quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O melhor do futebol brasileiro está na Ucrânia.

Atual campeão europeu, o Chelsea encontrou no Shakhtar Donetsk um adversário a altura. Ou superior, alguém pode concluir. Nos dois últimos duelos pela 3ª e 4ª rodadas da UEFA Champions League, a equipe ucraniana foi melhor na maior parte do tempo, venceu em seus domínios e só não foi repetiu a dose em Londres porque esbarrou na insegurança do goleiro Pyatov.
Para quem conhecia pouco o time comandado por Mircea Lucescu foi uma ótima chance para vê-lo em ação. Movimentação constante, dribles, fintas, rápidas trocas de passes, criatividade. Não por acaso, a linha de frente do Shakhtar é composta por quatro brasileiros (incluindo o volante/meia Fernandinho), além do armênio Mkhitarian. Um estilo de jogo que se assemelha muito ao que é praticado no Brasil. Ou melhor, que poderia (ou deveria) ser praticado no País, mas não é.
Quando observamos as melhores equipes brasileiras em campo, são raros os momentos em que se nota a presença de um futebol que envolva o adversário. O Corinthians, possivelmente o melhor do Brasil, tem sua maior força na marcação pressão que exerce sobre os adversários. Com a bola nos pés – exceto nos de Paulinho – é um time comum. O Fluminense, virtual campeão nacional de 2012, usa e abusa de sua defesa bem montada e aposta em lances isolados dos talentosos Deco, Wellington Nem e Fred. O Atlético Mineiro, que chegou a mostrar bom futebol com Ronaldinho e Bernard, deixou suas boas ideias de lado e está apostando em incessantes chuveirinhos. Quanto ao Santos, que tanto encantou há dois anos, hoje se resume a entregar a bola para Neymar e seja o que Deus quiser.
Todavia, mesmo com esse raciocínio, se a primeira conclusão aponta para uma crise de talentos, ela esbarra em alguns fatos, sendo que o primeiro deles está no próprio futebol apresentado por nossos atletas no exterior. O que podemos chamar de DNA brasileiro continua presente como pode ser visto no campeão ucraniano. Para este blogueiro, a maior razão para a prática de um futebol tão anacrônico e descaracterizado como o que vem sendo praticado em nosso território está na filosofia de trabalho de nossos desatualizados treinadores. Profissionais quase sempre ocupados tentando manter seus empregos, sem tempo para pensar de maneira mais arejada, sem enxergar as necessidades inerentes ao futebol moderno, ainda que com os olhos voltados para as nossas próprias raízes. Mircea Lucescu se diz um fã do futebol brasileiro. O mesmo não pode ser dito da maioria de nossos técnicos.    
Imagem: AFP

9 comentários:

Yuri disse...

Devo dizer que também me espantei com esse Shakhtar. Não tinha visto ainda na UCL e não é de se surpreender que abriu mais de 15 pontos no Ucraniano. TIMAÇO, joga muito bem, velocidade, passes rápidos, inversões de jogo, laterais que atacam bem sem largar a defesa... acabou o jogo e ficou aquela sensação de que a derrota não significou nada, pois o time foi realmente SUPERIOR ao Chelsea. O verdadeiro grupo da morte é este. Pior para a Juventus.

João Caniço disse...

Michel, não assisti aos encontros frente ao Chelsea, mas vi o desafio da 2ª rodada defronte da Juventus e subscrevo a tua leitura. A equipa ucraniana dominou claramente o desafio em Turim, teve mais e melhor qualidade de posse de bola, obrigando a equipa da casa a colocar-se na expectativa e a responder acima de tudo em transições rápidas. O empate a uma bola acaba mesmo por ser lisonjeiro para a Juventus. Individualmente destaco o Fernandinho que é um centrocampista com uma capacidade de organização tremenda e o Willian que é um enorme talento. Já vão à selecção brasileira ou nem por isso? Se não vão do que está à espera o seleccionador. Sei que não é brasileiro, mas também tenho que realçar a qualidade do Srna, um dos melhores laterais/alas do futebol europeu nos últimos anos e cujo futebol encaixa que nem uma luva no esquema de Lucescu, uma velha raposa do futebol.
Abraços.

