Argentina, 11 de outubro em Pequim, e Japão, dia 14 em Cingapura. Como se esperava, a presença de nomes que atuam no Brasil provocou revolta nos torcedores dos times que irão ceder jogadores aos seus respectivos selecionados. Contando com a apresentação, as ausências serão sentidas na 27ª e 28ª rodadas do Brasileirão. Desfalques que, em alguns casos, podem fazer a diferença.
Embora a reação automática dos torcedores seja reclamar da comissão técnica da Seleção e da CBF, é preciso saber que a questão é mais profunda do que parece. Desde os anos 1990, a FIFA instituiu datas específicas para jogos de seleções dentro de um calendário previamente definido. Todas as federações nacionais têm conhecimento do mesmo e se planejam para que esses períodos não coincidam com a temporada regular dos clubes. Ou melhor, quase todas.
Graças à ligação entre CBF e federações estaduais, simplesmente não há datas suficientes para a instituição de um calendário decente no Brasil sem que interesses sejam atingidos. A CBF não quer desagradar seus membros que, por sua vez, só existem porque alimentam a própria entidade. Por sua vez, os clubes são subservientes tanto às suas federações quanto à cúpula ora dirigida por José Maria Marin. Sendo assim, na maioria das vezes, a reclamação se restringe a técnicos, jornalistas e torcedores. Qualquer outro barulho não passa de pirotecnia.
Não resta dúvida de que os atletas não se incomodam com o chamado. Eles têm absoluta ciência do quão benéfico para suas carreiras é a chancela da Seleção. Mesmo que desfalquem suas agremiações, as ambições pessoais estão sempre à frente. Em todo o caso, Dunga já deixou aberta a possibilidade do envio de uma carta solicitando a dispensa de algum convocado. Obviamente, tais missivas nunca serão enviadas. Dirigentes e jogadores sabem que esse não é o caminho.
Curiosamente, a nova lista traz um raro nome que um dia recusou a Seleção. Em 2011, quando ainda defendia o Grêmio, Mario Fernandes protagonizou um estranho episódio de recusa de convocação. À época, o atual lateral-direito do CSKA, declarou problemas particulares e não se apresentou para o amistoso contra a Argentina em Belém. Justamente o primeiro adversário na turnê pela Ásia. Como disse o técnico Dunga, todos merecem uma segunda chance. Mas nunca é bom arriscar.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: André Brant/Hoje em Dia

domingo, 14 de setembro de 2014

Deixem o homem trabalhar

Quando o posto de técnico da Seleção Brasileira ficou vago, quase ninguém pensou no retorno de Dunga. Apesar da hipótese de um nome estrangeiro ter sido admitida pela CBF, todas as direções apontavam para a escolha de Tite, o mais vitorioso e atualizado profissional brasileiro dos últimos tempos. Todas menos uma: a política. Segundo a cúpula da entidade, o ex-comandante do Corinthians era figura ligada ao desafeto Andrés Sanchez e, portanto, carta fora do baralho.
Não há dúvida que a volta de Dunga não atendeu os anseios da torcida brasileira. Depois do que houve na última Copa do Mundo, esperava-se uma mudança de rumo na condução da Seleção. Apesar do time dirigido no ciclo 2006/2010 ter sido competitivo, o ex-volante sempre o organizou visando o contra-ataque. Nunca houve uma demonstração de busca por um futebol protagonista. Na visão do capitão do Tetra, só a vitória interessava e o resto não passava de perfumaria.
E parte dessa mentalidade se mantém. Como é de sua natureza, Dunga é obcecado por vencer. Como disse Neymar, é o tipo de pessoa que “não gosta de perder nem cara ou coroa” e isso se reflete em suas equipes. No entanto, algumas mudanças em relação ao trabalho anterior já foram notadas. Diferente de sua primeira passagem e do que era visto com Felipão, esta Seleção tem um apreço maior pela troca de passes e pela posse, sem falar na ausência de um centroavante clássico. Os lançamentos longos desde os zagueiros foram repreendidos e a bola também não é alçada das laterais do campo de qualquer maneira. Por outro lado, a recomposição defensiva segue a mesma linha que um dia arrancou elogios de Fabio Capello.
Logicamente, é muito cedo para dizer que este novo trabalho dará certo. Do mesmo modo, também não é possível falar em fracasso antecipado. Durante o caso que resultou no desligamento de Maicon muitos se anteciparam para dizer que o técnico errou na condução do episódio. Alguns dizendo que o motivo da dispensa deveria ser divulgado, outros afirmando que o melhor era manter o lateral no grupo e só depois não convocá-lo mais. Curiosamente, o próprio jogador agradeceu a maneira como tudo foi conduzido. E ninguém melhor do que ele para saber o tamanho do seu ato de indisciplina. No fim, acabou ficando a impressão de que o julgamento à distância não foi o mais correto. Do mesmo modo que falar em sucesso ou fracasso de Dunga baseando apenas pelo gosto pessoal não parece a maneira mais justa e inteligente.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: AFP

