domingo, 5 de junho de 2011

Nem tanto a terra.

Entendo a frustração dos torcedores que estiveram presentes ao estádio Serra Dourada na tarde de ontem. Afinal, pagaram caro para ver a Seleção Brasileira enfrentando seu carrasco na última Copa e tudo o que viram foi um zero a zero. Movimentado, é verdade, mas ainda um empate sem gols.
No entanto, torcedor não precisa ser racional. Ele vai ao estádio para se divertir e ver seu time vencer e se isso não acontece, sente-se no direito de vaiar. Só que esse pensamento se aplica apenas ao torcedor. Quem se propõe a analisar o que foi o amistoso entre Brasil e Holanda não se pode deixar levar pelo placar em branco.
Antes de tudo, é preciso lembrar que o rival não era qualquer um. Mesmo com alguns desfalques, a Holanda é a atual vice-campeã mundial, uma seleção que dos últimos 35 jogos que disputou só perdeu um, justamente para a campeã Espanha e mesmo assim na prorrogação. Um time ainda sob o comando de Bert van Marwijk, dando prosseguimento ao bom trabalho que vinha sendo feito.
E foi contra essa Holanda que o Brasil teve um aproveitamento regular no primeiro tempo e conseguiu ser superior no segundo. Parafraseando Parreira, o gol foi quase um detalhe diante das diversas oportunidades que surgiram no início da etapa complementar. A Seleção não foi brilhante, mas esteve longe de ser um fiasco como as opiniões posteriores ao confronto deram a entender.
A se destacar a escalação ofensiva com apenas um volante mais fixo (Lucas), dois meias que marcavam e atacavam (Elano e Ramires) e um tridente ofensivo composto por Robinho, Neymar e Fred. Logicamente, mais importante do que o sistema tático foi a postura em campo tendo a iniciativa e não apenas jogando nos erros do adversário. Embora ainda esteja nítida a falta de entrosamento e a carência de um organizador de jogadas no meio campo – Paulo Henrique Ganso se torna cada vez mais importante mesmo sem atuar – a busca pelo protagonismo sempre presente no discurso de Mano Menezes começa a se apresentar na prática. Mesmo que alguns ainda não consigam ver.

Esquema tático brasileiro no início da partida: Ramires fazendo dupla função com Neymar e Robinho trocando sempre de posição.    

6 comentários:

marcus Buiatti disse...

Amigo Michel,

Neste tema, eu penso amis parecido com o Vitor Sérgio e o André Rocha. Não vejo evolução no trabalho do Mano não, até porque ele não teve tempo nenhum pra isso.

Vejo, com preocupação, repetição de alguns erros de escalação, convocação...Se é que são erros. Eu vejo como erro a exclusão de Hernanes. MAs vc lembrou bem, no twitter, que ele refugou algumas vezes. Camisa pesa...quem vive o dia a dia do jogador sabe de coisas que não sabemos. Pode ser isso e estou julgando de forma errada o Mano. Corremos sempre esse risco.

MAs, de fora, não vejo o time andando, como sistema de jogo, conceito de equipe, estratégia....vejo involução de jogo pra jogo.

Vamos ver na Copa América. Acho Mano muito competente e acredito na intenão dele de protagonismo, o ponto PRINCIPAL pra mim.

Abraços!

Michel Costa disse...

Olá, Marcus.

Pra mim, não houve evolução tática porque ainda não há definição da sistematização que Mano usará. Durante o período em que está à frente da Seleção, Mano procurou testar jogadores e formações para tentar achar uma "cara" para a Seleção. Hoje, sem Ganso e Kaká, o técnico volta a usar o 4-3-3 sem a figura de um camisa 10. Trata-se de um teste num momento onde ainda é possível fazê-lo. Particularmente, acredito que a Copa América será o momento de ver o quanto progrediu esta Seleção. Só aproveitando amistosos, acho quase impossível que Mano consiga formar um time na acepção da palavra.

Abraço.

Thiago Ribeiro disse...

o 4-3-3 com triângulo de base alta é o meu esquema tático preferido, mas o time não tem como jogar assim, não tem criatividade, mas 2 volantes que saem pro jogo.

e Robinho não me convence mais em seleção, até gostaria dele no meu clube, mas não na minha seleção

Michel Costa disse...

Esse 4-3-3 (meio-campo em pirâmide de base alta) é o esquema ideal para quem não dispõe de um camisa 10 nato, Thiago. Curiosamente, os ótimos Barcelona e Porto atuam justamente assim! Uma vez que não possuem um '10' em seus elencos. No entanto, acredito que a titularidade de Ganso deve mudar o sistema para um 4-2-1-3 ou 4-2-3-1.
Quanto a Robinho, imagino que Lucas deve tomar essa vaga, mas isso pode demorar algum tempo. Outro que merecia ser testado é Hulk, mas ficou para a próxima.

Abraço.

marcus Buiatti disse...

Amigo Michel,

discordo que o Barcelona não possua um "10". Ao contrário, acho que possui 3, com estilos diferentes: Xavi, Iniesta e Messi.


Iniesta, aliás, jogou como 10 em toda sua carreira de base, no Barça ou na seleção espanhola.

Eles (Xavi, Messi e Iniesta) exercem funções diferentes do camisa 10 típico, mas isso não so torna menos organizadores, metronomos do jogo (que decidem o rtmo da equipe), assistentes: caracteristicas que pra mim definem o camisa 10.

Esse é o erro de Mano e dos treinadores brasileiros. Ao invés de recuar organizadores (como Ancelotti fez com Pirlo), eles avançlam volantes como "organizadores".

De resto, refletindo sobre o que vc disse, acho que fui muito rígido com a seleção. vc tem razão.´é muito pouco pra cobrar do Mano mais do que ele deu e ele nem está errando tanto assim.

acho que fui muito rígido com ele. vc foi mais reflexivo e equilibrado, embora não vejo esta evolução que vc vê no jogo da seleção.

abraços, desculpa o longo texto...

Michel Costa disse...

Marcus,
Sobre o Barcelona, quis dizer que não há a figura do camisa 10 clássico. Xavi é mais um "8", Iniesta é uma espécie de terceiro homem do meio-campo e Messi é um atacante capaz de voltar a participar da armação das jogadas. E isso não é um defeito do Barça. É apenas uma constatação. Na Seleção, sem dispor de um jogador como Ganso ou Kaká, Mano tentou o mesmo colocando três no meio (todos com caracteríticas diferentes) e um tridente ofensivo. Alguém pode dizer que não há comparação, mas nem tem que haver mesmo. Afinal, estamos comparando um timaço entrosado com uma seleção que ainda está no início do trabalho. O paralelo é a ausência a clássica figura do camisa 10 e concluir daí que ela pode não ser tão imprescindível como se pensa no Brasil.

Abraço, meu camarada.