sábado, 9 de agosto de 2014

Por linhas tortas

Quem acompanha a luta diária pela audiência na televisão aberta brasileira provavelmente leu alguma coisa a respeito da queda dos números da TV Globo. Ano após ano, as principais atrações da maior emissora do país veem seus índices despencarem vertiginosamente. Novelas, reality shows, séries e outros programas perderam pontos para outras mídias ou, em alguns casos, para a concorrência. Quando uma paixão nacional como o automobilismo começa a ser vista atrás de um desenho animado repetido à exaustão é sinal de que algo não vai bem. No caso da Fórmula 1, a principal razão provavelmente é a longa ausência de um piloto brasileiro capaz de ser competitivo na categoria. Mas qual será a razão para a queda de audiência do futebol?
Automaticamente, há quem diga que a explicação está na má qualidade dos jogos. Acabamos de sair de uma Copa do Mundo aonde vimos estádios lotados, com público animado, grandes craques e emocionantes partidas. No retorno do Campeonato Brasileiro, o choque de realidade: Arenas bem menos cheias, jogos com pouca qualidade técnica e coletiva e uma quantidade assombrosa de faltas sendo marcadas a cada cotejo. Todavia, se a explicação está na qualidade, a queda deveria ter se dado há muito mais tempo, pois o êxodo dos melhores atletas e as discussões sobre atraso tático tiveram início há, pelo menos, duas décadas, enquanto os públicos médios foram relativamente baixos em quase toda a história dos nossos campeonatos.
A conclusão inicial, aparentemente precipitada, se deve ao fato de que desde o Mundial paira uma ânsia de mudarmos nossos torneios. Um sentimento de inconformismo diante da possibilidade de termos um campeonato nacional muito mais forte do que atualmente é. O resgate de um futebol que nos identifica e que foi deixado para trás em algum momento. No entanto, é preciso ter em mente que tais mudanças não se darão do dia para a noite e não dependem exclusivamente da decisão dos treinadores montarem equipes ofensivas. Trata-se de um processo relativamente lento que precisa ter o respaldo de diversos setores (imprensa esportiva, inclusive) para funcionar. Não fomentar a prática demissionária dos clubes é um bom começo. Normalmente, os melhores trabalhos são os duradouros.
Nesse contexto, a simples hipótese de termos a fórmula do Brasileirão alterada para o velho mata-mata já é um retrocesso. Por um calendário racional entende-se que todos os times devem ter uma temporada repleta de atividades e ter apenas dois chegando ao fim do ano é destruir o planejamento das agremiações e gerar desconfiança nos patrocinadores. Noutras palavras, é um tiro no pé. Algo assim só interessa a quem só tem compromisso com seus índices de audiência. Por ser o maior cliente, é justo e saudável que a Globo cobre um produto de maior qualidade. Porém, qualquer tipo de ingerência que se sobreponha à necessidade dos clubes não contribui em nada com o objetivo de termos um futebol brasileiro melhor, algo que todos desejamos.

Imagem: Veja

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