O saudoso Millôr Fernandes costumava dizer que
imprensa é oposição e que o resto é armazém de secos e molhados.
Particularmente, costumava preferir a versão de que a imprensa deveria ser
imparcial e isenta, mas os anos me ensinaram que isso não passa de utopia. Em
cada análise sempre há uma opinião implícita e um julgamento de valor que
muitas vezes não é o mais correto. No caso do nosso jornalismo esportivo, a
posição está clara: A CBF está errada até quando acerta. Não que isso seja
comum, obviamente.
Um desses raros acertos é o anúncio de uma Seleção
Brasileira Olímpica que caminhe paralelamente à principal. O plano arquitetado
por Alexandre Gallo e Dunga, os respectivos técnicos, e o coordenador Gilmar
Rinaldi é que 46 jogadores sejam chamados a cada convocação. Serão duas equipes
com objetivos diferentes. A primeira, composta por atletas com idade olímpica, será
comandada por Gallo e terá como meta preparar o grupo que disputará os Jogos do
Rio de Janeiro em 2016. Um time que fará uso das mesmas datas FIFA e mandará
suas partidas, prioritariamente, nos estádios utilizados na Copa do Mundo. A
segunda, treinada por Dunga, cumprirá o ciclo até 2018.
Responsável pela base da Seleção desde 2013, Gallo
foi o único “sobrevivente” da hecatombe que atingiu a comissão técnica. Durante
o Mundial, assumiu o papel de observador de Luiz Felipe Scolari, mas não foi incluído
na lista de dispensas da CBF. Com dois títulos do Torneio de Toulon no
currículo, ouve de seus críticos que sua filosofia privilegia a participação de
jovens altos e fortes, preferencialmente mais velhos, em detrimento dos mais
talentosos. Um erro, uma vez que o primeiro objetivo das categorias menores
sempre será revelar jogadores de qualidade.
Discussões à parte, caberá ao treinador a exclusiva montagem
de um selecionado voltado para os Jogos tendo datas e estrutura para isso. Algo
inédito em se tratando de Seleção Brasileira. Desde os Jogos de Los Angeles em
1984, nossos elencos olímpicos são montados no apagar das luzes, no máximo com
a convocação alguns nomes para a composição do grupo principal. Inseridos num
contexto distinto, os garotos não moldam um time, apenas passam a fazer parte
de um ambiente estelar que, em alguns casos, nem corresponde à realidade.
Ouro em Londres, o México foi fartamente elogiado justamente
por essa estratégia executada pelo técnico Luis Fernando Tena. Chegou a hora de
o Brasil ter um planejamento semelhante. Mesmo que a razão seja o fato do
torneio acontecer em nosso território, a iniciativa não deixa de ser louvável.
Frequentemente, estamos dispostos a criticar a CBF. Talvez seja este o momento de
elogiar sem, necessariamente, sermos tachados de armazém de secos e molhados.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Claude Paris/AP
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