Quando o posto de técnico da Seleção Brasileira
ficou vago, quase ninguém pensou no retorno de Dunga. Apesar da hipótese de um
nome estrangeiro ter sido admitida pela CBF, todas as direções apontavam para a
escolha de Tite, o mais vitorioso e atualizado profissional brasileiro dos
últimos tempos. Todas menos uma: a política. Segundo a cúpula da entidade, o
ex-comandante do Corinthians era figura ligada ao desafeto Andrés Sanchez e,
portanto, carta fora do baralho.
Não há dúvida que a volta de Dunga não atendeu os
anseios da torcida brasileira. Depois do que houve na última Copa do Mundo,
esperava-se uma mudança de rumo na condução da Seleção. Apesar do time dirigido
no ciclo 2006/2010 ter sido competitivo, o ex-volante sempre o organizou visando
o contra-ataque. Nunca houve uma demonstração de busca por um futebol
protagonista. Na visão do capitão do Tetra, só a vitória interessava e o resto
não passava de perfumaria.
E parte dessa mentalidade se mantém. Como é de sua
natureza, Dunga é obcecado por vencer. Como disse Neymar, é o tipo de pessoa que
“não gosta de perder nem cara ou coroa” e isso se reflete em suas equipes. No
entanto, algumas mudanças em relação ao trabalho anterior já foram notadas.
Diferente de sua primeira passagem e do que era visto com Felipão, esta Seleção
tem um apreço maior pela troca de passes e pela posse, sem falar na ausência de
um centroavante clássico. Os lançamentos longos desde os zagueiros foram
repreendidos e a bola também não é alçada das laterais do campo de qualquer
maneira. Por outro lado, a recomposição defensiva segue a mesma linha que um
dia arrancou elogios de Fabio Capello.
Logicamente, é muito cedo para dizer que este novo
trabalho dará certo. Do mesmo modo, também não é possível falar em fracasso antecipado.
Durante o caso que resultou no desligamento de Maicon muitos se anteciparam
para dizer que o técnico errou na condução do episódio. Alguns dizendo que o
motivo da dispensa deveria ser divulgado, outros afirmando que o melhor era
manter o lateral no grupo e só depois não convocá-lo mais. Curiosamente, o
próprio jogador agradeceu a maneira como tudo foi conduzido. E ninguém melhor
do que ele para saber o tamanho do seu ato de indisciplina. No fim, acabou
ficando a impressão de que o julgamento à distância não foi o mais correto. Do
mesmo modo que falar em sucesso ou fracasso de Dunga baseando apenas pelo gosto
pessoal não parece a maneira mais justa e inteligente.
Coluna escrita originalmente para o site Doentes por Futebol.
Imagem: AFP
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