A declaração de José Mourinho foi sintomática: “David
Luiz fez coisas importantes aqui, foi sempre um bom profissional. Vamos sentir
sua falta como um cara legal. Mas, do ponto de vista do futebol, acredito que
nossa equipe é mais forte nesta temporada do que era.” E completou: “Na
última temporada, ele não foi nossa primeira opção regularmente. Como zagueiro,
definitivamente, foram John Terry e Gary Cahill na temporada inteira. No meio
de campo, ele tem presença física e nos proporcionou coisas importantes,
especialmente na Champions, quando Matic não pôde jogar. Mas agora Matic pode
jogar a Champions, então, não perdemos tanto fisicamente”, concluiu.
Quem acompanhou a temporada passada do Chelsea, sabe que o
técnico não está mentindo. Com Mourinho, o zagueiro brasileiro não era a primeira
opção e sua saída estava delineada antes mesmo da Copa do Mundo. Conhecido pelo
sólido padrão tático que oferece às equipes que comanda, o português dificilmente
seria adepto de um defensor que se lança ao ataque sem muita preocupação com a
retaguarda, mesmo que fosse tecnicamente superior aos seus titulares. Crítico
feroz da nova contração do Paris Saint-Germain, o ex-lateral Gary Neville
costumava defini-lo como “um jogador de Playstation controlado por um garoto de
10 anos.”
Jornalista
radicado no Brasil, o inglês Tim Vickery, embora mais comedido do que Neville, também
faz coro às críticas do compatriota ao reconhecer as qualidades de David Luiz,
mas lembrar que ele está sempre “em busca da glória 30 metros à frente”. Tim
foi um dos poucos a perceber que o zagueiro descumpriu suas obrigações defensivas
durante a Copa do Mundo: “Ele não estava jogando para o time, estava jogando
para a galera”, explicou. Embora o carisma e o estilo aguerrido tenham feito
sucesso com a torcida, as atuações contra Alemanha e Holanda ultrapassaram com
folga o limite da irresponsabilidade.
Contratado
pelo PSG como o zagueiro mais caro da história (cerca de € 49,5 milhões), David
Luiz tem um horizonte favorável pela frente. Vai atuar ao lado de Thiago Silva,
seu parceiro na Seleção Brasileira, e será chefiado por Laurent Blanc, um dos
maiores defensores que o futebol francês já produziu. Do amigo, poderá ouvir os
sábios conselhos oferecidos por Alessandro Nesta nos tempos de Milan. Com o
técnico, líbero dos bons, pode adquirir o timing certo para apoiar o ataque. Sem
dúvida, um panorama bem mais interessante do que aquele que vivia em Londres.
Nome confirmado
na primeira convocação de Dunga, David tem agora uma grande oportunidade de se
redimir. Avesso a fanfarronices, o novo treinador da Seleção Brasileira certamente
está atento ao que ocorreu no Mundial. Para muitos, os recados deixados nas
entrelinhas durantes as coletivas estavam direcionados ao o zagueiro e não a
Neymar, como se pensou. Sem a presença do lesionado Thiago nos amistosos diante
de Colômbia e Equador, é provável que a faixa de capitão retorne ao braço de
David. Caso isso se confirme, seria um voto de confiança do comandante. E, pelo
que se conhece do exigente ex-volante, é bom ele não decepcionar.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
2 comentários:
O que eu temo é se o Dunga resolver fazer alguma observação mais crítica em relação ao Side Show Bob brasileiro e a mídia tentar criar uma situação de "crise" entre os 2; vamos ver se o treinador consegue levar bem essa situação. Como você disse, o David tem de ser melhor orientado defensivamente e não achar que pode jogar sempre para a torcida. Não acho ele um excepcional zagueiro, pensaria em usá-lo como volante algumas vezes, mas inegavelmente ele mostrou boas qualidades que podem ser úteis se ele não achar que joga mais do que joga de fato.
Pelo que conhecemos de Dunga, imagino que as conversas serão mais reservadas, Alexandre. O técnico tem como perfil proteger seus comandados. Mesmo agora no corte de Maicon por indisciplina há o cuidado para não expôr o jogador. Não por acaso, a primeira passagem foi marcada pela entrega dos atletas.
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