domingo, 7 de setembro de 2014

Primeiros passos

Como reza o manual dos treinadores precavidos, Dunga fez questão de dar o favoritismo do amistoso entre Brasil e Colômbia aos rivais. Sem dúvida, o técnico tinha conhecimento da força do elenco comandado há dois anos pelo argentino José Pékerman, mas também havia a percepção de que não se coloca pressão sobre um grupo recém-formado, ainda mais quando boa parte deste acaba de emergir do pior momento da história do selecionado nacional. Contudo, Dunga sabia que poderia vencer a partida e trabalhou para isso.
Durante a última semana, noticiou-se que os treinos da Seleção estavam mais longos e intensos do que se via com Luiz Felipe Scolari. As atividades duram agora mais de duas horas e foram sempre com bola. Perguntados sobre a diferença entre os dois técnicos, alguns jogadores, com os rodeios de praxe, disseram que o novo técnico é mais detalhista que seu antecessor. O espírito aguerrido e vencedor do capitão do Tetra também foi mencionado. Restava saber como o curto período de treinos se refletiria em campo.
Previamente, a lista de convocados indicava um time montado para o presente. Nomes como Maicon – cortado por indisciplina neste domingo – Filipe Luís, Ramires, Elias e Diego Tardelli dão a certeza de que as vitórias precisam voltar a fazer parte do dicionário canarinho. Ao contrário do que ocorreu na reformulação total promovida por Mano Menezes há quatro anos, com Dunga as alterações devem se dar de maneira gradual. Embora seja muito cedo para análises mais profundas, vimos uma Seleção Brasileira preocupada em fechar os espaços, marcar forte e contra-atacar rápido. A mesma fórmula que o técnico usou durante sua primeira passagem.
Taticamente, duas mudanças se fizeram notar. A primeira, bastante auspiciosa, mostra que o maior dilema da Era Felipão pode ser solucionado com treinamento e posicionamento. A transição defensiva, antes marcada pela inoperância dos volantes e por lançamentos longos que normalmente devolvia a posse ao adversário foi substituída, por orientação de Dunga, por uma saída de pé em pé com participação dos dois volantes e laterais bem abertos (abaixo).

A segunda, que pode se tornar usual neste ciclo, foi a ausência de um centroavante fixo. Como é sua característica, Diego Tardelli movimentou-se bastante, buscou jogo e aliviou Neymar da tarefa de recuar para marcar. Na prática, o leve quarteto ofensivo não deixou referência para os zagueiros rivais, porém, era constante a presença de alguém para concluir as jogadas. Uma solução interessante para a falta de um finalizador nato.
Autor do gol da vitória, seu 36º em 55 jogos, Neymar continua sendo a principal referência da equipe. Movimentando-se por todo o campo de ataque, o camisa 10 teve liberdade para carregar a bola e tentar jogadas individuais. Por exercer a chamada “liderança técnica”, recebeu a missão de ser o mais novo capitão da história da Seleção. Uma demonstração de perda confiança em Thiago Silva, devido ao descontrole emocional mostrado durante o Mundial, e em David Luiz, pelos rompantes ofensivos. Por outro lado, fica evidente que o protagonismo de Neymar continua em alta. Resta saber como será o time que lhe dará suporte.   
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagens: Bruno Domingos/Mowa Press e Sportv

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