quarta-feira, 23 de julho de 2014

Pontos e Vírgulas

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.

Paz armada

Há duas décadas, o capitão da Seleção Brasileira erguia o troféu de campeão do mundo aos gritos de “Essa é pra vocês, seus traíras! É nossa essa porra!”, no que se tornou o maior desabafo de uma figura ligada ao futebol em toda a história desse esporte. Naquele momento, Dunga exorcizou as críticas – boa parte imerecidas – que recebera por conta da derrota em 1990 e durante a campanha que culminou no tetracampeonato nos EUA. É verdade que o gesto foi deselegante e em nada combinou com a postura ideal de um desportista, mas só o jogador sabia o que havia passado. A partir dali, ficou evidente que sua relação com a imprensa nunca seria saudável. E assim foi pelo restante de sua carreira de atleta e durante sua passagem como técnico do Brasil entre 2006 e 2010.
De volta ao posto que deixou há quatro anos, Dunga fez mea-culpa em sua primeira entrevista coletiva e disse que deseja melhorar seu trato com os órgãos de imprensa. A julgar pela forma um pouco ríspida que usou para responder determinadas perguntas, imagina-se que a tarefa não será das mais fáceis para ele. Por natureza, o técnico tem um gênio forte, “turrão” para pegar um termo usado pelo próprio. E a maneira como provavelmente armará a equipe brasileira deve lhe render críticas que dificilmente serão digeridas de forma tranquila. Ainda mais quando a opinião geral aponta para o resgate de um futebol protagonista.  Como ele reagirá a isso ainda é uma incógnita, mas chegou a hora de voltarmos o olhar para o outro lado da questão.
Dunga é só uma parte dessa equação. Seria um equívoco dizer que ele esbraveja em direção a fantasmas sem rosto. Suas respostas normalmente têm endereço e quase sempre são uma forma reação a comentários que ultrapassam a barreira da imparcialidade. Logo após o término da citada coletiva, o jornalista Paulo Vinícius Coelho escreveu que o trabalho de Dunga deveria ser observado de forma neutra e justa. Nada mais correto. Um novo ciclo se inicia e a análise precisa ser feita a partir do amistoso contra a Colômbia no dia 5 de setembro em Miami.
Lamentavelmente, não deve ser assim. A notícia de seu retorno caiu como uma bomba na imprensa esportiva e os efeitos foram sentidos de imediato. Seu nome foi rejeitado de forma quase unânime. A partir daí, uma caminhada que nem começou já foi alvo de todo tipo de ataque. Entre tantos, um chamou mais a atenção. Durante o programa Linha de Passe (ESPN Brasil) exibido na última segunda-feira, o comentarista José Trajano se declarou inimigo de Dunga. Sim, inimigo, como se houvesse uma guerra a ser travada. Em seu discurso inicial, o técnico se mostrou interessado em melhorar sua relação com a mídia, mesmo que suas armas verbais estejam por perto. Pelo visto, talvez tenha que usá-las bem antes do que imagina.
Imagem: Vanderlei Almeida/AFP

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