segunda-feira, 8 de abril de 2013

Pontos e Vírgulas.

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.
Os outros craques
Mais uma vez, veio à tona o velho debate entre ex-jogadores comentaristas e jornalistas comentaristas. A polêmica surgiu após o acalorado debate entre Mário Sérgio e Rodrigo Bueno no canal fechado Fox Sports no último domingo. Rodrigo havia dito que os treinadores europeus eram melhores do que os brasileiros e que estes estariam ultrapassados. Exaltado, Mário Sérgio, ex-jogador e também ex-técnico, disse que Bueno não tinha capacidade para avaliar o trabalho dos treinadores locais porque nunca trabalhou no meio. Mais uma demonstração do velho preconceito que os profissionais do jornalismo sofrem por parte de quem atuou no futebol.
Existe um grande equívoco nessa consideração. Muito provavelmente, um jornalista não saberia ministrar um treino ou motivar uma equipe, porém, isso não significa que ele também não sabe avaliar o desempenho de um time, sugerir alterações ou constatar eventuais carências de um elenco. Tudo isso é possível através de estudo, persistência e capacidade de observação. Fosse o contrário, uma pessoa que não sabe nada de construção civil não poderia dizer se uma casa é bonita, ou alguém que nunca foi um chef de cozinha não saberia apreciar uma boa refeição. Logicamente, as competências são diferentes entre si, mas creio que o leitor saberá estabelecer a relação.
No meu caso, comecei a gostar de futebol vendo os lançamentos de Júnior, os gols de Romário e a técnica de Roberto Baggio. Foram esses craques que inicialmente me fizeram amar esse esporte, paixão que, imagino, me acompanhará até o fim dos meus dias. No entanto, gostar não era suficiente. Queria aprender mais sobre o tema. Entendi que só compreendendo seu funcionamento seria possível apreciá-lo em sua totalidade. Nesse caminho, encontrei outro tipo de craque. Alguém capaz de trazer à luz os fatos esquecidos do passado, informações de bastidores, projetar situações futuras e, mais importante, transmitir tudo isso para quem está do outro lado da TV, do computador, do rádio ou do jornal.
Craques como Paulo Vinícius Coelho, Mauro Beting e Tim Vickery. E todos os profissionais capazes de trazer para o apreciador do esporte algo que completa a simples afirmação de uma bela jogada ou por que determinado atleta tomou a decisão A ou B. Isso não é mais suficiente. As pessoas querem ter maior embasamento para opinar, debater e até mesmo cornetar. Vivemos na era da informação e precisamos de quem seja capaz de trazê-la e, em muitos casos, interpretá-la. Infelizmente, são raros os ex-jogadores capazes de realizar tal missão.
Crédito da imagem: Uol

4 comentários:

Fernando Clemente disse...

isso é verdade dificilmente vemos um ex-jogador que consegue isso sair do lugar comum,falar algo além do óbvio.

Um dos ex-jogadores que gosto é Tostão que é fora do comum.Mas a briga dos dois foi muito feia,Mario Sérgio se acha dono da razão e Rodrigo Bueno é muito fã do futebol europeu e sempre dá um jeito de menosprezar o futebol brasileiro tambem

Michel Costa disse...

Isso é verdade, Fernando. É importante que não se glamourize os técnicos europeus, pois sabemos que muitos deles são tão comuns como os daqui. Só para ficar num exemplo, cito Roberto Mancini que dispõe de um caminhão de dinheiro e mesmo assim conseguiu ver seu Manchester City ser eliminado bizonhamente na UCL. Mesmo assim, é evidente que, em linhas gerais, existe uma defasagem dos nossos em relação aos principais profissionais do Velho Continente.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

A contratação do Mário Sergio foi feita exatamente para isso acontecer, para o fraco programa da FOX ter alguma repercussão; eu pelo menos não tinha dúvida de que ele arrumaria encrenca com alguém ali. Só achava que a primeira briga em que ele se envolveria seria contra o RMP ou contra aquele horrível Paulo Lima, que fala umas batatadas “de vez em sempre”. Em que pese o Mário até ter falado algumas coisas corretas depois do jogo do SP na quinta passada, acho ele muito arrogante, ultrapassado e principalmente rancoroso como comentarista. O Rodrigo, por mais eurocêntrico que seja e forçar a barra no personagem "Bubu" às vezes, é um bom jornalista e essa coisa de que só ex-jogador pode opinar sobre futebol é uma bobagem sem tamanho.

Eu não vi o vídeo do debate, mas pelo que o Mario falou, até concordo que realmente muita gente que cobre futebol é despreparada e desinformada para fazer tal cobertura. Muito jornalista não sabe nada mesmo do que acontece, nem no futebol internacional nem mesmo em times menores daqui do Brasil mesmo; em termos táticos então, nem comento. O que eu acho somente é que essa arrogância de alguns ex-jogadores, que não gostam de ser criticados e acham que só eles tem o direito de falar sobre futebol, não me agrada é bem errada, até porque o nível da maioria dos ex-boleiros comentaristas é aquele que nós conhecemos. Tostão, como falou o Fernando, é uma ótima exceção.

Michel Costa disse...

Tem razão, Alexandre. Muitos jornalistas esportivos demonstram não ter a menor ideia de como as coisas funcionam em campo. Mesmo assim, Mário Sérgio poderia explicar então por que os times brasileiros, em geral, não atuam de forma compactada, por que nossos zagueiros atuam lá atrás e por que os times dão tanto chutão. No entanto, preferiu simplesmente atacar Rodrigo. Mais uma vez, uma chance de debate se perdeu.