quinta-feira, 5 de maio de 2011

Oportunismo, achismo e outros “ismos”.

Ao contrário do que muitos disseram nesta quarta-feira, o favoritismo dado aos clubes brasileiros na Copa Libertadores não veio por caso e não é, pelo menos no meu caso, fruto de achismo ou ufanismo. Uma análise do histórico dos times locais na competição mostra um percentual maior de aproveitamento tanto dentro quanto fora de casa e o retrospecto recente aponta para um desempenho médio maior do que o de qualquer outro país. Além disso, o poderio financeiro dos clubes brasileiros não só é maior como tende a sê-lo cada vez mais.
Então eu pergunto: Não é exatamente assim que se analisa o favoritismo na UEFA Champions League? Não é a partir do poderio financeiro que se evidencia a força dos clubes ingleses? Não é a receita absurdamente maior do que a da concorrência que transforma Barcelona e Real Madrid em alienígenas em La Liga? Ora, quem pode pagar mais tem maiores condições de contratar e manter os melhores elencos e treinadores.
A eliminação simultânea de quatro times brasileiros nesta quarta-feira foi, sem dúvida, um evento atípico. Como bem lembrou o jornalista Paulo Vinícius Coelho, desde 1991 sempre houve um brasileiro entre os semifinalistas e desde 1994 sempre tivemos mais de um time entre os quadrifinalistas da Libertadores. E, na temporada passada, quatro brasileiros estavam vivos nas quartas-de-final da competição.
Portanto, antes de se falar em arrogância é preciso falar de constatação. Negar o favoritismo seria, antes de tudo, não manifestar uma opinião por medo ou conservadorismo. O mesmo raciocínio me diz que colocar os quatro times eliminados num mesmo balaio é uma simplificação grosseira. Cada caso é um caso e precisa ser analisado individualmente.
No que tange o Internacional, além do resultado obtido no Uruguai, havia o entendimento de que o Peñarol era um adversário abordável, embora, logicamente, não estivesse eliminado de véspera. Dentro dessas circunstâncias, a derrota em pleno Beira Rio pode ser considerada, sim, um vexame. E quando se diz isso não significa menosprezo à história dos aurinegros, pentacampeões da Libertadores, mas uma constatação honesta diante do momento do time de Montevidéu e, por consequência, do futebol uruguaio. Mal comparando, é como o Ajax na Liga dos Campeões. Ninguém ignora o passado dos Godenzonen, porém, num confronto com o Chelsea, o favoritismo certamente penderia para o lado dos Blues que nunca conquistaram um título do torneio.
No caso do Fluminense ficou evidente que não houve arrogância. Talvez tenha sido o contrário. O Tricolor simplesmente abdicou de jogar no Paraguai, levando pressão o tempo todo. No entanto, a eliminação do Cruzeiro foi a que mais me chamou a atenção. Melhor campanha da Libertadores, futebol envolvente e entrosado, tudo indicava uma classificação tranquila após a vitória na Colômbia. Mas, em se tratando de uma equipe comandada por Cuca, tudo é possível.
Nesse contexto, nada mais lógico do que cada um retirar de sua eliminação a lição necessária para o futuro. Lamentavelmente, esse 4 de maio será lembrado por um bom tempo como o maior tombo coletivo do futebol brasileiro na história do torneio. Entretanto, apesar da queda em conjunto, as soluções são individuais. E enxergar essa data como uma crise do futebol brasileiro é o primeiro passo para não encontrá-las.
Crédito da Imagem: EFE

9 comentários:

Riccardo Joss disse...

Cruzeiro: Cuca. Inter: arrogância. Grêmio: ruindade. Flu: Ricardo Berna.

minicritico disse...

Riccardo, se me permite, eu vou discordar - e desculpa pelo comentário longo:

O Roger, expulso no primeiro tempo como um juvenil de 17 anos, não teve nada a ver com a queda do Cruzeiro? Jogar sem a dupla de ataque titular também não? A política de contenção de gastos adotada em 2011 pelos Perrela era necessária, ok, mas terminar o jogo com apenas André Dias no ataque é inadmissível e expõe a fragilidade do elenco (a despeito de um time titular muito forte). Claro que o Cuca se mostrou mais uma vez desequilibrado. E que errou feio ao não tirar por exemplo o Pablo, que começou (e terminou) muito mal o jogo e, com 20 minutos do 1º tempo, ainda se machucou (e pediu pra continuar), e não colocar o Vitor em seu lugar. Foi por ali que o Renteria simplesmente deitou e rolou o jogo todo, como vinha se anunciando desde os primeiros 5 minutos. Cuca se omitiu. Mas restringir a culpa ao técnico e a seu passado desastrado não me parece nem um pouco justo em uma "comédia" com tantos erros de gravação.

O mesmo se aplica ao Flu: responsabilizar unicamente o Ricardo Berna é fechar os olhos para o fato de o time ser armado atualmente pelo Diguinho (!). É esquecer que Conca vive péssima fase e que o ambiente entre os jogadores é o pior possível. E, claro, não dizer que a equipe não tem uma única jogada treinada.