domingo, 7 de setembro de 2014

Primeiros passos

Como reza o manual dos treinadores precavidos, Dunga fez questão de dar o favoritismo do amistoso entre Brasil e Colômbia aos rivais. Sem dúvida, o técnico tinha conhecimento da força do elenco comandado há dois anos pelo argentino José Pékerman, mas também havia a percepção de que não se coloca pressão sobre um grupo recém-formado, ainda mais quando boa parte deste acaba de emergir do pior momento da história do selecionado nacional. Contudo, Dunga sabia que poderia vencer a partida e trabalhou para isso.
Durante a última semana, noticiou-se que os treinos da Seleção estavam mais longos e intensos do que se via com Luiz Felipe Scolari. As atividades duram agora mais de duas horas e foram sempre com bola. Perguntados sobre a diferença entre os dois técnicos, alguns jogadores, com os rodeios de praxe, disseram que o novo técnico é mais detalhista que seu antecessor. O espírito aguerrido e vencedor do capitão do Tetra também foi mencionado. Restava saber como o curto período de treinos se refletiria em campo.
Previamente, a lista de convocados indicava um time montado para o presente. Nomes como Maicon – cortado por indisciplina neste domingo – Filipe Luís, Ramires, Elias e Diego Tardelli dão a certeza de que as vitórias precisam voltar a fazer parte do dicionário canarinho. Ao contrário do que ocorreu na reformulação total promovida por Mano Menezes há quatro anos, com Dunga as alterações devem se dar de maneira gradual. Embora seja muito cedo para análises mais profundas, vimos uma Seleção Brasileira preocupada em fechar os espaços, marcar forte e contra-atacar rápido. A mesma fórmula que o técnico usou durante sua primeira passagem.
Taticamente, duas mudanças se fizeram notar. A primeira, bastante auspiciosa, mostra que o maior dilema da Era Felipão pode ser solucionado com treinamento e posicionamento. A transição defensiva, antes marcada pela inoperância dos volantes e por lançamentos longos que normalmente devolvia a posse ao adversário foi substituída, por orientação de Dunga, por uma saída de pé em pé com participação dos dois volantes e laterais bem abertos (abaixo).

A segunda, que pode se tornar usual neste ciclo, foi a ausência de um centroavante fixo. Como é sua característica, Diego Tardelli movimentou-se bastante, buscou jogo e aliviou Neymar da tarefa de recuar para marcar. Na prática, o leve quarteto ofensivo não deixou referência para os zagueiros rivais, porém, era constante a presença de alguém para concluir as jogadas. Uma solução interessante para a falta de um finalizador nato.
Autor do gol da vitória, seu 36º em 55 jogos, Neymar continua sendo a principal referência da equipe. Movimentando-se por todo o campo de ataque, o camisa 10 teve liberdade para carregar a bola e tentar jogadas individuais. Por exercer a chamada “liderança técnica”, recebeu a missão de ser o mais novo capitão da história da Seleção. Uma demonstração de perda confiança em Thiago Silva, devido ao descontrole emocional mostrado durante o Mundial, e em David Luiz, pelos rompantes ofensivos. Por outro lado, fica evidente que o protagonismo de Neymar continua em alta. Resta saber como será o time que lhe dará suporte.   
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagens: Bruno Domingos/Mowa Press e Sportv