Michel Costa disse...

Bem lembrado, Yuri. Esse é o verdadeiro grupo da morte nesta UCL. Na 3ª rodada, quando o Shakhtar venceu o Chelsea, um amigo me ligou e falou em zebra. Retruquei na hora: Em casa, o Shakhtar não é zebra contra ninguém. E, dependendo do cruzamento das oitavas, o time ucraniano pode chegar às quartas e daí em diante tudo pode acontecer.

Michel Costa disse...

Olá, JP.

Fernandinho chegou a ser titular da Seleção por um breve período e atuou relativamente bem. Porém, houve pressão de parte da imprensa que desconhecia o jogador dando a entender que ele era convocado por interesse de empresários. Quanto ao William é normal ouvirmos que ele é o melhor jogador de seu time, mas Mano Menezes, a princípio, dá preferência para Neymar, Hulk, Lucas e agora o experiente Kaká.
Sobre o Shakhtar, você lembrou bem. O time não se resume aos brasileiros. Só acho que a força ofensiva e criativa da equipe passa pelas dez opções brasileiras à disposição do técnico Mircea Lucescu.

Abraço.

Danilo disse...

Técnicos brasileiros, no geral, são omissos, desunidos e sem qualificação. Mas isso não é o único responsável pelo anacronismo e futebol de baixo nível. Questões culturais: Soberba e o individualismo. Além de amadorismo na direção dos clubes. Como a falta de planejamento e pouco investimento na categoria de base, mercê de ex-jogadores com pensamento de futebol a lá "buteco". Talvez o maior mal é analisar um time apenas pelo resultado. Se for campeão ganha um "Kit" da imprensa de excelente gestão e futebol bonito. Quando perde, mesmo tendo um excelente futebol, os problemas da diretoria surge automaticamente. O exemplo é o Flamengo 2009. Campeão, escondeu toda a incompetência da diretoria. Maus resultados nos anos seguintes, começou a cobrança. La U é o mais recente. O time perdeu vários jogadores, como resultado derrotas. Tomou uma goleada do São Paulo e o estilo ultra-ofensivo começou a ser questionado, sendo que o time está "renascendo das cinzas".

Denis disse...

Michel, assisti ao jogo e realmente me surpreendi com o futebol do Shakhtar. William e Fernandinho jogaram demais, enquanto Oscar estava apagado. Mereciam chance na seleção.
Porém, quanto ao futebol no Brasil, acho que o São Paulo é o time atuando melhor atualmente. Desde que o time absorveu a filosofia de Ney Franco, o tricolor tem jogado muito bem, com o que você mencionou: dribles, passes rápidos, criatividade, bom volume de jogo.
O problema são outros técnicos como Abel e Muricy com a filosofia joga pra tal jogador resolver...

Michel Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michel Costa disse...

Willian e Fernandinho fizeram uma partida excelente, Denis. Mas não acho que Oscar foi tão apagado. Além do golaço, o meia ainda criou boas chances como o bom cruzamento (após um lindo chapéu em Willian) que Torres desperdiçou e chutou com muito perigo uma bola ainda no 1º tempo. Foi bem marcado na maior parte do jogo, mas vejo isso como mérito do Shakhtar.

Quanto ao SPFC, realmente é preciso elogiar o trabalho de Ney Franco que em pouco tempo colocou o time nos eixos. Mesmo assim, acho que ainda falta alguma coisa em termos de transição ofensiva e jogo coletivo no ataque. Pode chegar lá, mas terá de passar por outra mudança para acomodar Ganso entre os titulares.

Michel Costa disse...

Os técnicos brasileiros realmente me intrigam, Danilo. Em seus trabalhos, costumam se mostrar desatualizados com o que o futebol mundial tem mostrado. Fora dele, o discurso também costuma cair no lugar comum. No entanto, fico imaginando se as perguntas feitas pelos jornalistas são as mesmas de sempre ou se o nível deles é mesmo baixo. Espero que a série de entrevistas que o André Rocha deu início com Tite continue com outros treinadores para, quem sabe, eles possam mostrar que são mais do que aparentam.