No caso do Inter, eu não usaria a palavra 'arrogância'. O time é um amontoado de bons jogadores somados a alguns medianos, mas não tem movimentação alguma. Depende de lampejos de D'Alessandro, Oscar e Leandro Damião. E só. E enfrentou um Peñarol realmente muito inferior tecnicamente, mas valente. E com variações táticas. Nota-se que o time é bem treinado, ao menos - coisa que o Inter não é.

No caso do Grêmio, aí eu concordo. O time é ruim, limitadíssimo, e mostrou isso ao longo do ano. E além disso, vale lembrar que teve 7 desfalques (incluindo titulares como Victor, Gabriel, Lúcio, Rochemback, Borges e André Lima) e contou com a irresponsabilidade de Rodolfo (expulso no fim do último jogo da fase de grupos, desfalcou o time no jogo de ida das oitavas) e Borges (expulso no jogo de ida das oitavas, complicou o time nas duas partidas). Ah, e diga-se: enfrentou uma equipe realmente forte. Mais do que o Grêmio.

Abraços

minicritico disse...

Relendo meu comentário, acho que soou como se eu estivesse em busca de culpados. E isso, esse hábito da 'caça às bruxas', é justamente o que eu mais critico na imprensa esportiva. Também não acho que seja correto desancar os times brasileiros por terem perdido.

Até porque, se o juiz não anula o gol do Gilberto, o Cruzeiro passa e volta a ser o "Barcelona das Américas".

Se o árbitro expulsa os 3 jogadores que era pra ter expulsado da Catolica no jogo de ida, o Grêmio poderia ter passado de fase e seria o "Imortal Tricolor" de novo.

Se o Sosa, goleiro do Peñarol, não fecha o gol e conta com a bendita trave a seu lado, o Inter passa de fase com "espírito e cara de campeão".

Se a cabeçada do Diogo entra em vez de bater na trave, os "guerreiros tricolores" poderiam segurar um 3x1 e passar nos pênaltis, cheios de raça e contornos dramáticos pra deleite desses comentaristas que evocam o Sobrenatural de Almeida em duas a cada três frases sobre o futebol carioca.

Enfim, é tudo muito relativo. Um detalhe muda todas as análises, principalmente daqueles que criticam apenas por hobby, sem terem certeza do que dizem. Na minha opinião, o futebol brasileiro vive, sim, um bom momento. Não há crise. Mas o fato é que as quatro eliminações foram justas. E até o Santos fez grande esforço pra cair fora já nas oitavas. O fato de serem todas equipes brasileiras é coincidência. As análises têm que ser individuais e o mais racionais possível.

Abraços (e mais uma vez, desculpem pelo comentário extenso - é que o assunto é pitoresco)

Michel Costa disse...

Concordo com praticamente tudo, Mini-Crítico. E, como também falei de Cuca no post, vou me "defender" aqui. Quando escrevi sobre tudo ser possível com os times dele, quis dizer que, historicamente, seus times são marcados por bom futebol, versatilidade e descoberta de novos talentos, mas também por uma dose cavalar de instabilidade emocional. Botafogo e Fluminense que o digam...

Abraços.

Marcus Buiatti disse...

Ótimo texto. Michel!

Faço alguns reparos, na verdade, observações, apenas:

No meu caso, nunca achei arrogância dos técnicos e jogadores. O Fred, logo após o jogo no Engenhão disse: "Libertad é um time muito bom tecnicamente". o Enderson falou a mesma coisa. Onde está a arrogância? na mídia e torcida. Neste ponto discordo de você.

A arrogância não é em apontar os brasileiros como favoritos. Leio no twitter algumas distorções a este respeito. Twitter não permite discussão séria, aqui permite.

A arrogância não é apontar os brasileiros favoritos. A soberba não está nesse ponto. Seu texto é preciso em apontar a superioridade técnica e econômica dos clubes brasileiros no continente.

A arrogância e soberba está (repito: por parte de torcedores e grande parte da mídia) em menosprezar e desconhecer os adversários.

Vou dar alguns exemplos. Antes, digo com clareza: eu ouvi Rádio Jovem Pan de São Paulo, li diversos blogs e jornais, vi programas da ESPN e SPORTV e vi as transmissões dos jogos. Posso afirmar com CERTEZA: há um enorme desconhecimento e menosprezo aos adversários! E isso é histórico. Sempre foi assim. Termos como mulambada e mais recentemente bambala são frequentemente usados.

Vou dar, enfim, os exmeplos (poucos, poderia citar inúmeros) apenas uma amostra:

PCV (Paulo Vasconcellos) na tranmissão do jogo do Engenhão, entre Flu e Libertad, além de mostrar TOTAL desconhecimento sobre o rival do Flu ANTES da partida, DEPOIS do jogo, AMPLAMENTE dominado pelo Libertad, afirmava: "O Libertad só tem bola aérea, dificilmente o Flu perderá a classificação no Paraguay, é só jogar o que sabe". Se isso não é menosprezo, não sei o que é.

