quinta-feira, 5 de abril de 2012

Jogador derruba técnico. Mas o técnico se derruba?

Para a história, as quartas-de-final da UEFA Champions League 2011/12 ficarão marcadas pelos erros de arbitragem envolvendo os confrontos entre Barcelona x Milan e Chelsea x Benfica. O que é lamentável, uma vez que esta edição também marcou o reencontro do Rossonero com seu nível internacional e a retomada por parte de Roberto Di Matteo do rumo perdido pelos Blues durante o período em que foram dirigidos por André Villas-Boas.
No caso do clube londrino, a sensível melhora tanto no futebol exibido quanto no ambiente levantam a velha questão sobre a relação jogador/técnico e se os atletas realmente derrubam os treinadores sem se preocuparem com o destino do clube que paga seus salários. Luiz Felipe Scolari, ex-técnico do Chelsea, nunca foi enfático, mas já deu a entender diversas vezes que sua demissão após curta passagem em 2008 está diretamente ligada ao comportamento dos senadores do elenco.
Quando pensamos no futebol brasileiro também não faltam exemplos e até declarações de boleiros dizendo que já trabalham contra o professor da vez. Neto, ex-jogador-problema e hoje apresentador, declarou que já derrubou técnico e até, de certo modo, vangloriou-se disso. O atual comandante do São Paulo, Emerson Leão, também disse que essa é uma prática comum no País.
No entanto, quando o assunto é o Chelsea, tenho minhas dúvidas se tal prática foi mesmo aplicada por Terry & Cia contra o jovem técnico português. Há uma semana, o ex-lateral Juliano Belletti com passagem recente pelo clube, comentou no programa Bate-Bola da ESPN Brasil que ao conversar com antigos companheiros ouviu que o problema Villas-Boas era a insistência num tipo de jogo não condizente com as características do elenco. Foi o que lhe disse Didier Drogba ainda acrescentando que a busca por um estilo mais plástico minou o que o time tinha de melhor, ou seja, a verticalidade e a praticidade.
É bem provável que a primeira reação quando se ouve essa explicação é dizer que os jogadores são empregados e que a obrigação deles é seguir as ordens de seu técnico. E isso é verdade. Porém, também é importante que os atletas entendam, assimilem e “comprem” a ideia de que o profissional que os comanda está fazendo a coisa certa. Caso contrário, mesmo que eles cumpram o que é imposto, não conseguirão produzir tudo o que se espera.
Isso é algo que não acontece apenas no futebol. Se um chefe de departamento não age corretamente com seus comandados, se ele cria ou alimenta um ambiente ruim, é bem provável que o resultado final não será o melhor possível. A relação entre o líder e seu grupo sempre será uma via de mão dupla. Se não houver confiança mútua, é provável que as ações não atinjam a meta proposta.    
Voltando ao Chelsea, não se trata de aliviar a barra de jogadores cheios de vontades, mas também de perceber os erros dos treinadores. Em sua passagem por Stamford Bridge, Felipão, que dependia de um tradutor por não falar inglês fluente, ainda enfrentou problemas por tentar impor algumas coisas que não faziam parte da cultura do futebol britânico. Não deu certo e ele pagou com seu cargo. Aparentemente, aconteceu o mesmo com André Villas-Boas. Colocar a culpa de tudo nas costas dos jogadores é simplificar bastante as coisas.  
Imagem: EFE

5 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo que deva haver uma junção de interesses e combinação de fatores para que um elenco dê certo; o técnico não pode ter apenas conhecimento, deve saber passá-lo e os jogadores também devem confiar nele para o time ter sucesso; só acho que, os jogadores não podem jogar apenas por alguém que gostem e sim por serem, como muitos gostam de dizer quando trocam de time, profissionais; mesmo não indo com a cara do treinador, devem tentar auxilá-lo e não apenas querer a caveira dele. Entendo que o AVB errou em tentar implantar uma filosofia com a qual o Chelsea não estava 100% acostumado, mas os senadores do elenco não fizeram questão em ajudá-lo tanto qto poderiam. Além disso no clube londrino o Abramovich parece ter uma relação meio paternalista com alguns jogadores, como o Belletti mesmo disse no BB2; qdo ele gosta de algum jogador, mesmo não cabendo no time, ele faz questão de trazê-lo, estilo Sheva e Ballack. E entre os jogadores e o técnico, sem dúvida ele prefere os jogadores.

Michel Costa disse...

Entendo seu ponto de vista, Alexandre. Mas a questão é que muitas vezes os jogadores não têm nada contra o técnico, são profissionais no cumprimento de suas funções e, mesmo assim, a coisa não anda. Isso está além da simples vontade do atleta de que as coisas deem certo. Ele precisa acreditar que a ordem que recebeu é a mais correta e, ao mesmo tempo, constatar em campo que aquilo dá certo na prática. Neste aspecto, Mourinho é campeão, pois tem a confiança dos jogadores, treina da maneira que precisa treinar e vê os resultados em campo. Bem, não contra o Barcelona, mas essa é outra história... hehe.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Com certeza muitas vezes a responsabilidade maior é do treinador, que realmente pode ter limitações, não só táticas, mas também motivacionais. Só acho que, no caso do Chelsea, existe precedente de pouco empenho dentro de campo.

Gustavo Carratte disse...

Nessa, estou mais com o Alexandre. Mas absorvi bem a mensagem que o Michel tentou passar. Não tentando resumir a ideia, mas acredito que, basicamente, ela seja isso: antes de implantar a sua filosofia e expor suas estratégias e teorias, é preciso entender as peças que se tem em mãos e, pesando prós e contras, definir o que vale mais a pena entre fazer os seus comandados se adaptarem a você e comprarem a sua ideia ou, então, adequar-se a eles. Essa segunda alternativa, talvez, o que tenha faltado a André Villas-Boas na sua passagem pelo Chelsea. Compreendendo que o time londrino prefere atuar de maneira mais objetiva e eficiente, AVB poderia ter aprendido algo mais com os seus jogadores e colhido melhores resultados. Os "senadores" dos Blues podem ou não ter feito corpo mole. Porém, fato mesmo só a escolha errada feita por AVB quando traçou o seu caminho no Chelsea. Buscou o espetacular, o espetáculo e o futebol ideal. Com um time experiente e não muito disposto a alcançar o impossível, fazer o simples mostrou-se ser o mais recomendável (se foi isso, diga-se de passagem, motivo para que AVB seja admirado, e não o contrário).

Michel Costa disse...

Alexandre e Gustavo,
Até mesmo essa questão de pouco empenho dos jogadores do Chelsea é discutível. Sinceramente, só lembro de um episódio em que o cara parecia estar de sacanagem: Certa vez, Drogba, entrando no 2º tempo, errou tudo o que tentou. Parecia de propósito. Foi muito estranho mesmo.
Fora isso, me lembro bem que Felipão foi vítima de sua teimosia de não escalar Drogba e Anelka juntos - algo que Hiddink mostrou que era totalmente possível - e sua falta de comunicação com os atletas. Mas, por aqui, comprou-se a ideia de sabotagem como se fosse verdade absoluta. Tenho minhas dúvidas.