sábado, 14 de abril de 2012

E se Andrés estiver certo?

Calma, leitor. Este blogueiro ainda não ficou louco. É lógico que a declaração de Andrés Sanchez, diretor de Seleções da CBF, dizendo que o trabalho de base do Barcelona é uma balela passa longe de ser sensata. Além das evidências que vemos em campo, não faltam matérias mostrando que as categorias de base do clube catalão atuam seguindo a mesma linha filosófica da equipe principal.

Todavia, pelo menos em parte, o ex-presidente do Corinthians pode estar certo. Embora não tenha se refletido sempre no time principal, a base barcelonista segue uma linha mais ou menos parecida desde a década de 1970 e se reforçou conceitualmente ainda mais quando Johan Cruyff se tornou treinador. Durante as últimas décadas, o Barça enfrentou momentos bons e ruins, mas só se firmou como um time em que a diferença está na força dos canteranos com a atual geração.
Antes, apesar da aura “cruyffiana” sempre presente, o estilo de jogo sofria alterações por parte dos ex-treinadores como Bobby Robson e Louis van Gaal. Paralelo a isso, os destaques blaugranas invariavelmente eram estrangeiros formados noutras praças como Stoichkov, Laudrup, Koeman, Romário, Ronaldo, Rivaldo e os holandeses, Ronaldinho, Deco e Eto’o. Durante todo esse período, os atletas formados na base tiveram grande valor, porém, funcionavam como complemento para um time de estrelas.
Com a chegada de Josep Guardiola, essa história mudou. Montando uma equipe formada basicamente por jogadores oriundos de La Masia, sobretudo pela geração 87, e atuando fielmente segundo a cartilha escrita por Cruyff com alguns adendos de Guardiola, a atual versão do Barcelona é o ápice e a prova do sucesso das categorias de base. No entanto, é possível dizer que este time é o primeiro e o único em que o protagonismo não precisou ser importado. E aqui, não excluo Lionel Messi da lista de canteranos, uma vez que o argentino chegou ao clube muito jovem e cercado de dúvidas sobre sua evolução.
Por esse prisma, até que é possível dizer que Sanchez não estava tão errado. Não há evidências que o Barcelona seguirá se mantendo no topo tendo sua base como coluna vertebral. Isso só acontecerá se a próxima geração for tão (ou quase tão) boa quanto esta e, de preferência, continue sob o comando de Guardiola. Porém, infelizmente, a arrogância de nosso cartola transformou o que poderia ser um bom debate em mera demonstração de presunção.
Imagens: Eduardo Viana e site oficial do Barcelona.

12 comentários:

Rasangui disse...

É, não é por acaso que o Barcelona faz o suceso que faz.

O título foi show, muito hilário, sabia do que se tratava hahahaha!!

Show demais, Michel.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Boa visão Michel! Realmente não dá para dizer que as canteiras e mesmo a política do Barça é imune a erros, mas dizer que ela é uma "balela" é mais um factóide e mais uma bola fora do Sanchez.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Incrível também como parte da mídia sempre dá excessiva atenção ao que esse cidadão fala, mesmo não sendo algo tão relevante.

Michel Costa disse...

Hehehe... valeu, Rasangui. Eu precisava chamar a atenção, né?

Michel Costa disse...

Creio que o fato dele ser famoso explica tudo, Alexandre. Guardadas as devidas proporções, o mesmo ocorre com Pelé que sempre tem suas bobagens estampadas em todos os noticiários.
Mas, desta vez, perdemos uma ótima oportunidade de debater sobre o atual Barcelona. Afinal, antes dele, o protagonismo sempre pertenceu às estrelas estrangeiras. Os canteranos eram, no máximo, coadjuvantes de luxo. E hoje a escola Barça caminha quase sozinha. Mas será assim no futuro?

Thomas de Carvalho Silva disse...

