Quem acompanha a luta diária pela
audiência na televisão aberta brasileira provavelmente leu alguma coisa a
respeito da queda dos números da TV Globo. Ano após ano, as principais atrações
da maior emissora do país veem seus índices despencarem vertiginosamente.
Novelas, reality shows, séries e outros programas perderam pontos para outras
mídias ou, em alguns casos, para a concorrência. Quando uma paixão nacional
como o automobilismo começa a ser vista atrás de um desenho animado repetido à
exaustão é sinal de que algo não vai bem. No caso da Fórmula 1, a principal
razão provavelmente é a longa ausência de um piloto brasileiro capaz de ser
competitivo na categoria. Mas qual será a razão para a queda de audiência do futebol?
Automaticamente, há quem diga que a explicação
está na má qualidade dos jogos. Acabamos de sair de uma Copa do Mundo aonde vimos
estádios lotados, com público animado, grandes craques e emocionantes partidas.
No retorno do Campeonato Brasileiro, o choque de realidade: Arenas bem menos
cheias, jogos com pouca qualidade técnica e coletiva e uma quantidade
assombrosa de faltas sendo marcadas a cada cotejo. Todavia, se a explicação
está na qualidade, a queda deveria ter se dado há muito mais tempo, pois o êxodo
dos melhores atletas e as discussões sobre atraso tático tiveram início há, pelo
menos, duas décadas, enquanto os públicos médios foram relativamente baixos em
quase toda a história dos nossos campeonatos.
A conclusão inicial, aparentemente
precipitada, se deve ao fato de que desde o Mundial paira uma ânsia de mudarmos
nossos torneios. Um sentimento de inconformismo diante da possibilidade de termos
um campeonato nacional muito mais forte do que atualmente é. O resgate de um
futebol que nos identifica e que foi deixado para trás em algum momento. No
entanto, é preciso ter em mente que tais mudanças não se darão do dia para a
noite e não dependem exclusivamente da decisão dos treinadores montarem equipes
ofensivas. Trata-se de um processo relativamente lento que precisa ter o respaldo
de diversos setores (imprensa esportiva, inclusive) para funcionar. Não
fomentar a prática demissionária dos clubes é um bom começo. Normalmente, os
melhores trabalhos são os duradouros.
Nesse contexto, a simples hipótese de
termos a fórmula do Brasileirão alterada para o velho mata-mata já é um
retrocesso. Por um calendário racional entende-se que todos os times devem ter
uma temporada repleta de atividades e ter apenas dois chegando ao fim do ano é
destruir o planejamento das agremiações e gerar desconfiança nos
patrocinadores. Noutras palavras, é um tiro no pé. Algo assim só interessa a
quem só tem compromisso com seus índices de audiência. Por ser o maior cliente,
é justo e saudável que a Globo cobre um produto de maior qualidade. Porém,
qualquer tipo de ingerência que se sobreponha à necessidade dos clubes não
contribui em nada com o objetivo de termos um futebol brasileiro melhor, algo
que todos desejamos.
Imagem: Veja
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