segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Taticamente Falando.

Espaço destinado a comentar um assunto que é interessantíssimo para alguns, mas tido por muitos como aborrecedor ou difícil de ser assimilado. Todavia, sem o mínimo conhecimento desse aspecto, o futebol não pode ser compreendido em sua totalidade.
Alas, nosso maior dilema tático - Parte I
Sempre considerei os alas brasileiros verdadeiras aberrações táticas. Ninguém consegue estar em dois lugares ao mesmo tempo e, para cobrir esses avanços, os técnicos precisam escalar mais zagueiros ou volantes para corrigir esse desequilíbrio tático. Ora, se alguém está em campo só para marcar e cobrir laterais, não seria bem mais inteligente ter mantido os laterais e os pontas tradicionais adaptados ao futebol atual? Com este pensamento, o “Taticamente Falando” aborda o surgimento dos nossos alas e por que essa função criou um dilema tático no futebol brasileiro...  
É bastante conhecida a história envolvendo o lendário Nilton Santos na partida contra a Áustria no Mundial de 1958. A Seleção Brasileira já vencia por 1 a 0 quando no começo do segundo tempo o lateral-esquerdo decidiu aproveitar o espaço no flanco canhoto para apoiar o ataque. “Volta, Nilton!” gritou do banco o técnico Vicente Feola. Mas o Enciclopédia não deu ouvidos e continuou a avançar. “Volta, Nilton” repetiu a ordem, novamente ignorada. Eis que Nilton chuta da entrada da área e marca o segundo gol brasileiro. “Boa, Nilton”, murmurou o treinador.

À época, as subidas dos laterais ao ataque eram incomuns, para não dizer, proibidas. Mesmo porque, em tese, um módulo 4-2-4 não precisava de apoio constante de jogadores que tinham como função básica a marcação do ponteiro adversário. No entanto, dentro do esquema brasileiro, as arrancadas do lateral botafoguense até  faziam sentido, afinal, havia a presença do voluntarioso Zagallo (figura 1) que sempre recuava para compor o meio-campo, dando estabilidade ao sistema defensivo. Mesmo assim, a subida de laterais ao ataque era tão rara que aquele foi apenas um dos três gols que Nilton marcou com a camisa amarela.
Doze anos depois, o panorama era diferente. Carlos Alberto Torres, lateral-direito e capitão da Seleção, tinha como uma de suas funções e chegada ao ataque aproveitando o corredor deixado pelas diagonais do atacante Jairzinho (figura 2). O melhor exemplo aconteceu na final contra a Itália, quando o capitão brasileiro aproveitou a marcação homem a homem do lateral-esquerdo Giacinto Facchetti sobre o camisa 7 para marcar o último gol brasileiro na vitória por 4 a 1. Enquanto isso, no outro extremo da defesa, Everaldo tinha ordens para guardar mais a posição, funcionando como lateral tradicional ou até mesmo um terceiro zagueiro.


A Copa de 1982 marcou o fim da utilização de dois pontas na Seleção Brasileira e a maior liberdade para os laterais. Na Espanha, Leandro e Júnior (figura 3) tinham liberdade para apoiar fazendo uso constante de ultrapassagens. No time concebido por Telê Santana, Éder fazia as funções de ponta-esquerda e segundo atacante, enquanto um acordo previa o revezamento entre Zico, Sócrates e outros no flanco direito. Na prática, o Galinho de Quintino era o que mais caía pelo setor, o que acabou provocando o descontentamento do craque. Naquela época, tornou-se célebre a frase do personagem Zé da Galera, criado por Jô Soares, que dizia “bota ponta, Telê!” um clamor que também partia de parte da torcida e imprensa. Nasciam ali, os futuros alas brasileiros com obrigações de atuar por toda extensão lateral do gramado, tanto na defesa quanto no ataque.
Na próxima coluna, abordarei os desdobramentos do surgimento dos alas e como isso prejudica até hoje a formação de jogadores brasileiros mais completos.

6 comentários:

Thiago Ribeiro disse...

uma correção da digitação, Éder era ponta esquerda, mas vc sabe tanto disso que afirmou que zico era o extremo direito neste 4-2-3-1/4-2-2-2 brasileiro.

uma curiosidade sobre 58. Zagallo Afirma que qdo Nilton Santos avançou, e Feolla começou a gritar com ele, o Formiguinha falou pra Enciclopédia (como costumavam já fazer no Botafogo): "vai que eu faço a tua" - isto é, o atacante defenderia e o defensor atacaria -, daí Nilton teve a certeza de ir.

Essa mudança de posição é a base do 4-4-2 da Inglaterra de 1966 (os wingers seriam adptação dos dois pontas da base do 4-2-4, ao vai-e-vem a partir do meio-de-campo) e, principalmente da Holanda de 74. Ora, o que seria o "Carrossel"? É a INVERSÃO de posições na vertical, justamente o que Zagallo e Nilton fizeram aí!

Prisma disse...

A impressão q eu tenho é q os laterais brasileiros DESAPRENDERAM a marcar. Parece q os te´cnicos trouxeram conceitos taticos do futebol de salão pro de campo.

HH disse...

Um elefante cor de rosa Na sala. Chega a ser uma ignorância quase irritante, até mesmo ofensiva, pelo simples fato de ser dissimulada.
Na matéria anterior, não consigo entender como pode-se desconsiderar um time que tem mais pontos que os outros na tabela como candidato à título, time que vai ter confrontos diretos e está em ótima fase, que é o Figueirense.
Talvez seja a boa e velha visão que faz achar que o futebol brasileiro é apenas meia duzia de times considerados grandes, não levando em conta o vínculo da torcida com os times, e sim o vínculo dos torcedores com a mídia. Parabéns.

Michel Costa disse...

Obrigado pela correção, Thiago. Olha que li o post algumas vezes e não percebi.
Quanto ao avanço de Nilton, não sabia dessa versão de Zagallo, mas convenhamos, a versão do "volta, Nilton!" é bem mais engraçada... haha.
Sobre o Carrossel, como bem explicou Mauro Beting em "As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos", não faltavam mudanças de posição. Cruyff, inclusive, muitas vezes recuava até a posição de zagueiro (ou líbero, no caso) para dar início às jogadas. Muito louco isso...

Abraço.

Michel Costa disse...

Acho que a própria formação dos alas resultou nisso, Prisma. Antes, os laterais eram jogadores com características físicas e técnicas diferentes. Após o surgimento dos alas, os técnicos da base passaram a escalar jogadores rápidos e leves na função. Afinal, as obrigações eram o apoio constante e a recomposição rápida.

Abraço.

Michel Costa disse...

Um desavisado na sala. Ele não percebe que post e enquete foram feitos quando a classificação do campeonato apontava noutra direção. Obviamente, o Figueirense está inserido na categoria "outro", assim como o SPFC. Também é óbvio que ninguém aqui faz pouco da campanha do time comandado por Jorginho e formado por grandes revelações deste Brasileiro. O desavisado sai da sala sem se identificar.
Obrigado.