Como reza o manual dos treinadores precavidos, Dunga
fez questão de dar o favoritismo do amistoso entre Brasil e Colômbia aos
rivais. Sem dúvida, o técnico tinha conhecimento da força do elenco comandado há
dois anos pelo argentino José Pékerman, mas também havia a percepção de que não
se coloca pressão sobre um grupo recém-formado, ainda mais quando boa parte
deste acaba de emergir do pior momento da história do selecionado nacional.
Contudo, Dunga sabia que poderia vencer a partida e trabalhou para isso.
Durante a última semana, noticiou-se que os treinos
da Seleção estavam mais longos e intensos do que se via com Luiz Felipe
Scolari. As atividades duram agora mais de duas horas e foram sempre com bola. Perguntados
sobre a diferença entre os dois técnicos, alguns jogadores, com os rodeios de
praxe, disseram que o novo técnico é mais detalhista que seu antecessor. O
espírito aguerrido e vencedor do capitão do Tetra também foi mencionado.
Restava saber como o curto período de treinos se refletiria em campo.
Previamente, a lista de convocados indicava um time
montado para o presente. Nomes como Maicon – cortado por indisciplina neste domingo – Filipe Luís, Ramires, Elias e Diego Tardelli dão a certeza de que
as vitórias precisam voltar a fazer parte do dicionário canarinho. Ao contrário
do que ocorreu na reformulação total promovida por Mano Menezes há quatro anos,
com Dunga as alterações devem se dar de maneira gradual. Embora seja muito cedo
para análises mais profundas, vimos uma Seleção Brasileira preocupada em fechar
os espaços, marcar forte e contra-atacar rápido. A mesma fórmula que o técnico
usou durante sua primeira passagem.
Taticamente, duas mudanças se fizeram notar. A
primeira, bastante auspiciosa, mostra que o maior dilema da Era Felipão pode
ser solucionado com treinamento e posicionamento. A transição defensiva, antes
marcada pela inoperância dos volantes e por lançamentos longos que normalmente
devolvia a posse ao adversário foi substituída, por orientação de Dunga, por
uma saída de pé em pé com participação dos dois volantes e laterais bem abertos
(abaixo).
A segunda, que pode se tornar usual neste ciclo, foi
a ausência de um centroavante fixo. Como é sua característica, Diego Tardelli
movimentou-se bastante, buscou jogo e aliviou Neymar da tarefa de recuar para
marcar. Na prática, o leve quarteto ofensivo não deixou referência para os
zagueiros rivais, porém, era constante a presença de alguém para concluir as
jogadas. Uma solução interessante para a falta de um finalizador nato.
Autor do gol da vitória, seu 36º em 55 jogos, Neymar
continua sendo a principal referência da equipe. Movimentando-se por todo o campo
de ataque, o camisa 10 teve liberdade para carregar a bola e tentar jogadas
individuais. Por exercer a chamada “liderança técnica”, recebeu a missão de ser
o mais novo capitão da história da Seleção. Uma demonstração de perda confiança
em Thiago Silva, devido ao descontrole emocional mostrado durante o Mundial, e em
David Luiz, pelos rompantes ofensivos. Por outro lado, fica evidente que o
protagonismo de Neymar continua em alta. Resta saber como será o time que lhe dará
suporte.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagens: Bruno Domingos/Mowa Press e Sportv
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