domingo, 12 de agosto de 2012

Prata queimada

Numa análise fria e, não por isso, distante, seria possível dizer que a medalha de prata conquistada pela Seleção Brasileira nos Jogos de Londres foi um bom resultado. O México, adversário na decisão, tinha uma equipe muito mais entrosada e vinha treinando há muito mais tempo, enquanto o Brasil se resumiu a cinco amistosos e a presença de jogadores sub-23 durante as convocações da seleção principal. Neste cenário, a prata está de bom tamanho, certo? Errado. Justamente pelo fato das Olimpíadas nunca terem sido uma prioridade é que devíamos esperar não a conquista do ouro, mas indícios da montagem de um time. E isso não foi visto.
Como este blogueiro vinha alertando, a Seleção vencia sem nunca convencer, apresentou problemas defensivos crônicos e dependia exclusivamente de jogadas individuais para chegar ao gol adversário. Nada parecia treinado, não havia sincronia nos movimentos ofensivos. A impressão é que tudo se dava pelo acaso. Os jogadores possuem uma parcela de culpa, lógico, mas diante das questões levantadas só existe um responsável direto: Mano Menezes. Defesa desarrumada, má distribuição dos jogadores em campo e falta de jogadas são pontos falhos no trabalho do treinador. Impossível fugir disso.
Em dois anos à frente da Seleção, Mano fez muito pouco. Ao contrário de seu discurso meticulosamente treinado, suas decisões sempre pareceram desconexas. Vejamos: Quando assumiu, pregou a renovação, o retorno do futebol de imposição e disse que a referência era o Brasil de 1982. Na prática, ao primeiro sinal de dúvidas, mudou para um estilo mais cauteloso que nada tinha a ver com o protagonismo sugerido. Só na meta, as constantes mudanças já mostram a falta de rumo. Primeiro, testou Victor. Depois, voltou com Júlio César. Depois era Jefferson. Em seguida, Diego Alves. Quem é o titular da Seleção? Eu não sei.
Outra característica peculiar do trabalho do técnico é a maneira como “queima” atletas que falham em determinados momentos. Foi assim com André Santos, Hernanes, Ramires e Alexandre Pato. O próprio Marcelo esteve fora por um bom tempo sem um motivo explícito. Quando perguntado sobre o assunto, Mano sempre tergiversa dizendo que as coisas não funcionam de maneira impulsiva. Não é o que parece.
Se o objetivo sempre foi o hexacampeonato, é possível dizer que a Seleção não está no caminho certo. Até o momento, o Brasil não tem nem o esboço de um time para a caminhada até o Mundial. Existe uma ideia, mas não existe o provável onze inicial e nem um esquema tático definido. Muito pouco para dois anos de trabalho, ainda mais quando pensamos na proximidade da Copa do Mundo. Segundo o presidente da CBF, José Maria Marin, Mano está mantido no cargo e o saldo dos Jogos foi positivo. Infelizmente, não é a minha impressão.
Imagem: UOL

4 comentários:

Douglas Muniz disse...

Ola Michel, o fogão já estava aceso desde a derrota para os mexicanos nos amistosos, a batata foi pro fogo na derrota contra a Argentina, jogou-se água para relativizar o calor após as vitórias nas partidas anteriores (e sempre jogando mal) e a batata começou a dourar á partir da derrota de ontém... Quem irá devora-la??? rsrs. Mas falando sério, se a inspiração era 1982, por que se mudou muito da estrutura depois dos primeiros resultados ruins, não era mais fácil ter mesclado um pouco de alguns dos nomes que trabalharam com o Dunga com os jovens... Era tão mais fácil...

Abraços!!!

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Engraçado que muitos jornalistas disseram por antecipação que o Brasil iria ganhar o ouro, talvez até por desconhecimento dos adversários. Tudo bem, o time do Brasil tinha mais nome e obrigação de vencer, mas a camisa apenas não vence. O time brasileiro não convenceu em hora nenhuma, sempre com goleiros fracos e um problema crônico no lado esquerdo da defesa; faltou uma alternativa ao jogo do Oscar com o Neymar, muito pela apatia de Ganso e Pato (jovens, ricos e entediados), e muito pelo fato do Lucas ter sido pouco usado; não que mudasse todo o panorama sozinho, mas seria uma alternativa. O jogo em que o Hulk precisava ser titular não foi, depois que entrou o time até que melhorou, mas depois dos 15 do segundo tempo, com a alteração do técnico mexicano, foi uma moleza para eles, só no fim teve aquele sufoco, mais no desespero. Creio que Daniel Alves, Ramires, Hernanes e mais alguns devem voltar para a Seleção, mas realmente o panorama não é muito melhor que isso. Sobre treinador, acho que, se for para trocar com alguém daqui, o Felipão é o que teria mais crédito para dar uma mudança; não que ele seja um gênio tático, mas como a pressão para a Copa realizada aqui será grande e não há tempo para grandes invenções, talvez ele seja o nome mais indicado mesmo. Se quisesse evitar a pressão que vai receber agora, o Mano poderia ter deixado o Ney Franco ter sido técnico em Londres.

Michel Costa disse...

Esse é exatamente o ponto, Douglas. A reestruturação necessária passava pela manutenção da base desenvolvida por Dunga acrescentando os jogadores mais jovens e a filosofia desejada. No entanto, Mano optou pelo caminho mais difícil que era o rompimento quase total com o ciclo anterior. Logicamente, as chances de não dar certo se tornaram maiores.

Abraço.

Michel Costa disse...

Acho que o otimismo exagerado tinha a ver com dois fatores, Alexandre. O primeiro, é o desconhecimento dos adversários como você citou. O segundo, era a evidente qualidade técnica dos jogadores brasileiros quando comparada com a concorrência. Individualmente, o Brasil era bem melhor do que o México. Coletivamente, porém, havia um abismo. Sei que Mano não teve tanto tempo, mas a impressão que ficou é que o time não saiu do lugar.