domingo, 4 de setembro de 2011

Algumas coisas nunca mudam.

Não me lembro da última vez em que a janela de transferências internacionais causou tão pouco dano ao futebol brasileiro. Em outros tempos, jogadores como Neymar, Ganso, Lucas e Leandro Damião teriam sido vendidos o mais rápido possível e por preços que se constatariam como ninharia no futuro. Hoje, esse panorama mudou devido à crise financeira vivida pela Europa e, sobretudo, pelo alto crescimento das receitas dos clubes brasileiros oriundas prioritariamente dos direitos de televisionamento. “O jogador brasileiro está muito caro”, afirma um empresário alemão que há pouco mais de vinte anos viu seus compatriotas contratando o ótimo Tita por uns trocados.
Se a manutenção dos grandes jogadores se tornou mais fácil no futebol brasileiro, infelizmente, o mesmo não pode ser dito do emprego dos técnicos que atuam no País. Ainda na 20ª rodada, o Campeonato Brasileiro viu 16 clubes trocarem de técnico. Entre demissões e pedidos de dispensa, temos uma média de quase um treinador caindo por rodada, um absurdo.
Obviamente, esse tipo de conduta faz parte de nossa cultura futebolística amadora, mas não deixa de causar espanto quando Tite, técnico do time líder do campeonato, se vê atormentado por uma possível demissão caso sua equipe perca uma partida. Pelo menos neste caso a pressão era muito mais externa do que interna, já que Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, não parece fazer coro a nossa política de demissões. Talvez por saber que não existe nenhum grande treinador disponível no mercado.
Quem não tem visão parecida é Zezé Perrella, presidente do Cruzeiro que nesta semana demitiu Joel Santana (clique no vídeo abaixo) após ver a equipe celeste perder em casa para o modesto Figueirense. O fato dos mineiros terem entrado em campo com um time cheio de desfalques não serviu de desculpa para o treinador carioca, demitido com pouco mais de dois meses de trabalho. Lamentavelmente, a dispensa de Joel teve apoio da imprensa esportiva do estado. Em seu lugar assumiu Emerson Ávila, funcionário do Cruzeiro e treinador da Seleção Brasileira Sub-17, campeã sul-americana, mas sem experiência em equipes de ponta.
E essa é a faceta mais curiosa dessa conduta demissionária. Na grande maioria das vezes, o técnico é substituído por outro de nível mais ou menos parecido ou até inferior, tendo como objetivo maior a mudança por si mesma. Não existe planejamento. Não existe nem mesmo um fio condutor que defina pelo menos o perfil do profissional com o qual o clube pretende trabalhar. Ora é um técnico estilo “boleirão” e currículo extenso, ora é um jovem profissional que não é ex-jogador. Ora é um técnico famoso pelo jogo defensivo, ora é alguém conhecido pela ousadia tática. Em comum, apenas a constatação de que na maioria das vezes a troca não melhora o time como imaginado.
Já passou da hora de dirigentes, torcedores e imprensa esportiva enxergarem que, salvo exceções, demitir treinador não é a solução para time nenhum. Para uma equipe se formar é necessário planejamento, trabalho e, sobretudo, tempo. Enquanto isso não acontecer, continuaremos achando que a função do técnico se resume apenas à conversa de vestiário, mesmo sabendo que é muito mais do que isso.

4 comentários:

Leonardo Prado disse...

Michel, meu time ta no 3º treinador esse ano. E não mudou muita coisa. É a falta ou inexistência de convicção por parte dos cartolas que gera esse problema.

Michel Costa disse...

Mas geralmente é isso o que acontece, Leonardo. Mudam de treinador a todo o momento e, geralmente, só se notam melhoras no princípio.
Veja o caso do Flamengo em 2010. Começou com Andrade que então era o técnico campeão brasileiro. Após a perda de um mísero Estadual mandaram o sujeito embora e trouxeram Rogério Lourenço. Logo em seguida, veio Silas. Depois, Luxa. Resultado: O Fla se livrou do rebaixamento apenas na penúltima rodada.
Aí eu pergunto: adiantou mudar?

Abraço.

Leonardo Prado disse...

e o caso do Tite, que é o líder do campeonato e toda rodada está na corda bamba.

Michel Costa disse...

E ontem, Tite recebeu a "visita" de uma organizada e ainda defendeu a entrada deles no clube. Tá tudo errado. Tudo.