sábado, 10 de novembro de 2012

Quando o presente encontra o futuro.

Independente do que as últimas rodadas do Brasileirão estiverem reservando, Santos e Cruzeiro terão um final de campeonato bem mais melancólico do que suas torcidas esperavam. Campeão continental na temporada passada e contando com o melhor jogador brasileiro em atividade, o Santos sofreu com a perda de nomes importantes como Ganso e Elano e a constante ausência de Neymar por conta das diversas convocações para a Seleção Brasileira. Por sua vez, apesar do início auspicioso, o time mineiro deverá se contentar apenas por ter sido pouco ameaçado pelo rebaixamento.  
Em comum entre as duas equipes, a presença de dois treinadores donos de estilos parecidos e uma maneira bem similar de enxergar futebol. Muricy Ramalho e Celso Roth possuem carreiras bem consolidadas no Brasil, títulos na bagagem – o primeiro bem mais do que o segundo – e a perspectiva de continuarem no mercado por mais alguns anos. No entanto, existem evidências de que ambos podem sofrer mais do que imaginam caso não percebem que o futebol mundial está mudando e que as soluções das duas últimas décadas podem não funcionar tão bem agora.
Após ver sua equipe ser massacrada pelo Barcelona no Mundial de Clubes, Muricy saiu com um discurso pouco conectado com a realidade na coletiva pós-jogo quando preferiu citar o sistema “3-7-0” dos catalães, onde não havia um atacante fixo na frente, para criticar os jornalistas brasileiros que consideram atuar com três zagueiros e sem centroavante um erro. A observação do treinador perde totalmente o sentido quando se constata que o time então comandado por Pep Guardiola não atuou dessa maneira para se fechar mais como fazem 99% de nossos técnicos, mas para atacar melhor e manter ainda mais a posse de bola.    
Em 2012, ao ver seu time passar por uma profunda reformulação e sem demonstrar segurança para lançar jovens valores, Muricy apoiou totalmente sua equipe nas costas de Neymar. Com o craque em campo, o Santos é perigoso e tem um aproveitamento de quem briga pelo título nacional. Sem poder contar com o astro por conta dos compromissos com a Seleção, o que se viu em campo foi um emaranhado de jogadores que na maioria das vezes não poderia ser descrito como um time. Era uma presa fácil para a maioria dos adversários. Como era de se imaginar, ao invés de proteger seu grupo e assumir seus erros, o técnico tetracampeão brasileiro preferiu criticar sua diretoria e tratar publicamente da necessidade de reforços.
Caminho semelhante trilhou Celso Roth. Corresponsável pela contratação de diversos volantes de qualidade duvidosa para o Cruzeiro, Roth declarou que seu time não atacava porque não sabia como fazê-lo. E, ao perceber que sua saída do clube mineiro é iminente, fez críticas indiretas ao grupo atual dizendo que gostaria de treinar o Cruzeiro de três anos atrás, numa versão no melhor estilo do clássico “eu ganho, nós empatamos, eles perdem”. Essa última característica é bastante perceptível nos discursos de Ramalho e Roth. Quando as coisas vão mal a culpa é sempre dos outros. Reconhecer que o estilo “quem marca bem, joga bem” está ultrapassado, nenhum deles fez. Talvez ainda falte mais algumas lições como a recebida em Yokohama. Ou talvez porque ainda existam dirigentes que não perceberam que o melhor da dupla ficou no passado e que as exigências do futebol do futuro serão diferentes.                 
Imagem: UOL e Globo Esporte

6 comentários:

Danilo disse...

Resultados, "nome" e histórico. Isso é o que interessa para os dirigentes. Sem relativizar o futebol praticado. Reflexo do Amadorismo. Como bem disse, o futebol está se modernizando, pelo menos na Série A. Influência principalmente do Corinthians do Tite e o futebol europeu cada vez mais olhado pelo Brasil. Categorias de base estão deixando de vez o esquema com 3 zagueiros,alas e volantes e atacantes brucutus. Tem mais jornalistas e torcedores qualificados, mesmo que impere os jornalistas "Patati e Patatá", "Sonia Abrão" e outros. Futebol não existe para eles, é outro esporte, o "Muricybol". E o que lhe resta, os resultados, cada vez mais está desaparecendo. Previsíveis, estão "ultrapassados". Teimosos, não conseguem enxergar isso "Velhinhos", o tempo de vocês está acabando...

João Paulo disse...

Celso Roth: Eu acho que o Ceso Roth, é vítima das boas campanhas de início de campeonato, com times fracos, e, normalmente cai durante o campeonato.

Muricy Ramalho: É um vencedor ao seu estilo: "Muricibol". Quando não funciona, não jeito.

Não gosto do estilo dos dois, mas temos que, reconhecer os currículos dos dois. Principalmente do Muricy Ramalho.

Michel Costa disse...

Concordo, Danilo. Existe um processo em andamento e quem não conseguir enxergá-lo pode ficar para trás. Mesmo assim, ainda acredito que esse estilo sobreviverá por um bom tempo, embora acredite que os próprios resultados se encarregarão de mostrar os equívocos. A questão é saber se os técnicos em questão serão capazes de se adaptar a essa nova realidade.

Michel Costa disse...

Não podemos esquecer que Roth já treinou times mais fortes, João Paulo. O Inter que ele comandou em 2010 era um ótimo time, mas esbarrou em seus próprios problemas quando caiu para o Mazembe. Particularmente, acho que o título da Libertadores foi circunstancial para ele, pois pegou o Colorado já bem estabelecido nas fases finais do torneio.
Quanto a Muricy, seu currículo fala por ele. O técnico se mostrou competente em vários clubes, mas penso que existem evidencias de que seu estilo está sendo superado por um futebol mais moderno. E, para mim, essa defasagem ficará mais evidente nos próximos anos.

Gustavo Carratte disse...

Sou um cara que gosta de ideologias de jogo, que fazem o futebol subir de nível, de técnicos preocupados com o bom futebol, e não só afins de manter os seus respectivos empregos ao término de cada rodada. Muricy Ramalho e Celso Roth, definitivamente, não são bons exemplos para isso.

E temos poucos assim, o que é ainda mais triste do que notar o quanto os dois treinadores citados por você são elogiados por aquilo que fazem. Colocam nas costas de Muricy o mérito pelas conquistas nacionais, todas elas com o melhor elenco do Brasil. E definem Roth como um técnico de bom custo-benefício. Fico me perguntando como essas pessoas conseguem não se interessar pela trajetória só pelo fato de o final ter sido aceitável.

Não há beleza na construção de um prédio. Façamos o melhor prédio possível e pelo preço mais baixo possível, portanto. Mas querer permear essa mesma lógica no futebol é algo que jamais vai entrar na minha cabeça...

Michel Costa disse...

Pois é, Gustavo. Além disso, creio que há uma ligeira confusão no Brasil quando se fala em jogar bonito. Na verdade, o mais importante é fazer o time jogar bem coletivamente. Saber trabalhar a bola, sair tocando sem "quebrar", escalar o máximo de jogadores que saibam jogar, apostar na técnica e outras coisas que um dia fizeram parte de nosso repertório.