Como não
poderia deixar de ser, os dez gols sofridos pela Seleção diante de Alemanha e
Holanda tiveram um efeito devastador sobre a opinião pública. Rediscutir toda a
escola brasileira tornou-se pauta obrigatória na imprensa esportiva. Naquele
momento, não era apenas o escrete canarinho que parecia estar em questão. Das
categorias de base, passando pelo tipo de futebol que se joga no país, pela
maneira como nossos atletas se desenvolvem no exterior, até chegar à defasagem
dos técnicos nacionais, tudo o que foi construído ao longo do tempo deveria ser
colocado à mesa.
De certa
maneira, era como se as pessoas que se importam com esse esporte tivessem feito
uma terapia de regressão para compreender o que deu errado no caminho até o
massacre de 8 de julho. Era uma volta ao passado, uma tentativa de reencontrar
as raízes perdidas de nossa cultura futebolística. Inevitavelmente, a busca faz
uma parada no Mundial de 1982 onde, segundo o craque Paulo Roberto Falcão, a
Seleção “perdeu a Copa, mas ganhou o mundo”. Para muitos, dali para frente o
talento cedeu espaço para a força e volantes meramente marcadores usurparam o
lugar dos antigos armadores. Até mesmo Telê Santana, mentor daquela
inesquecível equipe, passou a escalar jogadores mais combativos do que criativos
à frente de suas defesas depois da fatídica derrota para a Itália no estádio
Sarriá.
Os títulos da
Espanha em 2010 e Alemanha nesta Copa reafirmaram a tendência de um futebol
voltado para o coletivo, protagonista e com jogadores multifuncionais no meio-campo.
O mesmo que a Seleção Brasileira foi um dia, logicamente, com as peculiaridades
daqueles tempos. Em meio a tantas constatações, passou-se a acreditar que um
técnico estrangeiro poderia resgatar o que nenhum profissional local seria
capaz de fazer. Nomes como Pep Guardiola e José Mourinho foram sugeridos, mas
além de não estarem no mercado, seus estilos diametralmente opostos indicam que
muitos ainda se preocupam mais com a grife do que com a proposta que deveria
ser implantada.
Quando surgiu
a informação de que a CBF não contrataria um nome estrangeiro, Tite surgiu como
a escolha mais óbvia. Responsável por um dos projetos mais consistentes dos
últimos anos, o ex-treinador do Corinthians era o ideal por reunir as
principais qualidades que a missão necessita: Organização, entendimento do
jogo, capacidade de motivação e atualização. É um estudioso, alguém que sempre procurou
observar – até mesmo in loco – o que
outros técnicos fazem pelo mundo, tipo de humildade pouco comum por aqui. Porém,
pelo visto, essa obviedade esbarrou na ligação do técnico com Andrés Sanchez, conhecido
opositor à cúpula da entidade. Não por acaso, notícias dão como adiantadas as
tratativas de Tite com a Seleção Japonesa.
Na última quinta-feira,
com o anúncio do ex-goleiro Gilmar Rinaldi como novo coordenador técnico do
Brasil, veio enfim a sensação de que pouco ou nada mudaria. Com pouca experiência
para uma função tão complexa, Gilmar, com o respaldo de Marin e Del Nero, deve apostar no retorno de Dunga ao comando da Seleção. Por mais que o capitão
do Tetra tenha realizado um trabalho digno no ciclo 2006-2010, este não é o
momento para a sua volta. Não quando se clama por um futebol que passe longe do
estilo contra-ataque e bola parada. Na prática, isso significa a continuidade
do tão abominado “resultadismo”, filosofia do “ganhar a qualquer custo” e que
quando não vem acompanhada do resultado não traz quase nada consigo. Todavia,
pelo andar da carruagem, os fãs do futebol brasileiro vão precisar de muita
terapia nos próximos anos.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Foto: Agência Brasil
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