domingo, 18 de setembro de 2011

Não caia nessa, Neymar!

Os mais jovens podem não se lembrar, mas os atacantes Denílson e Robinho deixaram o Brasil para jogar na Europa sob expectativas maiores por parte de imprensa e torcida do que Ronaldinho Gaúcho e Kaká. A história tratou de mostrar quem era quem, mas a verdade é que tanto o ex-são-paulino quanto o ex-santista eram considerados craques quando foram negociados.
Denílson era tido como uma espécie de Garrincha da ponta esquerda. Um entortador de laterais que, vendido por absurdos U$ 32 milhões pelo São Paulo ao Bétis, nunca entregou o que dele se esperava. Por sua vez, Robinho era visto como provável melhor do mundo por nove entre dez fãs brasileiros. Suas pedaladas enchiam os olhos e o topo parecia apenas questão de tempo. Me lembro bem de uma coluna de Juca Kfouri publicada no jornal Lance! após o título brasileiro do Santos em 2002 que dizia: “Feliz do clube que um dia teve Pelé e que hoje tem Pelé (Robinho) e Maradona (Diego).” Desnecessário comentar o exagero de tal pensamento.
Temo, sinceramente, que Neymar possa seguir o mesmo caminho. Não que falte talento ao jovem santista. Nada disso. Ao contrário dos jogadores citados no parágrafo anterior, Neymar é muito mais completo: Dribla em velocidade, tem visão de jogo e finaliza muito bem. O problema, como disse o goleiro Rogério Ceni no programa “Bem Amigos”, é outro e atende pelo nome de cai-cai. Uma prática comum ao futebol brasileiro, mas que não é tolerada na Europa, seu destino certo. O próprio jogador já foi vaiado por conta disso no amistoso contra a Escócia. Neymar atuou muito bem naquela ocasião, mas os apupos dos estrangeiros presentes ao estádio a cada vez que o garoto pegava na bola são uma lembrança forte daquele dia. Uma revolta que teve início quando ele tentou simular da mesma maneira que faz aqui.
Conforme revelou o jornalista Arnaldo Ribeiro em seu blog, lamentavelmente, esse expediente é (ou pelo menos era) incentivado pelo pai do atleta que entendia os saltos como uma forma de proteção e ao mesmo tempo de exploração da fragilidade da arbitragem local. Hoje, é possível dizer que o atacante melhorou muito nesse quesito, procurando ficar mais em pé, mesmo assim está longe do ideal.
Se Neymar quer brilhar na Europa e pela Seleção, será mais do que necessário rever essa estratégia. Nesta semana mesmo, vimos outro brasileiro, o lateral Marcelo do Real Madrid, sendo expulso da partida em que seu time visitava o Dínamo Zagreb por simular um pênalti. Já pendurado por um cartão amarelo, Marcelo viu o árbitro sacar o segundo cartão após seu mergulho na área croata.
No entanto, o maior problema nem está na possibilidade de expulsões ou suspensões, mas numa possível incapacidade do jogador entender como o jogo funciona no Velho Continente. Caso seu comportamento não mude, o prodígio pode não constatar que lá o futebol se joga em pé. Se não perceber isso, periga passar mais tempo na horizontal suplicando por marcações que nunca virão do que buscando as redes adversárias. Neste momento, estará muito mais próximo de ser um Denílson ou um Robinho do que de Ronaldinho e Kaká. Uma pena, pois talento não lhe falta.                
Imagem: Gazeta Press

4 comentários:

Anônimo disse...

Texto muito bom. Porém, eu acredito que os problemas de Neymar em ir para a Europa vão além apenas de sua fama - ou prática - de cai-cai.
Acho que a super-valorização do mesmo pode ser um grande empecilho sobre ele. A dificuldade de adaptação a um esquema que não joga em função dele, também.
Grande abraço.

Michel Costa disse...

Tem razão, Léo. Quis dizer que a prática do cai-cai é o principal obstáculo que Neymar deverá transpor. Os outros aspectos são normais dentro da adaptação de qualquer jogador a um futebol diferente.

Abraço e obrigado pelo comentário.

Prisma disse...

É só ele (Neymar) ver como a "pulga" MEssi tromba, tromba e conclui as jogadas.

Michel Costa disse...

Bem lembrado, Prisma. E, além de Messi, há um exemplo mais próximo: Lucas, do São Paulo, que faz tudo para permanecer de pé mesmo sendo tão leve quanto o santista.

Abraço.