Ele está em toda parte. Nas ruas, no trabalho, na
fila do banco, na padaria. Durante qualquer assunto mais prolongado, alguém
toca no tema. Não adianta. Anos, décadas irão se passar e os 7 x 1 sofridos
para a Alemanha serão como uma ferida aberta na alma do torcedor brasileiro.
Contudo, no que tange o comando do futebol nacional e a imprensa esportiva,
mais importante do que relembrar o massacre de 8 de julho é ter a percepção do
que aconteceu naquela tarde em Belo Horizonte.
A CBF agiu rápido. Ao que tudo indica, sua cúpula
entendeu que o único problema estava em Luiz Felipe Scolari e demais
profissionais. Ao demitir o treinador e anunciar Dunga como seu substituto
pouco tempo depois, Marin deu mostras de que a Seleção Brasileira não carece de
grandes reparos. Basta nomear alguém capaz de manter a ordem e controlar as
vaidades que tudo se resolve. Mexer na estrutura local, nem pensar. Afinal, foi
exatamente ela que o colocou ali.
Por sua vez, grande parte da imprensa esportiva
preferiu voltar seus canhões para o futebol brasileiro. A goleada alemã foi
explicada de diversas formas, como a qualidade do jogo aqui praticado, o baixo
público nos estádios, até chegar a uma suposta defasagem de nossos técnicos. Do
jogo em si, da apresentação dos jogadores, da formação do grupo que disputou o
Mundial, falou-se pouco ou menos do que deveriam. Era como se as justas
reivindicações do dia a dia tivessem encontrado o terreno fértil de que se
buscava. E que, portanto, não deveríamos perder tempo analisando a equipe
quando uma grande oportunidade de mudança se faz presente.
Impossível aceitar integralmente as duas posturas. A
primeira, obviamente, pela ausência de qualquer projeto esportivo. A ideia de
promover um seminário ou algo parecido para se rediscutir os rumos do futebol
brasileiro, incluindo a Seleção, provavelmente nunca foi discutida. Desse modo,
não há a adoção de uma filosofia, mas de um escudo contra críticas. No máximo,
oferecem apoio logístico e não economizam com instalações. Todo o resto é por
conta da comissão técnica. Foi assim com Felipão e assim será com Dunga.
No que se refere ao time canarinho, é preciso
observar que sua ligação com o que acontece no Brasil é bem menos estreita do
que os analistas afirmam. A maior parcela dos convocados atua com destaque nas
maiores equipes da Europa sob as ordens dos principais técnicos. Em entrevista
concedida à ESPN há alguns meses, Jürgen Klinsmann, treinador dos Estados
Unidos, disse que o que falta ao seu selecionado é justamente o que os
brasileiros têm de sobra: Experiência e relevância nas maiores ligas. Sem isso,
o alemão acredita ser difícil competir no mais alto nível.
A nova missão do capitão 1994 no ciclo que se inicia
está muito mais atrelada ao desempenho dos principais atletas brasileiros
espalhados pelo mundo – e isso também inclui avaliar nomes da Série A – do que
ao desenvolvimento do futebol praticado no Brasil. Ambas são questões
importantes, porém distintas. Essa jornada se assemelha muito mais a de
Alejandro Sabella na Argentina do que a de Joachim Löw na campeã mundial. Assim
como Sabella, Dunga precisa reunir jogadores que militam nos mais diferentes
campeonatos e transformá-los num time. Löw, ao contrário, pode se concentrar
mais na Bundesliga e monitorar um grupo mais restrito fora da Alemanha.
Logicamente, não se trata de desconsiderar as mudanças
fundamentais pelas quais o futebol nacional deverá passar caso pretenda atingir
um maior grau de desenvolvimento. Os 7 x 1 não revelaram atraso nenhum, pois,
para quem queria enxergar, ele estava lá há uns bons anos. Para recuperá-los,
faz-se primordial um plano de reestruturação que, provavelmente, nossos atuais dirigentes
são incapazes de organizar. Por outro lado, Dunga, de volta à condição de
técnico da Seleção, tem obrigações de curto prazo que independem dos passos de
cágado da cartolagem. Esquecer a vexatória campanha no Mundial ninguém vai.
Todavia, poucos remédios surtirão melhor efeito do que vermos uma Seleção
Brasileira competitiva novamente.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Ueslei
Marcelino/Reuters
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