segunda-feira, 23 de abril de 2012

Taticamente Falando.

Espaço destinado a comentar um assunto que é interessantíssimo para alguns, mas tido por muitos como aborrecedor ou difícil de ser assimilado. Todavia, sem o mínimo conhecimento desse aspecto, o futebol não pode ser compreendido em sua totalidade.
Líbero, a função extinta.
No Brasil, convencionou-se chamar o zagueiro de sobra do sistema 3-5-2 de líbero. É com essa nomenclatura que técnicos, jornalistas e também torcedores definem o defensor central da linha três. No entanto, embora o raciocínio de se referir a um zagueiro que atua na sobra de outros dois incumbidos do combate direto aos atacantes como líbero não esteja de todo equivocado, é importante corrigir o erro histórico contido nessa informação.
Antes de mais nada, como o próprio nome diz, líbero é um jogador que atua livre em campo. Obviamente, isso não significa atuar sem obrigações, mas ter a liberdade para se deslocar por outros setores do gramado de acordo com a posição da bola e a necessidade da jogada. Os últimos líberos de verdadeiro impacto mundial foram Franco Baresi e Lotthar Matthäus. O primeiro, considerado um dos maiores defensores da história, fazia uso de seu posicionamento e capacidade de antecipação para dar início aos contragolpes do Milan. O vídeo abaixo traz uma boa noção de como o italiano jogava.
Por sua vez, Matthäus surgiu como um meio-campista completo, mas, com o passar do tempo, o peso da idade o fez recuar e assumir o papel de líbero tanto no Bayern quanto na seleção alemã. Nessa fase de sua carreira, era capaz de atuar como líbero tanto atrás como à frente da defesa. Todavia, nenhum líbero alemão alcançou o sucesso de Franz Beckenbauer (figura 1). Inspirando-se nos avanços do lateral-esquerdo italiano Giacinto Facchetti, o Kaiser, considerou que se fizesse o mesmo a partir de uma posição central do gramado teria uma amplitude maior para armar e atacar.       
Outra figura lendária da posição foi Gaetano Scirea. Tido por muitos como o mais completo jogador a exercer essa função, Scirea (figura 2) era, ao mesmo tempo, zagueiro, armador e, por vezes, aparecia no ataque da Juventus. Defendendo a Azzurra, Scirea fez parte do time tricampeão mundial em 1982. Em terras espanholas, formou com Gentile, Oriali, Collovati e Cabrini uma das defesas mais sólidas da história das Copas. E ainda sobrava tempo para o saudoso líbero apoiar o ataque, como na jogada que originou o segundo gol na vitória por 3x1 contra a Alemanha na final.   
Na memória dos brasileiros, nossa Seleção também teve a presença de um líbero em duas ocasiões. Entretanto, em 1990, Mauro Galvão atuou basicamente como um zagueiro no 3-5-2 de Lazaroni. Doze anos depois, o versátil Edmílson (figura 3) foi quem mais se aproximou da função ao deixar o alinhamento com Lúcio e Roque Júnior para fazer companhia aos volantes Gilberto Silva e Kléberson. Tal medida se dava quando o adversário tinha apenas um atacante mais adiantado, o que, segundo o técnico Luiz Felipe Scolari, preteria a necessidade de um trio de zagueiros.
Apesar da influência de dois mundiais, não é possível dizer que a cultura do líbero se consolidou no Brasil. No restante do planeta bola, a função ainda foi desempenhada com brilho por nomes como Matthias Sammer, mas logo perdeu espaço em sistemas mais rígidos. Atualmente, poucos atletas reúnem qualidades suficientes para exercer esse papel, embora seja possível dizer que os barcelonistas Piqué e Busquets poderiam ser testados se o técnico Josep Guardiola assim o desejasse.

16 comentários:

Thiago Ribeiro disse...

você esqueceu que atualmente há o caso do Vermaelen do Arsenal.

muitas vezes ele vai pro ataque mesmo.

e não é puxando contra-ataques, não, normalmente quem faz isso é Koscielny.

o "Verminator", sobre pra atacar e muitas vezes deixa buracos gigantescos na defesa. Wenger aceita isso porque a quantidade de gols que ele faz no ataque compensa, e em muito, os gols levados em contra-ataques

Danilo disse...

Daniel parabéns pelo post , uns dos poucos que trazem teoria tática no Brasil com qualidade e com linguagem didática.

Michel Costa disse...

