Um prolongamento do massacre da última
terça-feira. Assim pode ser definida a derrota para a Holanda por 3x0 na
decisão do terceiro lugar. Desta vez, o choque parece ter dado lugar a um
estranho vazio, como se tudo aquilo fosse esperado. Aos poucos, os bastidores
da tragédia que se abateu sobre a Seleção Brasileira vão surgir. Enquanto a
caixa-preta não se abre, este é o momento de refletir sobre o que aconteceu.
Apesar da conquista da Copa das Confederações,
estava claro que a equipe tinha deficiências no meio-campo, sobretudo na saída
de bola e armação de jogadas, e que a presença de um centroavante mais fixo acrescentava
pouco à dinâmica do time. Questões que se perpetuaram durante o último ano e se
mostraram ainda mais preocupantes no Mundial, incluindo a formação do grupo,
como a coluna ponderou aqui. Tudo isso
somado à perda de Neymar e a carga de ser o país anfitrião da Copa foram determinantes
na queda da Seleção.
Durante a coletiva realizada após a derrota para
a Alemanha, Luiz Felipe Scolari se assumiu como único responsável pelo
acontecido. Ao mesmo tempo, se recusou a comentar possíveis falhas no
planejamento e se apoiou num suposto “apagão” para justificar a eliminação. Logicamente,
ninguém pode achar normal uma equipe sofrer quatro gols em seis minutos, mas a
resposta não pode se limitar a isso. Desta vez, ao responder uma pergunta sobre
a necessidade de se reciclar como profissional, o técnico preferiu apontar para uma suposta escassez de talentos da atual geração.
Nesse ponto, além da falta de autocrítica, houve
uma tentativa de transferência de uma responsabilidade que ele mesmo havia
assumido. Embora o grupo atual não seja tão experiente e talentoso quanto o de
2006, ele é claramente mais encorpado do que o de 2010, ocasião em que o escrete
comandado por Dunga chegou apenas às quartas de final na África do Sul, mas
apresentava um padrão tático muito mais definido, embora tivesse limitações,
sobretudo, quando se deparava com defesas mais compactas.
Trata-se de um cenário que requer cuidado. Boa
parte destes convocados tem idade e condições para estar presente no próximo
ciclo e é fundamental não queimá-los agora. Ficando apenas no âmbito de Seleção
Brasileira, creio que o próximo treinador terá muito trabalho para reconstruir o
time, todavia, também terá material humano para fazê-lo. Que a cúpula de CBF,
de quem pouco se espera, seja ao menos capaz de indicar em breve o sucessor de
Felipão. Dentre as opções locais, nenhum nome desponta mais do que Tite. Resta
saber se alguém será capaz de enxergar esse óbvio.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Foto: AFP
2 comentários:
Juntando as peças vemos que uma parte do vexame pode estar no rompimento do elo entre os atletas e o "paizão" Scolari, que disse que não seria má ideia trocar um do grupo de 23. Algumas alfinetadas dizendo que um treinador estrangeiro seria bom para o Brasil (Daniel Alves) e que na Europa se treina com mais intensidade (William) refletem que, no mínimo, não correram pelo treinador, quando a coisa apertou. Com isso não quero eximir Felipão de culpa pelo seu atraso tático, que ficou evidente durante a Copa e os jogadores, que formam um grupo com alguns bons jogadores, mas sem nenhum outro protagonista, além de Neymar (Thiago Silva é um grande zagueiro, mas falo protagonistas do meio para a frente). Além disso, é bem possível que a Alemanha vencesse com ou sem briga interna.
Também acho que, pelo menos, 50% do grupo pode ser utilizado na programação até 2018, é algo comum, você tem de partir de uma base para o trabalho que vem pela frente.
Dos nomes nacionais realmente Tite sai na frente, até pela falta de opções. É bom treinador, mas precisamos ver ele montando um time que tem de propor jogo na maioria dos casos. Cristóvão pode ser um bom nome para o futuro da Seleção Principal, quem sabe em 2022 (mas não seria interessante pensar nele na Seleção Olímpica, ao invés do inexplicável Gallo?)
Maxwell também foi na linha do "estamos taticamente atrasados" falando a uma TV holandesa. Acredito que, aos poucos, esse quebra-cabeça vai se montar.
Quanto a Tite, tenho a mesma curiosidade. Seu Corinthians era um time muito sólido, mas meio engessado também. Mas isso pode se dever ao elenco disponível, um tipo de barreira que ele não encontra na Seleção. Espero que a definição do nome do novo técnico se resolva logo.
Sobre a Seleção Olímpica, não serei tão otimista. Como o comando da CBF não vai mudar nos próximos dois anos, Gallo, que vem trabalhando com a base, deve ser o escolhido.
Postar um comentário