domingo, 22 de maio de 2011

Tipos de Jornalista Esportivo.


Baseado na série de posts do blog de Maurício Stycer intitulada Tipos de Leitor – espaço onde o jornalista destrincha os habitantes da blogosfera – o “Além das Quatro Linhas” abordará os diferentes tipos de jornalistas das mais diversas mídias. Mas, como este blogueiro se limita ao assunto futebol, vamos manter o foco apenas nos jornalistas esportivos...
O Intelectualmente desonesto.
Poucos tipos de jornalista são tão nocivos ao seu público quanto esse. Isso porque ele induz as pessoas a concordarem com suas “teses” mesmo que seus argumentos sejam parciais ou não estejam bem fundamentados. Para tanto, faz uso de apelos emocionais, exagerados ou ignora contrapontos na construção de seu raciocínio.
No jornalismo esportivo, a desonestidade intelectual é usada das mais variadas formas. Na mais comum, o jornalista faz uso de argumentos falsos, maquiados ou parciais na defesa dos seus interesses ou de sua empresa, sendo normalmente motivado por interesses financeiros. Um bom exemplo esteve presente na campanha da Globo defendendo o retorno do sistema conhecido como “mata-mata” ao Campeonato Brasileiro. Certa vez, Galvão Bueno, porta-voz esportivo da casa, teve a coragem de dizer numa transmissão que “se ponto corrido fosse bom, a Copa do Mundo era disputada assim”. Como se fosse possível a disputa de um Mundial de seleções dessa forma.
Buscando encorpar esses argumentos, outros profissionais da casa usaram os recordes de público nos estádios como forma de reforçar essa tese. No entanto, “esquecem” que os grandes públicos registrados em finais aconteceram em estádios que possuíam uma capacidade maior que a atual. Além disso, também se “esquecem” que as piores médias de público também se deram no período em que a fórmula do campeonato mudava ao sabor da cartolagem.
O mais novo argumento para a crítica aos pontos corridos surgiu de uma declaração pontualmente selecionada do goleiro Marcos a Glenda Kozlowski. Para o arqueiro do Palmeiras, a fórmula vigente desde de 2003 não é justa com os times do Norte ou Nordeste que precisam viajar mais do que as equipes de outras regiões. Como se não houvesse nas versões passadas uma fase classificatória em que as longas viagens também aconteciam. Propor um calendário mais racional e enxuto – preferencialmente com estaduais menores – para amenizar a verdadeira maratona a qual os times são submetidos ninguém quer, não é?
Na realidade, a exposição de argumentações parciais na defesa do fim da disputa por pontos corridos tem como o objetivo o retorno da fase eliminatória que rende mais audiência que a atual. No entanto, tal argumentação simplesmente ignora a necessidade dos clubes eliminados de atuarem até o final da temporada para expor seus patrocinadores por mais tempo e levar público aos estádios até o fim do ano.
Mas nem só da defesa de interesses financeiros vivem os intelectuais desonestos. E basta ouvir a argumentação dos chamados estrangeirinhos e brasileirinhos do jornalismo esportivo para perceber isso. Na sustentação de ambos, um show de parcialidade e ufanismo que, disfarçado de opinião, ajuda a formar a maneira como as pessoas enxergam futebol. Algo que mostra porque o entendimento do esporte no País evoluiu tão pouco nos últimos anos.       

8 comentários:

Rodolfo Moura disse...

Michel,
Apenas 3 letras: BOA!
Abraços,

Cassiano disse...

Excelente, Michel. abs

Michel Costa disse...

Apenas cinco letras Rodolfo: GRATO.

Abraço.

Michel Costa disse...

Olá, Cassiano.

De certo modo, já vimos esse tema ser debatido algumas vezes no 90 minutos, não é? Não por acaso, está entre os poucos temas em que concordamos plenamente... hehe.

Abraço.

Pedro Cheganças disse...

Um comentarista que lembra muito esse estilo, pra mim, é o Mauro Cezar, da ESPN. Pra sustentar suas ideias, "esquece" de alguns fatos (leia-se omite).

Michel Costa disse...

Não poderia estar mais de acordo, Pedro. Inclusive, há um post nesta página que expõe bem esse lado do citado jornalista.
Outra característica do "Intelectualmente Desonesto" que eu não cito no texto é a de exaltar seu produto em detrimento daquilo que não dispõe. Um bom exemplo é o canal Esporte Interativo. Lá, é muito comum ouvirmos críticas ao nivel do futebol brasileiro. Curiosamente, é o mesmo canal que trata o campeonato argentino (que já viveu dias bem melhores) como uma coisa melhor do que realmente é.

Abraço.

Anônimo disse...

No começo da fórmula dos pontos corridos, eu defendia um sistema bem simples: campeão do primeiro turno contra campeão do segundo. Isso porque, a meu ver, brasileiro gosta de uma final. É mais emocionante. Ainda não desconsidero essa fórmula, mas confesso que a atual já "pegou" no Brasil. Só não podemos achar que quem ainda defende o mata-mata é, necessariamente, intelectualmente desonesto.
abs
Venditti

Michel Costa disse...

Olá, Venditti.

Claro, ser contra ou a favor dos pontos corridos não tem nada a ver com ser intelectualmente desonesto. Desonestidade intelectual é usar de alguma falácia para convencer as pessoas de uma coisa. Acredito que o debate pode e deve acontecer. Mas, para isso, é necessário o uso de argumentos válidos.

Abraço.