domingo, 31 de agosto de 2014

As aventuras de David Luiz

A declaração de José Mourinho foi sintomática: “David Luiz fez coisas importantes aqui, foi sempre um bom profissional. Vamos sentir sua falta como um cara legal. Mas, do ponto de vista do futebol, acredito que nossa equipe é mais forte nesta temporada do que era.” E completou: “Na última temporada, ele não foi nossa primeira opção regularmente. Como zagueiro, definitivamente, foram John Terry e Gary Cahill na temporada inteira. No meio de campo, ele tem presença física e nos proporcionou coisas importantes, especialmente na Champions, quando Matic não pôde jogar. Mas agora Matic pode jogar a Champions, então, não perdemos tanto fisicamente”, concluiu.
Quem acompanhou a temporada passada do Chelsea, sabe que o técnico não está mentindo. Com Mourinho, o zagueiro brasileiro não era a primeira opção e sua saída estava delineada antes mesmo da Copa do Mundo. Conhecido pelo sólido padrão tático que oferece às equipes que comanda, o português dificilmente seria adepto de um defensor que se lança ao ataque sem muita preocupação com a retaguarda, mesmo que fosse tecnicamente superior aos seus titulares. Crítico feroz da nova contração do Paris Saint-Germain, o ex-lateral Gary Neville costumava defini-lo como “um jogador de Playstation controlado por um garoto de 10 anos.”
Jornalista radicado no Brasil, o inglês Tim Vickery, embora mais comedido do que Neville, também faz coro às críticas do compatriota ao reconhecer as qualidades de David Luiz, mas lembrar que ele está sempre “em busca da glória 30 metros à frente”. Tim foi um dos poucos a perceber que o zagueiro descumpriu suas obrigações defensivas durante a Copa do Mundo: “Ele não estava jogando para o time, estava jogando para a galera”, explicou. Embora o carisma e o estilo aguerrido tenham feito sucesso com a torcida, as atuações contra Alemanha e Holanda ultrapassaram com folga o limite da irresponsabilidade.
Contratado pelo PSG como o zagueiro mais caro da história (cerca de € 49,5 milhões), David Luiz tem um horizonte favorável pela frente. Vai atuar ao lado de Thiago Silva, seu parceiro na Seleção Brasileira, e será chefiado por Laurent Blanc, um dos maiores defensores que o futebol francês já produziu. Do amigo, poderá ouvir os sábios conselhos oferecidos por Alessandro Nesta nos tempos de Milan. Com o técnico, líbero dos bons, pode adquirir o timing certo para apoiar o ataque. Sem dúvida, um panorama bem mais interessante do que aquele que vivia em Londres.
Nome confirmado na primeira convocação de Dunga, David tem agora uma grande oportunidade de se redimir. Avesso a fanfarronices, o novo treinador da Seleção Brasileira certamente está atento ao que ocorreu no Mundial. Para muitos, os recados deixados nas entrelinhas durantes as coletivas estavam direcionados ao o zagueiro e não a Neymar, como se pensou. Sem a presença do lesionado Thiago nos amistosos diante de Colômbia e Equador, é provável que a faixa de capitão retorne ao braço de David. Caso isso se confirme, seria um voto de confiança do comandante. E, pelo que se conhece do exigente ex-volante, é bom ele não decepcionar.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

domingo, 24 de agosto de 2014

O rei do deserto


Após a conquista da Euro 2008, o lendário Luis Aragonés assumiu o Fenerbahçe naquele que seria seu último trabalho como técnico. Na equipe turca, uma das primeiras alterações táticas promovidas pelo experiente treinador foi recuar o meia-atacante Alex para ser o armador do time. Acostumado a atuar próximo à meta adversária, o brasileiro, a princípio, estranhou a medida, mas logo ouviu do treinador que a ideia era qualificar o passe no meio-campo do Fener. Era o mesmo princípio usado na Seleção Espanhola sendo aplicado em seu novo clube.

A partir daquele momento, Alex se tornou o armador do Fenerbahçe assim como Xavi era na Roja. Uma função tão bem representada por nomes do calibre de Stefan Effenberg, Steven Gerrard e Frank Lampard e consolidada nos pés de Luka Modric, Toni Kroos e Thiago Alcântara, mas que encontrou sua quase extinção no Brasil. Logo no país que um dia aplaudiu a classe de Didi, Gérson e Paulo Roberto Falcão. Hoje, dividimos o meio-campo entre jogadores que marcam e os que atacam. No meio, abriu-se uma cratera. Não por acaso, vivemos uma das maiores crises criativas de nossa história futebolística.

