quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Por que Felipão pode ser uma boa

Agora é oficial. Luiz Felipe Scolari é o sucessor de Mano Menezes no cargo de técnico da Seleção Brasileira. Como todos sabem, esta será a segunda passagem de Felipão pelo posto e, desta vez, terá a companhia de Carlos Alberto Parreira, novo Coordenador Técnico. Embora não tenha causado nenhuma surpresa, a indicação de Scolari não foi bem recebida por boa parte da imprensa brasileira. A maior crítica gira em torno do momento recente vivido pelo treinador campeão da Copa do Brasil com o Palmeiras, mas co-responsável pelo rebaixamento do clube paulista para a Série B. Além disso, os trabalhos realizados pelo gaúcho após a conquista do pentacampeonato mundial em 2002 também foram alvo de contestações.
Vamos aos fatos:
- Scolari, comandando a Seleção de Portugal, perdeu a Euro 2004 atuando em território lusitano. De quebra, perdeu duas vezes para a Grécia, uma na fase de grupos e outra na final;
- Treinou o Chelsea por apenas sete meses, pois não resistiu aos maus resultados obtidos pela equipe no período e foi demitido;
- De Londres, partiu para o obscuro Bunyodkor, clube do Uzbequistão. Foi campeão uzbeque invicto, mas caiu nas quartas-de-final da Liga dos Campeões da AFC ao perder para o futuro campeão Pohang Steelers;
- Novamente no Palmeiras, foi eliminado pelo então rebaixado Goiás na semifinal da Copa Sul-Americana de 2010. No ano seguinte, o algoz na competição foi o Vasco;
- Foi apenas o 10º colocado no Brasileiro de 2010 e 11º em 2011. Neste ano, deixou o Palmeiras na zona de rebaixamento. Ao final de 38 rodadas, já sob o comando de Gilson Kleina, o clube palestrino foi rebaixado pela segunda vez em sua história.
Todos os argumentos acima são verdadeiros e indicam que os últimos dez anos não foram marcados por grandes vitórias do técnico. No entanto, para que não se cometa uma enorme desonestidade intelectual, também é preciso contextualizar esses fatos:
- Apesar de não ter conquistado nenhum título com Portugal, Felipão fez do selecionado lusitano um adversário temível, algo que não ocorria desde 1966. Durante sua gestão, Portugal derrotou rivais importantes, mostrando bom futebol. Frequentemente, Cristiano Ronaldo cita a relevância do brasileiro em seu desenvolvimento como jogador;
- No Chelsea, bateu de frente com senadores do porte de John Terry e Didier Drogba que não aprovaram seus métodos. Além disso, o clube comandado por Roman Abramovich é conhecido por ser uma máquina de moer treinadores;
- Qualquer trabalho realizado num time como o Bunyodkor precisa ser relativizado. Nas próprias palavras de Felipão, o time uzbeque ocuparia, no máximo, a metade da tabela da Serie B brasileira;
- Se existe um clube brasileiro onde é quase impossível trabalhar este é o Palmeiras. O ambiente político sempre conturbado e a ausência de um elenco competitivo formam uma combinação impraticável. Vale lembrar também, que outros técnicos como Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho falharam no Palestra Itália.
Pelas razões acima citadas, este blogueiro não vê razão para tamanho pessimismo. Felipão é um técnico vencedor, possivelmente haverá um grande impacto sobre os jogadores jovens e ainda terá o respeito internacional que Mano Menezes nunca teve. Cabe também lembrar que em 2001 Felipão também assumiu uma Seleção Brasileira desacreditada e que, aparentemente, sofria uma crise de talentos maior do que dizem atravessar atualmente. E todos sabemos o final dessa história.
Continua sendo verdade que o futebol brasileiro precisa de um projeto, de um horizonte e que a atual direção da CBF não parece ter a mínima condição de oferecer esse suporte. No entanto, paralelamente a isso, a Seleção Brasileira precisa caminhar. E, apesar de alguma evolução mostrada nos últimos meses, o trabalho de Mano Menezes era, no máximo, razoável. Com ele, a Seleção estava muito mais perto do fracasso do que do sucesso em 2014. Mantê-lo poderia ser uma prova de confiança, mas também poderia ser uma forma de omissão.
Imagem: Reuters

8 comentários:

Gustavo Carratte disse...
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Gustavo Carratte disse...

