Não
existe fórmula exata para se promover a renovação de uma seleção. Cada
treinador adota as medidas que julga necessárias de acordo com as
circunstâncias e suas convicções. Além disso, antes mesmo de se pensar em
renovação, é preciso promover a transição entre gerações para que não haja uma
lacuna entre jogadores jovens e experientes. Em 2002, Parreira teve a paciência
necessária para incorporar novos talentos ao grupo pentacampeão, mas errou ao
não identificar focos de desinteresse nas grandes estrelas antes do Mundial de
2006. Em seguida, Dunga respondeu forte ao pedir comprometimento, porém, falhou
ao se apegar demasiadamente aos atletas que lhe deram suporte durante a
trajetória até a África do Sul. Por sua vez, Mano Menezes cometeu o pecado de romper
com tudo o que seu antecessor havia feito, apostou na juventude e caiu sem
encontrar seu time ideal.
Quanto a
Felipão, sua chegada sempre foi mais uma medida política e uma tentativa de
recolocar a Seleção Brasileira nos trilhos do que uma decisão estratégica.
Embora não possa ser responsabilizado por tudo o que ocorreu na última Copa,
ficou evidente logo no início do torneio que a fórmula da vontade acima da
organização dificilmente vingaria no futebol atual. Por seu estilo aguerrido dentro
e fora de campo, muitos acreditam que Dunga reza a mesma cartilha, todavia, sua
primeira passagem foi marcada muito mais pelo pragmatismo do que por um estilo
“vamo-que-vamo”. Sua Seleção poderia ser criticada pela falta de ideias, não
pela falta de organização. De certo modo, seu estilo pode ser comparado ao do
argentino Diego Simeone. O que não é, necessariamente, um elogio.
Dunga é
um obcecado por vitórias. Em seu dicionário, jogar bem é vencer e marcar época
significa conquistar títulos. Talvez por isso não entenda por que a Seleção de
1982 é adorada mesmo sem ter vencido nada. Deste modo, não surpreende a
iniciativa de trazer de volta à pauta jogadores que dificilmente chegarão com
fôlego a 2018. A presença de nomes como Maicon, Elias, Robinho e agora Kaká nas
duas primeiras convocações indica que a preocupação com o presente é grande.
Embora não tenha deixado nada explícito, Dunga quer espantar logo o fantasma
dos 7 x 1. Não por acaso, levará o que tem de melhor para pegar a Argentina e sinalizou
positivamente para futuros amistosos contra a Alemanha.
Mesmo
diante dessa constatação, a iniciativa chama a atenção. Aos 32 anos e com
passagem marcada para defender o Orlando City, é pouco provável que Kaká siga
como um atleta de nível de Seleção por muito tempo. Bem mais jovem e vivendo
boa fase, Ganso seria uma opção que faria mais sentido tanto pela idade quanto
por suas características. Neste momento, o Brasil não tem nenhum meia capaz de
cadenciar o jogo. Mesmo que o time idealizado por Dunga não tenha como objetivo
reter mais a bola, não deixa de ser interessante ter alguém como o são-paulino como
alternativa.
Paralelamente,
também existe a percepção de que o radar da comissão técnica segue atento a
novos valores. Chamado preventivamente por causa da lesão de Jefferson, o
goleiro Marcelo Grohe vem se apresentando em grande forma no Grêmio. Convocados
depois dos cortes de Marquinhos, Ramires e Fernandinho, o zagueiro Juan Jesus e
os volantes Souza e Rômulo fazem parte de um perfil de renovação. Apesar de
Juan ser um defensor não mais que razoável, Souza e Rômulo são opções bastante
auspiciosas do comandante brasileiro, uma vez que são exemplos típicos de
volantes capazes de marcar e atacar com eficiência, seguindo a tendência
mundial. O que indica que, além do momento, Dunga também olha para o futuro.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Getty Images
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