Bem lembrado, Michel. Pelé e Maradona são dois bobos-da-corte facilmente manipulados pela mídia, que faz o papel de leva-e-trás apenas para fomentar a discussão entre ambos. Foram dois gênios, hoje são dois palhaços, e nada mais. E quer saber? Maradona não jogou mais nem do q o Di Stefano, q dizer de Pelé.

augusto disse...

Na minha opinião, o Sanchez está sim totalmente errado. O trabalho da base do Barcelona sempre foi focado no longo prazo, e por isso a evolução da qualidade dos jogadores revelados lá foi lenta, mas constante, até culminar nesse time excepcional.

Além do mais, é nítido que o Barcelona joga um futebol diferente do praticado em qualquer outro lugar do mundo. Isso também é um trabalho que só teve sucesso por ser implantado desde as categorias de base. Não dá pra chamar um trabalho desses de balela. Não dá nem pra ponderar o que o Sanchez disse.

Michel Costa disse...

Em tese você tem toda razão, Thomas. A imprensa faz, em escala mundial, o que fazem os famosos "leva e traz". No entanto, acho que esse é o papel da imprensa esportiva desde que não transforme isso num programa do Nelson Rubens.
Quanto ao duelo Maradona/Di Stefano, acho que o ídolo madridista fez muito mais em clubes e numa época onde a repercussão é menor do que hoje. Quem conhece a história do clube merengue sabe que ele é a figura mais emblemática de sua história. Essa briga é boa.

Abraço.

Michel Costa disse...

Que o trabalho de base do Barcelona não tem nada de balela todos nós concordamos, Augusto. No entanto, as pessoas nem aceitaram a hipótese de que Andrés poderia estar certo em alguns pontos. Na mesma matéria em que ele fala do Barça, o ex-presidente corintiano dá a entender que os blaugranas tem uma geração fortíssima e que isso pode não durar muitos anos. E isso é verdade. Não há garantias de que isso vá acontecer. Por outro lado, também não questiono o fato de que os catalães estão no caminho certo.
Outro detalhe que escapou da maioria, foi a participação do Andrés no Cartão Verde. Lá, ele fez questão de dizer que não falava sobre a tática do Barça - completando que não entende do assunto - mas sobre o jovem time que perdeu para o sub-17 do Corinthians que não era sombra da versão adulta.
Infelizmente, graças principalmente à falta de articulação do dirigente, ficará para a história apenas o desdém que ele manifestou.

Abraço e obrigado pela participação.

Danilo disse...

O time dessa geração é considerado uns dos melhores de todos os tempos, será difícil substituir. E outro por ter um ET. Os times da próxima geração também serão excelentes, não a nível do atual e superioridade ao resto do mundo. O tempo dirá si essa geração foi uma exceção...

Danilo disse...

Andrés foi criticado pelo argumento arrogante e ignorante. Ele entende de negócios e curintia, futebol 0. Seu argumento foi de que o Barça é balela e a base do barcelona é fraca perdendo para base do corinthians. Tendo cabeça de médio prazo, e não a longo prazo. Hoje a maioria dos jogadores do barça veio das inferiores conquistando vários títulos e com futebol que todos conhecem enquanto o time brasileiro tem um e olhe lá sofrendo para conseguir um título da libertadores...

Michel Costa disse...

É certo que a declaração de Andrés foi infeliz, Danilo.
Porém, aproveitei a bola que o dirigente levantou para observar que esta é a primeira vez que uma geração formada em La Masia consegue ser a protagonista num time que sempre teve seus maiores expoentes em estrelas estrangeiras. Nesta aspecto, não há nada que indique que isso deve se repetir com a próxima geração.
Vale lembrar também que Felipão seguiu uma linha parecida com essa quando participou do Bate-Bola da ESPN Brasil. No programa, o técnico do Palmeiras também exaltou a atual equipe do Barça, mas deixou claro que grupos como esse não se formam sempre.