terça-feira, 14 de agosto de 2012

Lições mal assimiladas

Impressiona a necessidade que temos de tentar tirar lições de cada derrota no futebol. Lembra muito os antigos seriados americanos onde uma importante lição sobre a vida era aprendida ao final de cada episódio em que algum adolescente escapava de uma enrascada. O problema é que, em sua maioria, nossas conclusões estão contaminadas pela maneira passional como esse esporte é tratado no Brasil. No caso da derrota para o México, não tenho a menor dúvida de que o foco teria sido completamente outro se fosse uma vitória mesmo apresentando mau futebol. Obviamente, uma análise séria não pode funcionar assim.
Recordo-me das reações histéricas após a derrota do Santos para o Barcelona no ano passado. Parecia que o futebol brasileiro havia chegado ao fundo do poço quando, na verdade, as chances de uma equipe como o alvinegro vencer um dos esquadrões mais poderosos de todos os tempos sempre foram mínimas. Não deveria ser necessário assistir ao massacre de Yokohama para constatar que conceitos como times espaçados, volantes e meias unidimensionais estavam ultrapassados. Isso já deveria ter sido detectado e corrigido por nossos treinadores há um bom tempo. Se não o foi, o problema então é outro.
O equívoco da vez está na avaliação da atual geração do futebol brasileiro. Os Jogos de Londres deixaram evidente que, ao contrário do que muitos dizem, o Brasil continua revelando mais jogadores do que os outros países. Nem México, o campeão, nem a Espanha, o fiasco, muito menos Alemanha e Argentina, os ausentes, têm tantos jovens talentos. Se não houve tempo de transformar esses garotos num time, pelo menos era necessário que se desenvolvesse um sentido coletivo ao grupo. Não foi o que se viu em gramados ingleses, assim como não se viu desde que Mano Menezes assumiu a Seleção.
Imagine um escrete formado por Júlio César; Daniel Alves, Thiago Silva, David Luiz e Marcelo; Lucas, Ramires e Oscar; Hulk, Leandro Damião e Neymar. Sinceramente, em termos técnicos, não vejo esse time abaixo dos campeões de 1994 e 2002. Olhando de perto, vamos encontrar jogadores melhores ou piores, mas o todo é mais ou menos parecido. A diferença crucial está no fato de que o time citado acima não existe! Nunca atuou junto. Nem se trocarmos o emergente Oscar pelo apagado Paulo Henrique Ganso. E isso é preocupante.  
Do amistoso de amanhã diante da Suécia até a Copa de 2014 o Brasil terá menos de dois anos de preparação. O que é pouco, sobretudo, quando se constata que não existe nem mesmo um esboço do que seria a equipe principal. Se existe uma lição, ou melhor, algo perceptível, é que o trabalho de Mano Menezes até este momento é ruim. Ao mantê-lo, o presidente José Maria Marin faz uma aposta até maior do que recorrer a um técnico como Luiz Felipe Scolari na última hora. Esta sim, uma lição que já deveríamos ter aprendido.
Imagem: Mowa Press     

10 comentários:

João Paulo disse...

Futebol não tem formula para se ganhar... 2001 Felipão, assumiu o time e mesmo de 2 anos foi campeão. Eu acho que valeria fazer igual o basquete e trazer um técnico de fora para da um sacudida, mas a soberba brasileira impede.

Douglas Muniz disse...

E ai Michel, beleza?
Uma aposta num técnico de 1° Escalão (Felipão ou Muricy) entendo que seria um erro e tanto, se é para modificar a filosofia de jogo nossa, aproveitar melhor os nossos talentos, seria mais interessante romper com a "mesmíce" e trazer alguém de fora pra oxigenar o nosso futebol, com idéias mais modernas e capaz de criar e estabelecer uma raiz importante para a evolução tática e técnica do futebol brasileiro se consolidar. Por exemplo: trazer o Guardiola agora seria impactante, mas certamente tirava muito da responsabilidade da CBF nos erros de 2010 (para não dizer de 1989) pra cá. Se a idéia é mudar algo, mudar mesmo, uma boa oportunidade seria trazer um técnico estrageiro, as pessoas entenderem (isso será impossível...) que: o futebol brasileiro não vai nada bem, que há uma entressafra, um período de "áridez técnica", em comparação a outras gerações dos últimos 30 anos e que a chance de vencer em 2014 é baixa, que o que deve valer seria um legado, uma construção da equipe e que ela poderia trazer uma concepção de jogo que o futebol moderno exige, criando assim uma filosofia, agrega-la ao que o futebol brasileiro possui de produtivo e daí poder conquistar grandes coisas e talvez retomar a hegemonia, e uma boa idéia seria trazer um técnico estrangeiro: Guardiola, Bielsa, Martino, Sampaoli, Gareca, dentre outros nomes de muito bom nível espalhado pelo continente e além dele. Mas haveria um impacto muito grande para um tempo muito curto... O que te parece Michel.