Outro exemplo: vi no Arena Sportv alguns comentaristas se referirem ao confronto do Santos com o América como "fácil, Santos passa fácil". Desconhecimento, como quase sempre no SPORTV, do rival que é forte economicamente e tecnicamente. E menosprezo. ou não é?

Outro exemplo: Guia Placar da Libertadores. Coleciono há 10 anos ou mais. Apontava como sendo dificil, quase impossível, o título não ficar no BRasil. com base em que dados se nos últimos 10 anos ganhamos apenas 3???? Isso não é soberba?

Citei apenas alguns. Se vc ouvir Sormani na Jovem Pan, vc cai oq ueixo. ninugém joga nada, só os brasileiros.

infelizmente, esta é a regra. Exceção, embora cada vez maior, são os que analisam como vc com sobriedade.

Abração!

Marcus Buiatti disse...

Desculpe alongar só mais um pouco: no twitter hpa uma distorção do termo "pacheco" por alguns. Mas nem entro mais no twitter, vou evitar usar, porque a discussão é bem infantil e sem espaço pra maior reflexão. é a turma dos brasileirinhos contra a turma dos estrangeirinhos se digladiando! Sinceramente, não tenho estômago pra essa bobagem.

"Pacheco" não é o cara que torce pela seleção ou por clubes brasileiros. "Pacheco" é um termo pejorativo usado pro cara que DISTORCE a realidade com base em sua paixão pela seleção ou clubística.

Paixão não é vc torcer pelo Neymar e achar que ele pode ser dos maiores do mundo em pouco tempo. Pacheco é vc comparar neymar, HOJE a MEssi.

Pacheco não é vc achar que os clubes brasileiros são melhores que os argentinos. Pacheco é vc achar, após a primeira fase da libertadores, com tantos problemas demonstrados pelos clubes brasileiros, que "a fase final da Libertadores vai virar um brasileirão". Eu li e ouvi esta expressão várias vezes e em vários meios.

Esse é o significado do termo "pacheco". li no twitter distorçoes, mas twitter não me supreende mais. Não há discussão séria, é um espetando o outro, distorcendo termos, discussões vazias.

COMO ocorreu no caso da sua citação em relação ao Peñarol, PRECISA e CORRETA! Distorceram completamente o sentido do que vc escreveu, e nego usa ironia, ofensas.... Isso é "debater" futebol no twitter. eu estou fora, não pretendo mais discutir nada ali.

abração, desculpe me alongar de novo!

Michel Costa disse...

Salve, Marcus!
Antes de tudo, quero dizer que nem precisa se desculpar por se alongar. Na verdade, essa é a parte boa do debate.
Mas tem uma coisa: Pelo visto, não discordamos em NADA. Quando falo em arrogância, critico os "analistas" que disseram que a eliminação dos times brasileiros se deveu a ela. E, como você bem colocou, não foi isso o que aconteceu. Na minha visão, cada um dos eliminados tem seus próprios e exclusivos problemas e não devem de forma alguma ocupar o mesmo balaio.
Basicamente, foi isso o que você quis dizer, não?
Sobre a questão do twitter, é o que eu escrevi mais cedo: Seguindo as pessoas certas, a chance de se irritar é bem menor. E se aparecer algum troll, o block é serventia da casa...

Abraços.

Marcus buiatti disse...

Michel,

Acho que a única discordância entre eu e o amigo é que, se entendi bem, vc crê não haver no contexto todo, não apenas entre os técnicos e atletas, ufanismo e menosprezo. Ao menos, entendi assim, embora o texto não toque neste assunto espeficamente (e até por isso). Nesse ponto, único, eu discordo de você (se é que discordamos, na verdade).

Acho que há, sim, ufanismos, pachequismo, menosprezo, desconhecimento dos rivais brasileiros. Historicamente.

Até escrevi no twitter: pra mim, a mídia e o torcedor brasileiro se comportam como "8 ou 80". Antes da competição, somos os melhores ou os piores. DEPOIS, perdendo ou ganhando, muda para o lado completamente oposto. Não há meio termo ou equilibrio, como há em seu texto.

Em relação ao twitter, tenho minhas dúvidas...

Acho que nem seguindo as pessoas corretas estamos livres dos excessos (meus, por exemplo, reconheço...hehehe).

Virou um palco de excessos e distorçoes, guerrinhas entre grupos radicais (no futebol, por ex., os tais, chamados por você, de "brasileirinhos" e "estrangeirinhos"). Até entre gente competente e boa. Acho que o mundo está muito agressivo, violento, pouco cordial e respeitoso com o outro.

Mas isso é outra discussão, deixa pra lá...


um grande abraço!

Michel Costa disse...

Sim, Marcus.
Não consigo perceber essa tal arrogância nos treinadores e jogadores. Mas percebo na imprensa e torcida. Agora, se isso "contamina" as equipes eu não sei dizer.
Um bom exemplo é o Cruzeiro. Sem o ataque titular, com Roger expulso, com uma avenida na lateral direita e a instabilidade emocional de Cuca, o cenário da tragédia estava armado.
Por isso, insisto: cada caso é um caso e assim deveria ser analisado.

Grande abraço.