sábado, 7 de maio de 2011

O DNA de Muricy.

A semana dos clubes brasileiros na Copa Libertadores da América só não foi mais trágica porque o goleiro Rafael salvou o Santos da eliminação diante dos mexicanos do América. Não fosse a grande atuação do jovem arqueiro santista, o time de Muricy Ramalho estaria fazendo companhia a Cruzeiro, Internacional, Grêmio e Fluminense.
Curiosamente, a pressão que quase levou o América às quartas-de-final aumentou justamente após Muricy promover a mesma alteração que havia realizado no clássico diante do São Paulo: Saída do atacante Zé Eduardo para a entrada do zagueiro Bruno Aguiar. Na ocasião da semifinal, o técnico disse que muitos devem ter criticado a troca e que falar lá do ar condicionado das cabines (em alusão aos comentaristas esportivos) é fácil. Numa declaração que tinha como óbvia motivação a autoexaltação.  
Não foram poucos a cair na conversa do treinador. Para muitos, o futebol é um jogo entre técnicos e não uma disputa entre duas equipes organizadas por dois técnicos. O fato de Paulo César Carpegiani ter sido infeliz em suas alterações ao colocar em campo os pouco móveis Fernandão e Rivaldo acabou ficando em segundo plano. Isso sem falar que a partida foi decidida muito mais pelo talento de Paulo Henrique Ganso e Neymar do que por qualquer outra coisa.
Fico pensando no que diria Muricy se o Santos tivesse sido eliminado em Querétaro. Certamente não teria sido porque seu time perdeu quase toda profundidade sem a presença de um atacante que, além de tudo, já estava mal escalado aberto na ponta direita. Ou seja, sua responsabilidade.
Apesar das diversas conquistas recentes, penso que Muricy Ramalho é um representante do que há de mais ultrapassado na maneira como muitos técnicos de futebol no Brasil encaram o esporte. Enquanto o mundo se encaminha para a valorização da técnica e a variação de jogadas, seus times são cada vez mais “quadrados”, fixados no mantra “marcação, contra-ataque e bola aérea”. Esse tipo de pensamento pode até funcionar bem no Brasil, mas dificilmente funcionaria no cenário internacional.
No comando do Santos, Muricy deve confirmar os maiores temores daqueles que não o queriam na Seleção. Ou seja, esvaziar toda qualidade técnica de um time que encantou o País justamente pelo talento dos jovens valores que ali se alinham, quando, na verdade, a intenção de sua contratação era dar equilíbrio defensivo a um time que se mostrou vulnerável em diversos momentos. Tudo em nome de uma forma atrasada e mesquinha de ser enxergar futebol.
Crédito da Imagem: R7  

8 comentários:

Thiago Ribeiro disse...

genial, genial, genial, poucos falam tão bem mal de Muricy, hahahah:

"Muricy Ramalho é um representante do que há de mais ultrapassado na maneira como muitos técnicos de futebol no Brasil encaram o esporte"

"Esse tipo de pensamento pode até funcionar bem no Brasil, mas dificilmente funcionaria no cenário internacional."

Thiago Ribeiro disse...

ah, e esqueci a chave de ouro:
"Tudo em nome de uma forma atrasada e mesquinha de ser enxergar futebol."

Michel Costa disse...

Hahaha,
Confesso que eu mesmo achei a crítica pesada, Thiago, mas a verdade é que eu penso exatamente assim.
Acredito que os técnicos brasileiros (excetuando Mano Menezes e alguns outros) estão parados no tempo, presos a filosofias ultrapassadas e defensivas. Roth, Muricy e outros não acompanharam a evolução do esporte, ficando para trás em relação a profissionais de outros países.
Qualquer hora eu abordo esse assunto com mais detalhes.

Abraços.

Thiago Ribeiro disse...

o q eu acho dantesco é que eu já ouvi técnicos de "ponta" no Brasil dizerem asneiras como: "o Barcelona joga e deixa jogar". Isso é tão absurdo que parece que nunca viram o Barça em campo, aquela marcação de 3 homens sobre a bola o tempo inteiro até ganhá-la de volta AINDA NO CAMPO ADVERSÁRIO!!!

o problema de se enfrentar um Barça não é o sistema ofensivo deles - um dos melhores do mundo - mas o sistema defensivo - O MELHOR do mundo -, como jogar contra eles se eles NÃO DEIXAM JOGAR?!!!!

agora comparemos a "retranca" culé com a retranca de Muricy ou Joel Santana - lá vem o botafoguense falando -. A retranca dos brasileiros DEIXA jogar, dá um campo inteiro e aposta em bolas soltas ao ataque.

Eu não gosto de Muricy, acho que foi o MAIOR retrocesso no nosso futebol desde a perda de 82.

aquilo ali não é futebol, futebol é a troca de passes curtos e rápidos (como os melhores times europeus fazem), o drible (nossa maior qualidade de sulamericano), o que Muricy faz é rugby com os pés - bloqueia forte, chuta pra frente e corre!!!

Michel Costa disse...

Não poderia estar mais de acordo, Thiago. É exatamente isso o que eu penso sobre Muricy, embora, reconheça nele um grande profissional dentro do que ele acredita ser o certo. O problema é que ele, Roth e outros estão presos a conceitos ultrapassados, onde o mais importe é marcar e se defender, deixando o jogar em segundo plano. No caso de Muricy, pelo menos os resultados em âmbito nacional (onde essa mentalidade impera) são satisfatórios.

Abraços.

Rodolfo Moura disse...

Michel,
Sobre esse sujeito, só tenho a dizer que falta ética!
Abraços,

Michel Costa disse...

Concordo plenamente, Thiago. Aliás, faço parte daqueles que acreditam que a derrota de 82 foi assimilada de maneira equivoca pela maior parte de nossos treinadores. A partir da queda do Brasil diante da Itália, muitos acharam que o futebol se resumia à marcação e aos contra-ataques. Mas, na verdade, a lição que a tragédia do Sarriá nos deixou é que até mesmo um time de craques precisa marcar.

Abraço e desculpe a demora na resposta.

Michel Costa disse...

Hehe. Noto que seu bronca com o Muricy ainda passou, Rodolfo. Sinceramente, não acredito que o técnico tenha deixado o Flu pra assumir o Santos. Pra mim, a explicação passa pelos problemas internos que surgiram após a mudança na direção. Obviamente, o fato de Muricy ter muito mercado facilitou a decisão, mas não acredito que tenha sido de caso pensado.

Abraços.