domingo, 1 de maio de 2011

Tipos de Jornalista Esportivo.

Baseado na série de posts do blog de Maurício Stycer intitulada Tipos de Leitor – espaço onde o jornalista destrincha os habitantes da blogosfera – o “Além das Quatro Linhas” abordará os diferentes tipos de jornalistas das mais diversas mídias. Mas, como este blogueiro se limita ao assunto futebol, vamos manter o foco apenas nos jornalistas esportivos...
O Dr. Clichê.
Sou da opinião que o trabalho de um comentarista esportivo não é tão simples quanto imaginam. Não é apenas “falar sobre o que se vê” como sugerem alguns. Isso, obviamente, quando pensamos no bom comentarista. Aquele que se prepara para o jogo que irá comentar, que conhece jogadores e treinadores, as alternativas táticas, os suplentes de cada equipe e que não tem os péssimos hábitos de falar sobre um jogo que não existe ou ficar batendo papo com o narrador enquanto a bola rola.
O Dr. Clichê é diferente. Em seu manual, já existe uma série de frases pré-fabricadas que podem ser aplicadas em qualquer situação. E se tudo estiver embalado por um discurso articulado e intelectual, temos um comentarista pronto para enganar o público. Entre os clichês mais usados por nosso “especialista” estão:
“Está faltando aquele meia, aquele jogador que levanta a cabeça e pensa o jogo.” (Esse é um clássico. Sem essa frase, 30% da argumentação de alguns se perderia);
“Sempre que a Itália começa mal, termina bem a competição.” (Um dos clichês mais usados nas Copas do Mundo. Está praticamente grudado na ficha da Azzurra);
“Times africanos correm muito, tem habilidade, mas são ingênuos na marcação.” (Outro clichê fartamente usado em Mundiais. Ideia construída há 30 anos e imutável desde então);
“A Alemanha pratica um esporte muito parecido com futebol.” (Fechando a série das Copas, uma conclusão de quem acha que só há uma maneira de jogar);
“O time vai a campo num ofensivo 4-3-3.” (Erro básico de quem mede a ofensividade dos times pela quantidade de atacantes escalados);
 “O Barcelona joga e deixa jogar.” (Essa é de quem não vê jogos do Barça. De quem acha que times ofensivos não sabem marcar);
E não faltam exemplos do tipo. Existe um verdadeiro arsenal de frases feitas para cada situação de jogo e que servem de muleta para o comentarista preguiçoso e/ou desatualizado. Fique atento!

13 comentários:

minicritico disse...

Nossa, o Paulo Cesar Vasconcellos adoraria esse post hahaha.

E ah, sobre o último clichê: pergunte ao Real Madrid se o Barça deixa jogar. Um time que dá 30% de posse de bola ao adversário em todas as partidas não deixa ninguém jogar, nunca.

Michel Costa disse...

É isso mesmo, Mini-Crítico. O Barcelona não joga apenas quando tem a bola. Sem ela, até os atacantes ajudam na marcação. Uma marcação sufocante até. Aliás, sem essa marcação, o time certamente não seria tão forte.

Abraços.

Anônimo disse...

E há também aqueles que insistem em dizer que Muricy, Felipão e José Mourinho são retranqueiros.
abs

Johnny disse...

Outro clichê clássico é o "O time X joga/está jogando/jogou em duas linhas de quatro". Jogador de futebol, comentarista, jornalista, treinador e até torcedor metido a intelectual gosta desse termo.

Michel Costa disse...

Bem lembrado, "Anônimo" e Johnny. E, falando em Muricy, a semifinal de sábado foi um prato cheio para o Dr. Clichê de plantão. Imagino quantos "nós táticos" surgiram após o técnico do Santos trocar um atacante por um zagueiro na vitória sobre o São Paulo.

Abraços.

Yuri disse...

e a "correria asiática"? rsrs

Michel Costa disse...

Lembrei desse clichê, Yuri, mas como já tinha citado mais três fartamente utilizados em Copas, deixei passar.
Aliás, Copa do Mundo é um prato cheio para o Dr. Clichê, hein?

Anônimo disse...

Michel, me desculpe, o anônimo do comentário era eu. Então, outra coisa que detesto nos comentaristas é sempre aquela ressalva de quem não banca um comentário 100%. Por exemplo: "O Tite pode até ser campeão paulista, mas ele é um técnico limitado". "O Cruzeiro pode até empatar a partida, mas ele não está jogando bem". Tenha dó. Faça um comentário e assuma a bronca depois.
abs
Venditti

marcus Buiatti disse...

hahaha...foi o que mais gostei.

Mas, faço uma auto-crítica: quantos clichê eu já usei...não estamos livres deles.

abs! parabéns, Michel, a série está ótima.

Michel Costa disse...

Tudo bem, Venditti. Imaginei que era você. Por isso, coloquei o anônimo entre aspas, mas não arrisquei colocar seu nome.
Sobre a conduta de não bancar os comentários, concordo contigo. Porém, até imagino a razão. Afinal, com a internet, vai sobrar trollagem para o comentarista que cravar qualquer coisa e errar.

Abraço.

Michel Costa disse...

Valeu, Marcus.
Acho que todos nós fazemos uso vez por outra. Outro clichê que não está no post, mas que todos adoram usar é "a melhor defesa é o ataque". Balela. A melhor defesa é a melhor defesa e o melhor ataque é o melhor ataque. Depende do contexto.

Abraço.

minicritico disse...

Desse clichê ("a melhor defesa é o ataque"), deriva uma ideia meio subjetiva de que todos os times que são muito bons ofensivamente são necessariamente frágeis na defesa. É algo como a história do cobertor curto.

O Santos de 2010, por exemplo, confirmava o clichê e de fato tinha uma zaga vulnerável. Mas o Barça atual não. O time é forte defensivamente também, com uma marcação que sufoca o adversário já na sua saída de bola, como você comentou, Michel. E não é raro ver comentaristas por aí dizendo coisas como "a defesa do Barcelona não é lá essas coisas também".

Michel Costa disse...

De todos, esse é o único clichê que pelo menos dá margem para algum debate, Mini-Crítico. Afinal, se o time está atacando, fica subentendido que está com a bola e assim não pode sofrer gols. No entanto, os citados Santos e Barcelona mostram bem que a coisa não para por aí. O Santos/2010 era bom ofensivamente, mas deixava grandes espaços no meio-campo e na defesa. Por sua vez, a mecânica de jogo do Barça funciona de tal maneira que mesmo marcando à frente o tempo todo, oferece poucas oportunidades aos rivais.