Taticamente, a explicação não é das mais complexas. Nos anos 1980, nossos antigos ponteiros perderam espaço para a inclusão de mais um meio-campista defensivo. Consequentemente, os alas passaram a atuar por, praticamente, toda a faixa lateral do gramado. Escrevo “praticamente”, porque suas subidas precisavam de uma cobertura que só dois volantes poderiam realizar. Desse modo, nasceu o chamado 4-2-2-2 que ainda serve como base para equivocadas ilustrações táticas na televisão e para premiações como a Bola de Prata da revista Placar.

Tempos depois, uma decisão que parecia acertada há 30 anos, tornou-se o grande dilema do futebol brasileiro. Com a compactação dos times, ora uma regra mundial, o que antes era uma zona de destruição passou a ser o centro das equipes. Isso significa que o jogo passou a ser gerado a partir dos volantes e estes precisam agir de forma intensa com e sem a bola. O crônico problema na transição defensiva e na proposição da Seleção Brasileira nos últimos anos é resultado direto desse ultrapassado conceito. Sem jogadores capazes de organizar de trás e sem, aparentemente, haver treinamentos voltados para sanar essa deficiência, a solução encontrada foi a mais pobre possível: Lançamentos diretos desde os zagueiros. Não por acaso, raros foram os lances que obtiveram êxito na Copa.
Num primeiro momento, a convocação realizada pelo técnico Dunga na última terça-feira segue o antigo modelo. Dos quatro volantes chamados, somente Fernandinho se aproxima da figura de um armador. Apesar de ter um passe correto, Luiz Gustavo é, basicamente, um marcador. Ramires é um condutor de bola e Elias pode ser descrito como um volante de infiltração. Na prática, a organização seria realizada por Oscar e Philippe Coutinho, se este jogar. Contudo, ambos atuam, prioritariamente, como meia-atacantes, oferecendo o último passe. Não são construtores de fato. No Chelsea e no Liverpool, os principais armadores são Fábregas e Gerrard, respectivamente.

Entre todos os jogadores brasileiros nenhum se encaixa melhor na definição de armador do que Paulo Henrique Ganso. Dotado de uma visão de jogo incomum e técnica refinada, o meia do São Paulo consegue ditar o ritmo e descobrir companheiros onde ninguém mais enxerga. Impregnado com a noção de que meias devem se aproximar mais do gol, Muricy Ramalho costuma dizer em entrevistas que seu comandado deve entrar mais vezes na área. Talvez não tenha percebido que o habitat de Ganso é justamente o meio-campo. Para ele, finalizar em área deveria ser muito mais uma situação dentro de determinados lances do que uma obrigação frequente. Suas maiores qualidades sempre se mostraram mais úteis no meio-campo, construindo jogadas.

Em seu início de carreira, Andrea Pirlo foi um meia-atacante apenas razoável. Não tinha velocidade e habilidade para se livrar dos marcadores, embora tivesse muita técnica. Um dia, sem poder contar com o lesionado Fernando Redondo, Carlo Ancelotti perguntou se Pirlo não gostaria de fazer um teste na função. E o mundo conheceu um dos maiores registas da história. Todavia, como bem define o jornalista André Rocha, o conceito de meio-campista ainda não chegou ao Brasil. Muitos que não veem a hipótese de Ganso atuar mais recuado possivelmente não sabem que o meia foi o líder de desarmes do Tricolor por um bom tempo. A contribuição defensiva existe, o que não existe é a compreensão de que estamos desperdiçando um potencial craque tentado transformá-lo em algo que ele não é. Enquanto esse entendimento não acontece, continuamos a ver um deserto de ideias no círculo central.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Alexandre Battibugli/Placar