Não esqueci de Vermaelen, Thiago. E embora também veja no zagueiro qualidades para desempenhar esse papel, não creio que ele seja líbero do Arsenal. Ele apoia sim, mas como o ótimo Eduardo Cecconi escreveu nesse antigo post - http://tinyurl.com/libero2 - o belga sai para o jogo assim como Lúcio e Thiago Silva fazem (ou fizeram) em alguns momentos.
De qualquer forma, esse é um ótimo ponto para debatermos.

Abraço.

Michel Costa disse...

Valeu, Danilo. Essa é a ideia desta coluna: tratar o assunto de forma didática, sem me prender a determinado jogador ou partida.

Abraço.

Douglas Muniz da Silva disse...

Ótimo post Michel, o esquema com três zagueiros atualmente é defasado como algo defensivo, a utilização do que se aponta como líbero foi banalizada, o que ainda acontece hoje é utilizar um beque mais lento e de bom posicionamento para garantir a sobra e nada além disso, normalmente não garante nenhum acréscimo técnico a dinâmica ou mesmo na transição de bola defesa-ataque. Mas eu teria uma pergunta para lhe fazer: eu utilizo o this11.com, mas eu queria saber como posso utilizar esse recurso para colocar nos posts do meu blog?. Abraços!!!

Fabiano Dias disse...

Se não tivesse problemas neurológicos, o Valber que jogou no São Paulo do Telê Santana poderia se enquadrar nesse quesito. Mas a cabeça não deixou.

erik_oj disse...

depois do advento do barcelona mts times passaram a jogar com 3 atacantes e abriram mão dos 3 zagueiros, o que é uma pena é possível forma bons times ofensivos e com segurança na defesa jogando com um líbero.

Rasangui disse...

Perfeito mesmo.
No São Paulo de Paulo Autuori campeão Mundial de 2005, o líbero era Lugano.

No de Muricy o líbero era André Dias, hoje na Lazio.

É show demais falar sobre este assunto. Posição (praticamente) extinta, infelizmente.

Michel Costa disse...

Douglas,

Após montar o esquema desejado no This 11, clique em "Desenhar a 11...", botão que fica do lado direito, embaixo. Isso vai gerar uma imagem que você poderá salvar como uma imagem normal. Depois é só adicioná-la em seu blog como você faz com fotos.

Abraço.

Michel Costa disse...

Verdade, Fabiano.

Valber reunia condições técnicas para a função. Me lembro de um golaço que ele marcou pelo SPFC saindo de sua defesa e tabelando com seus companheiros.
Mas, como você mesmo escreveu, faltou cabeça para o talentoso jogador.

Abraço.

Michel Costa disse...

Realmente o Barça também ajudou a promover o uso de três atacantes, Erik. Mas, atualmente, vejo que o sistema que mais influencia os técnicos é o 4-2-3-1. Principalmente no Brasil, onde ele muitas vezes é confundido com o 4-3-3.

Abraço.

Michel Costa disse...

Salve, Rasangui!

No caso do SPFC, via Lugano e A.Dias muito mais como zagueiros de sobra do que líberos como descrito no texto. Afinal, ambos eram bons defensores, mas não tinham tanta intimidade assim com a bola no pé.

Abraço.

Douglas Muniz da Silva disse...

Obrigadaço Michel, eu utilizei o recurso do This11.com para fazer um post sobre o Racing, campeão do Apertura 2001, era um post que eu já havia feito, porém decidi melhorar colocando o time taticamente no campinho:http://lacopasemira.blogspot.com.br/2012/02/grandes-campeoes-racing-2001.html Acho que fiz um bom trabalho, pois a história desse titulo é emocionante... Abraço

Michel Costa disse...

Por nada, Douglas. Quebrei a cabeça pra achar esse recurso da primeira vez também... hehe.
Ah, excelente texto sobre o Racing, hein? Detalhado pra caramba. Parabéns.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Muito legal o post, deixando claro a diferença entre zagueiro de sobra e líbero. Como alguém disse, o Válber tinha condições de ser esse jogador no Brasil, mas infelizmente jogou menos do que poderia. Teve uma partida contra o Unión Española na Libertadores de 1994 em que ele faz um golaço vindo lá do campo de defesa: http://www.youtube.com/watch?v=1SnAQt74Ac4

Michel Costa disse...

Ah, foi esse o gol que eu comentei com o Fabiano, Alexandre. Golaço de Valber, mas eu não me lembrava do adversário nem da competição.

Valeu pela lembrança.