Fui bastante contra a demissão do Mano Menezes. Eu não demitiria, seria o meu técnico em 2014. Penso que estávamos caminhando num ritmo bom, a ponto de chegarmos na Copa como um dos favoritos - abaixo de Espanha e Alemanha, mas nem tanto.

Já que não teríamos mais o Mano, queria ver Guardiola, Tite ou Luxemburgo na Seleção. O primeiro pela revolução futebolística que poderia começar no nosso país, o segundo pelo excelente trabalho que faz no Corinthians e por seu nível de atualização e o terceiro por ainda achá-lo (apesar de todos os questionamentos extra-campo) um dos técnicos brasileiros que sabem montar grandes times, que conseguem ganhar jogos por capacidade e não por sorte em substituições.

E não achei ruim a escolha de Felipão. Não acho que tem uma década de maus trabalhos prestados. Pra mim, ele não rebaixou um time campeão. Ele foi campeão com um time rebaixado, o que é bem diferente. Mas lamento pelo projeto que não existe para o nosso futebol. Guardiola e Tite poderiam ser cabeças nisso. Mano Menezes estava sendo. Luxa talvez montasse um Brasil muito bom de bola até o mundial.

Com Felipão, ou seremos campeões ou não seremos. De novo, início-meio-fim atrás de início-meio-fim nos comandos técnicos da Seleção. Nunca trabalho-trabalho-Copa, trabalho-trabalho-outraCopa. Isso é um problema.

Michel Costa disse...

Entendo, Gustavo. Aliás, creio que grande parte da imprensa concorda contigo. No entanto, penso um pouco diferente. Pra mim, independente do nome do novo técnico, o Brasil seguirá precisando de um projeto macro. Até mesmo se o escolhido fosse Guardiola. A princípio, o técnico da Seleção deve monitorar o universo de jogadores convocáveis, convocar os melhores, treinar o time e colocar para jogar. E isso já é muita coisa! O futebol brasileiro precisa de muito mais e só a CBF pode (ou pelo menos deveria) planejar isso. Mas, com as figuras que lá estão, não há muito o que esperar. Infelizmente.

Danilo disse...

Boa relativização. Mesmo não sendo a favor do Felipão na seleção, sou contra "criticar por criticar". A fase realmente não é boa. Não apenas pelos resultados, mas pelo futebol apresentado. Vejo outros em melhor fase: Tite, Ney Franco e Luxemburgo. Mas não é qualquer um que está assumindo o cargo. Um treinador campeonissimo e que merece respeito.

Michel Costa disse...

É por aí, Danilo. Muitos estão tratando Felipão como se ele fosse um qualquer e como se o trabalho que estava em andamento fosse bom. Não era. Era, no máximo, razoável. Como escrevi anteriormente, o futebol brasileiro precisa de um projeto, mas a Seleção também precisava caminhar paralelamente a isso. E não era o que estava acontecendo.

Gustavo Carratte disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Gustavo Carratte disse...

Disso não tenho a menor dúvida, Michel. Muita coisa precisa melhorar, e resumir os nossos problemas à falta de trabalho a longo prazo na Seleção enquanto equipe é não enxergar o mais importante. Mas, neste caso, acho que as duas coisas podem coexistir.

Não acredito que haja isso de "tudo bem que a Seleção precisa de um projeto, mas temos problemas muito maiores para resolver". São duas coisas que podem ser analisadas separadamente, por mais que as carências da estrutura de nosso futebol respinguem no selecionado - e assim fica difícil separar mesmo.

Como você disse, o técnico não vai resolver essas outras questões, como média de público, calendário, etc. Acontece que tem um que ele pode resolver. Para isso, acho que tínhamos nomes melhores do que o escolhido.

E só lembrando: não achei a escolha por Felipão ruim - podemos ganhar a Copa, só lamento a ausência dessa ideia a longo prazo; e eu não demitiria o técnico anterior.

Um grande abraço!

Michel Costa disse...

Exatamente, Gustavo. O projeto ou o planejamento para o futebol brasileiro não está ligado diretamente a 2014. Ele pode e deve ser pensado a longo prazo. A Seleção, porém, trabalha com ciclos e o atual culmina no Mundial. Nesse pensamento, até acho que a saída de Mano se deu em momento inoportuno, mas não vejo nada de alarmante nela.

Abraço.