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Pistas de um novo caminho

Nesta terça-feira, o técnico da Seleção Brasileira, Dunga, realizou sua primeira convocação visando os amistosos diante da Colômbia, dia 5 de setembro em Miami, e Equador, 9 de setembro em Nova Jérsei. Entre os 22 chamados, apenas 10 que disputaram a Copa de 2014. Uma prova de que mesmo dentro de um discurso de mudança gradual, alguns nomes provavelmente serão suprimidos deste novo ciclo.
Como era esperado, veteranos como Júlio César (34), Maxwell (32) e Fred (30) não foram ser chamados. A idade também seria ser um complicador para Daniel Alves (31) e Dante (30). Por outro lado, a ausência de Marcelo pode estar ligada a antigos problemas disciplinares com Dunga, algo que significaria um equívoco, uma vez que se pressupõe um momento de reinício.
Paralelamente, segundo palavras do treinador, as portas não estão fechadas para quem disputou o Mundial. Com isso, nomes como o goleiro Victor, o volante Paulinho e os meias Hernanes e Bernard poderão reaparecer em futuras listas, desde que façam por merecer em seus clubes. Por outro lado, figuras mais questionadas como Henrique e Jô dificilmente retornarão. Atualmente lesionado, Thiago Silva é presença certa para a sequência do trabalho.
Observando mais de perto a convocação, alguns detalhes chamam a atenção. Primeiro, a ausência de centroavantes de ofício. Com o baixo desempenho de Fred e Jô e sem nenhum jogador brasileiro de estilo pivô se destacando, nada mais normal do que apostar em atacantes de mobilidade na frente. Existe então a possibilidade real de vermos Neymar novamente atuando como o homem mais avançado da Seleção, tendo liberdade de movimentação, assim como ocorria com Mano Menezes. Na verdade, uma tendência que finalmente poderemos ter no Brasil.
Outro ponto, este pouco auspicioso, é a falta armadores natos entre os meio-campistas presentes na convocação. Ganso, reencontrando sua melhor forma no São Paulo, segue esquecido. Em vez disso, temos a velha fórmula do cabeça de área ao lado do volante de infiltração, atrás de meias que são mais carregadores de bola do que construtores. Quem sabe, o fato de ter sido um volante de boa saída de bola possa fazer com que Dunga corrija a crônica deficiência de transição que tanto afligiu o período que o antecedeu. A conferir...
Confira a lista completa a seguir:
Goleiros: Jefferson (Botafogo) e Rafael Cabral (Napoli);
Laterais: Alex Sandro (Porto), Danilo (Porto), Filipe Luís (Chelsea), e Maicon (Roma);
Zagueiros: David Luiz (PSG), Gil (Corinthians), Marquinhos (PSG), e Miranda (Atlético de Madrid);
Volantes: Elias (Corinthians), Fernandinho (Manchester City), Luis Gustavo (Wolfsburg) e Ramires (Chelsea);
Meias: Éverton Ribeiro (Cruzeiro), Oscar (Chelsea),  Philippe Coutinho (Liverpool), Ricardo Goulart (Cruzeiro) e Willian (Chelsea);
Atacantes: Neymar (Barcelona), Diego Tardelli (Atlético Mineiro) e Hulk (Zenit).
E você, gostou da convocação? Comente!
Coluna escrita originalmente para o site Doentespor Futebol.
Imagem: Tarcisio Badaró/Globo Esporte

domingo, 10 de agosto de 2014

Brasil em duas frentes

O saudoso Millôr Fernandes costumava dizer que imprensa é oposição e que o resto é armazém de secos e molhados. Particularmente, costumava preferir a versão de que a imprensa deveria ser imparcial e isenta, mas os anos me ensinaram que isso não passa de utopia. Em cada análise sempre há uma opinião implícita e um julgamento de valor que muitas vezes não é o mais correto. No caso do nosso jornalismo esportivo, a posição está clara: A CBF está errada até quando acerta. Não que isso seja comum, obviamente.

Um desses raros acertos é o anúncio de uma Seleção Brasileira Olímpica que caminhe paralelamente à principal. O plano arquitetado por Alexandre Gallo e Dunga, os respectivos técnicos, e o coordenador Gilmar Rinaldi é que 46 jogadores sejam chamados a cada convocação. Serão duas equipes com objetivos diferentes. A primeira, composta por atletas com idade olímpica, será comandada por Gallo e terá como meta preparar o grupo que disputará os Jogos do Rio de Janeiro em 2016. Um time que fará uso das mesmas datas FIFA e mandará suas partidas, prioritariamente, nos estádios utilizados na Copa do Mundo. A segunda, treinada por Dunga, cumprirá o ciclo até 2018.