Abraços!!!

Michel Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michel Costa disse...

João Paulo e Douglas,

Concordo que seria interessante ter um técnico estrangeiro na Seleção. Guardiola, por exemplo, seria um nome interessantíssimo. Mas no começo do ciclo, não agora. Neste momento, o Brasil precisa de um nome que já saiba onde está pisando e tenha casca suficiente para aguentar a pressão. Por esse ângulo, só vejo um nome: Felipão.

Abraços.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Acho que o Brasil continua revelando jogadores, mas não tem revelado jogadores protagonistas no cenário internacional; isso pesa na análise das pessoas que são mais apressadas ou não acompanham tanto o futebol no dia a dia. Além disso, jogo de Seleção Brasileira parece que virou um território de críticas, principalmente na internet, mesmo quando o Brasil não joga tão mal. Muitos estão mais preocupados em cornetar o que o Galvão fala do que em ver o jogo. Acho, porém, que muitos desses amistosos quando foram fracos, minaram o carinho e a atenção que se tinha pelos jogos do Brasil, que foram banalizados.
Sobre o time, com certeza, montando uma base, o Brasil tem uma boa seleção, mas o desempenho dentro de campo ainda não aconteceu. Precisamos ver se, dá tempo para a Copa e se será com o Mano, e concordo que, para o momento, o Felipão seria uma opção mais segura.

Michel Costa disse...

Realmente, Alexandre. Se existe a uma entressafra ela é de protagonistas ofensivos no futebol mundial. Sim, ofensivos, pois é possível dizer que Daniel Alves, Thiago Silva e Marcelo são defensores top no cenário internancional. Como é um dos melhores jovens do planeta, Neymar tem tudo para figurar entre os gigantes, até porque, a tendência natural é que jogadores como Messi e Cristiano Ronaldo caiam de produção nos próximos anos.
Quanto a visão da Seleção por parte dos brasileiros estou começando a achar que é uma coisa atávica. A paixão pela Seleção só aflora quando as pessoas veem que ela está vencendo e, preferencialmente, jogando bem. Estou lendo "Sarriá 82" e é impressionante como anos antes do Brasil encantar o mundo, o time era visto com desconfiança e até vaiado. Outra mítica versão que saiu criticada do país foi a Seleção de 70. Pelo visto, as pessoas abraçam a Seleção quando tudo parece bem. Caso contrário, o que não faltam são dedos apontando defeitos. Até para os que não existem.

Douglas Muniz disse...

André, confesso que sou um sujeito curioso, e verificando a TL do seu twitter, verifiquei que você lembrou de um Flamengo 5X2 Palmeiras, valido pelo 2° turno do Brasileirão 2008, me recordo demais daquela partida, foi um dos dias que mais passei nervoso vendo jogo do Palmeiras. O Caio utilizou uma coragem pouquíssimas vezes vista quando ele treinou o Palmeiras, botando o time pra afogar o Palmeiras, que só tinha o Pierre pra marcar, um Roque Junior sem força pra correr e o Ibson acabando com o jogo, me lembro de um conhecido companheiro de trabalho e flamenguista que me disse: "...O Dunga TEM QUE LEVAR O IBSON!!!" confesso que ri demais do devaneio dele... Imagino o que ele deve estar dizendo quase três anos depois...

Abraços!!!rsrsrs

Michel Costa disse...

Eu realmente estava no Maracanã nesse dia, Douglas. Mais precisamente, era 16 de novembro de 2008. Me lembro bem porque no dia anterior estive na Gávea justamente no aniversário do clube. Foi um grande jogo e, com a vitória, o Flamengo manteve chances matemáticas de título. No fim, nem Libertadores pegou... hehe.

Abraço.

Douglas Muniz disse...

E o mais incrível é que o Flamengo na ultima rodada estava a um ponto de chegar na Libertadores, o Palmeiras estava a frente, mas faria a ultima partida em casa frente ao Atlético-MG, o Palmeiras perdeu de maneira bisonha para o Galo e muita gente temeu pela vaga na Libertadores exatamente como foi em 2007, perdendo para o mesmo Atlético. Mas em Curitiba, na Arena da Baixada, o Furacão venceu o Flamengo e o Caio Junior saiu do clube naquele dia... Que coisa...

Michel Costa disse...

Bem lembrado. Acontece que o Flamengo de Caio Júnior era irregular demais. Era capaz de vitórias brilhantes (como essa em cima do Palmeiras) e de derrotas terríveis. Mas, no geral, acho que aquele time não merecia mesmo ir para a Libertadores.