domingo, 27 de julho de 2014

Um novo ciclo


Ao contrário do que ocorreu com Mano Menezes em seu início de trabalho na Seleção Brasileira em 2010, quando partiu quase do zero, os convocados por Luiz Felipe Scolari para o Mundial de 2014 devem formar a base da equipe que tentará recuperar o prestígio perdido no ciclo que se encerra na Copa do Mundo de 2018. À sua disposição, o técnico Dunga terá ao final de quatro anos um grupo que estará num estágio mais amadurecido do que foi visto recentemente em território brasileiro. Obviamente, se o ex-capitão chegar até lá.

Nos últimos dias ficou ainda mais evidente que Dunga não conta com a aprovação da imprensa esportiva. Não pelos fatos expostos de sua vida, que têm moderada relevância, mas pela maneira como estão lidando com eles, a ponto de haver sugestão paraque o treinador renuncie antes mesmo de estrear. Nesse cenário, está claro que apenas uma sequência de bons resultados e, sobretudo, bom futebol vai proteger o técnico das críticas que vão acompanhá-lo até o fim de seu contrato. Por tanto, é possível que tenhamos força máxima desde o início e não uma estrutura de transição.

Da equipe titular comandada por Felipão, nomes como Thiago Silva, David Luiz, Marcelo, Luiz Gustavo, Paulinho, Oscar, Hulk e Neymar provavelmente seguirão formando a espinha dorsal do novo time. Além deles, os goleiros Victor e Jefferson e os meia-atacantes Willian e Bernard têm condições de fazer parte do projeto. No entanto, veteranos como Júlio César, Daniel Alves, Maicon, Maxwell e Fred deverão ter suas vagas cedidas aos jovens que estão surgindo. Por sua vez, Dante, Fernandinho, Ramires e Hernanes, pela faixa etária, precisarão continuar correspondendo em seus clubes, enquanto Henrique e Jô, que só foram chamados por contarem com a confiança do ex-técnico brasileiro, dificilmente serão lembrados novamente.

Entre retornos e novidades, os arqueiros Cássio, Diego Alves e Marcelo Grohe saem na frente por oportunidades. Os jovens Rafael Cabral, Neto e Gabriel são outros que podem aparecer em breve nas listas de convocações. Para o centro da defesa, Miranda e Dedé surgem com evidência, mas Marquinhos e Rodrigo Caio, ambos com 20 anos, e o botafoguense Dória, 19, têm a idade e o sonho olímpico a favor.

Na lateral direita, talvez resida a posição com maior margem para experimentações. Com as possíveis aposentadorias de Daniel Alves e Maicon da camisa amarela. Marcos Rocha, Danilo e Mário Fernandes, este também na mira da Seleção Russa, despontam como favoritos. Rafael da Silva, outro lateral frequentemente lembrado, tem contra si a irregularidade que marca sua trajetória no Manchester United. No lado oposto, Filipe Luís, Alex Sandro e Alex Telles são opções interessantes para a disputa com Marcelo.

Muito contestado durante a Copa do Mundo, o meio-campo da Seleção requer cuidados. Dunga não foi um volante brilhante, mas sabe que o coração do jogo reside ali. O técnico dificilmente abrirá mão de um volante marcador, o que implica que Luiz Gustavo possivelmente seguirá no time. Todavia, isso não significa que deixará o setor esvaziado de talento. Durante sua primeira passagem, fazia uso de um 4-3-1-2 que se convertia num 4-2-3-1 com Elano abrindo pela direita e Robinho pela esquerda. Nas duas formações, preocupação com o preenchimento do meio campo. Deste modo, volantes mais técnicos como Rômulo, Souza (São Paulo) e Lucas Silva adquirem boas perspectivas. Mais à frente, Ganso volta à pauta, assim como Lucas Moura, Philippe Coutinho e Roberto Firmino, quase desconhecido no País, mas de grande destaque no Hoffenheim e cobiçado por gigantes europeus.

No ataque, a carência de centroavantes pode fazer com que Neymar atue como o jogador mais adiantado da equipe, função já testada por Mano Menezes. Não como “falso 9”, mas como um atacante móvel. Por sua entrega e participação sem bola, Hulk deve continuar, porém, precisa mostrar o poder de decisão que o destacou no Porto. Outros avançados que podem surgir futuramente são Luiz Adriano do Shakhtar Donetsk e a joia santista Gabriel. Como se nota, talento não falta. A maior parte desses atletas atua em altíssimo nível na Europa e o grande desafio é transformá-los numa equipe competitiva. Dentro de seu estilo, Dunga é capaz de cumprir essa missão. Resta saber se terá tempo para isso.

Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: AP

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