Responsável pela base da Seleção desde 2013, Gallo foi o único “sobrevivente” da hecatombe que atingiu a comissão técnica. Durante o Mundial, assumiu o papel de observador de Luiz Felipe Scolari, mas não foi incluído na lista de dispensas da CBF. Com dois títulos do Torneio de Toulon no currículo, ouve de seus críticos que sua filosofia privilegia a participação de jovens altos e fortes, preferencialmente mais velhos, em detrimento dos mais talentosos. Um erro, uma vez que o primeiro objetivo das categorias menores sempre será revelar jogadores de qualidade.

Discussões à parte, caberá ao treinador a exclusiva montagem de um selecionado voltado para os Jogos tendo datas e estrutura para isso. Algo inédito em se tratando de Seleção Brasileira. Desde os Jogos de Los Angeles em 1984, nossos elencos olímpicos são montados no apagar das luzes, no máximo com a convocação alguns nomes para a composição do grupo principal. Inseridos num contexto distinto, os garotos não moldam um time, apenas passam a fazer parte de um ambiente estelar que, em alguns casos, nem corresponde à realidade.     

Ouro em Londres, o México foi fartamente elogiado justamente por essa estratégia executada pelo técnico Luis Fernando Tena. Chegou a hora de o Brasil ter um planejamento semelhante. Mesmo que a razão seja o fato do torneio acontecer em nosso território, a iniciativa não deixa de ser louvável. Frequentemente, estamos dispostos a criticar a CBF. Talvez seja este o momento de elogiar sem, necessariamente, sermos tachados de armazém de secos e molhados.

Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Claude Paris/AP

sábado, 9 de agosto de 2014

Por linhas tortas

Quem acompanha a luta diária pela audiência na televisão aberta brasileira provavelmente leu alguma coisa a respeito da queda dos números da TV Globo. Ano após ano, as principais atrações da maior emissora do país veem seus índices despencarem vertiginosamente. Novelas, reality shows, séries e outros programas perderam pontos para outras mídias ou, em alguns casos, para a concorrência. Quando uma paixão nacional como o automobilismo começa a ser vista atrás de um desenho animado repetido à exaustão é sinal de que algo não vai bem. No caso da Fórmula 1, a principal razão provavelmente é a longa ausência de um piloto brasileiro capaz de ser competitivo na categoria. Mas qual será a razão para a queda de audiência do futebol?
Automaticamente, há quem diga que a explicação está na má qualidade dos jogos. Acabamos de sair de uma Copa do Mundo aonde vimos estádios lotados, com público animado, grandes craques e emocionantes partidas. No retorno do Campeonato Brasileiro, o choque de realidade: Arenas bem menos cheias, jogos com pouca qualidade técnica e coletiva e uma quantidade assombrosa de faltas sendo marcadas a cada cotejo. Todavia, se a explicação está na qualidade, a queda deveria ter se dado há muito mais tempo, pois o êxodo dos melhores atletas e as discussões sobre atraso tático tiveram início há, pelo menos, duas décadas, enquanto os públicos médios foram relativamente baixos em quase toda a história dos nossos campeonatos.
A conclusão inicial, aparentemente precipitada, se deve ao fato de que desde o Mundial paira uma ânsia de mudarmos nossos torneios. Um sentimento de inconformismo diante da possibilidade de termos um campeonato nacional muito mais forte do que atualmente é. O resgate de um futebol que nos identifica e que foi deixado para trás em algum momento. No entanto, é preciso ter em mente que tais mudanças não se darão do dia para a noite e não dependem exclusivamente da decisão dos treinadores montarem equipes ofensivas. Trata-se de um processo relativamente lento que precisa ter o respaldo de diversos setores (imprensa esportiva, inclusive) para funcionar. Não fomentar a prática demissionária dos clubes é um bom começo. Normalmente, os melhores trabalhos são os duradouros.
Nesse contexto, a simples hipótese de termos a fórmula do Brasileirão alterada para o velho mata-mata já é um retrocesso. Por um calendário racional entende-se que todos os times devem ter uma temporada repleta de atividades e ter apenas dois chegando ao fim do ano é destruir o planejamento das agremiações e gerar desconfiança nos patrocinadores. Noutras palavras, é um tiro no pé. Algo assim só interessa a quem só tem compromisso com seus índices de audiência. Por ser o maior cliente, é justo e saudável que a Globo cobre um produto de maior qualidade. Porém, qualquer tipo de ingerência que se sobreponha à necessidade dos clubes não contribui em nada com o objetivo de termos um futebol brasileiro melhor, algo que todos desejamos.

Imagem: Veja

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

7 x 1 eterno


Ele está em toda parte. Nas ruas, no trabalho, na fila do banco, na padaria. Durante qualquer assunto mais prolongado, alguém toca no tema. Não adianta. Anos, décadas irão se passar e os 7 x 1 sofridos para a Alemanha serão como uma ferida aberta na alma do torcedor brasileiro. Contudo, no que tange o comando do futebol nacional e a imprensa esportiva, mais importante do que relembrar o massacre de 8 de julho é ter a percepção do que aconteceu naquela tarde em Belo Horizonte.

A CBF agiu rápido. Ao que tudo indica, sua cúpula entendeu que o único problema estava em Luiz Felipe Scolari e demais profissionais. Ao demitir o treinador e anunciar Dunga como seu substituto pouco tempo depois, Marin deu mostras de que a Seleção Brasileira não carece de grandes reparos. Basta nomear alguém capaz de manter a ordem e controlar as vaidades que tudo se resolve. Mexer na estrutura local, nem pensar. Afinal, foi exatamente ela que o colocou ali.

Por sua vez, grande parte da imprensa esportiva preferiu voltar seus canhões para o futebol brasileiro. A goleada alemã foi explicada de diversas formas, como a qualidade do jogo aqui praticado, o baixo público nos estádios, até chegar a uma suposta defasagem de nossos técnicos. Do jogo em si, da apresentação dos jogadores, da formação do grupo que disputou o Mundial, falou-se pouco ou menos do que deveriam. Era como se as justas reivindicações do dia a dia tivessem encontrado o terreno fértil de que se buscava. E que, portanto, não deveríamos perder tempo analisando a equipe quando uma grande oportunidade de mudança se faz presente.

Impossível aceitar integralmente as duas posturas. A primeira, obviamente, pela ausência de qualquer projeto esportivo. A ideia de promover um seminário ou algo parecido para se rediscutir os rumos do futebol brasileiro, incluindo a Seleção, provavelmente nunca foi discutida. Desse modo, não há a adoção de uma filosofia, mas de um escudo contra críticas. No máximo, oferecem apoio logístico e não economizam com instalações. Todo o resto é por conta da comissão técnica. Foi assim com Felipão e assim será com Dunga.
No que se refere ao time canarinho, é preciso observar que sua ligação com o que acontece no Brasil é bem menos estreita do que os analistas afirmam. A maior parcela dos convocados atua com destaque nas maiores equipes da Europa sob as ordens dos principais técnicos. Em entrevista concedida à ESPN há alguns meses, Jürgen Klinsmann, treinador dos Estados Unidos, disse que o que falta ao seu selecionado é justamente o que os brasileiros têm de sobra: Experiência e relevância nas maiores ligas. Sem isso, o alemão acredita ser difícil competir no mais alto nível.

A nova missão do capitão 1994 no ciclo que se inicia está muito mais atrelada ao desempenho dos principais atletas brasileiros espalhados pelo mundo – e isso também inclui avaliar nomes da Série A – do que ao desenvolvimento do futebol praticado no Brasil. Ambas são questões importantes, porém distintas. Essa jornada se assemelha muito mais a de Alejandro Sabella na Argentina do que a de Joachim Löw na campeã mundial. Assim como Sabella, Dunga precisa reunir jogadores que militam nos mais diferentes campeonatos e transformá-los num time. Löw, ao contrário, pode se concentrar mais na Bundesliga e monitorar um grupo mais restrito fora da Alemanha.

Logicamente, não se trata de desconsiderar as mudanças fundamentais pelas quais o futebol nacional deverá passar caso pretenda atingir um maior grau de desenvolvimento. Os 7 x 1 não revelaram atraso nenhum, pois, para quem queria enxergar, ele estava lá há uns bons anos. Para recuperá-los, faz-se primordial um plano de reestruturação que, provavelmente, nossos atuais dirigentes são incapazes de organizar. Por outro lado, Dunga, de volta à condição de técnico da Seleção, tem obrigações de curto prazo que independem dos passos de cágado da cartolagem. Esquecer a vexatória campanha no Mundial ninguém vai. Todavia, poucos remédios surtirão melhor efeito do que vermos uma Seleção Brasileira competitiva novamente.

Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters