sábado, 17 de março de 2012

Pontos e Vírgulas.

Coluna destinada a comentar as opiniões emitidas pelo órgão responsável pela chegada de informações ao público aficionado por futebol: a imprensa esportiva. Afinal, bem ou mal, é através dela que tomamos conhecimento de (quase) tudo o que cerca o mundo da bola.
O maniqueísmo nosso de cada dia.
O principal assunto da imprensa esportiva nesta semana foi, sem dúvida, a renúncia do presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Como era de se esperar, a imprensa “oficial” tratou de enaltecer as conquistas da Seleção Brasileira durante sua gestão e o fato do País ter sido escolhido como sede da Copa do Mundo de 2014. Nessa abordagem, as inúmeras denúncias de corrupção, as investigações e os pontos negativos de sua administração não tiveram o devido destaque.
Lamentavelmente, essa postura não foi surpresa. Essa parcela da imprensa sempre colocou seus interesses financeiros acima da informação e isso não mudou com a queda de Teixeira, o que dá indícios de que as alianças firmadas e a estrutura atual se manterão mesmo com a saída do dirigente.
Do lado oposto, notei o regozijo de muitos jornalistas que comemoraram a renúncia como se ela fosse o pontapé inicial de uma nova era do futebol brasileiro. Pena que isso não seja verdade. Como escreveu Pedro Venâncio nessa matéria para o site Trivela, diante da estrutura vigente, o provável rumo de nosso futebol passa longe de ser auspicioso. Isso sem citar os nomes dos postulantes ao cargo ora ocupado por José Maria Marin.
Outra triste constatação foi perceber o quanto essa ala tentou trazer para si os méritos da renúncia. Uma rápida recapitulação nas notícias envolvendo o ex-presidente remete às denúncias feitas pelo jornalista investigativo Andrew Jennings que apurou que Ricardo Teixeira e João Havelange teriam recebido propina da extinta empresa de marketing ISL. Posterior a esse processo que tramita na Suíça, está o surgimento das irregularidades envolvendo os gastos exorbitantes do amistoso entre Brasil e Portugal em Brasília que culminaram em investigações da Polícia Civil e da Receita Federal ligando Teixeira ao presidente do Barcelona, Sandro Rosell, em diversas negociações suspeitas.
Simultaneamente, o cartola viu o apoio do governo federal desaparecer quando Lula deu lugar a Dilma Rousseff na presidência da república. Dilma, ao contrário de seu antecessor, nunca deu espaço a Teixeira que se viu ilhado diante das denúncias que o cercam. Não por acaso, a ida para os Estados Unidos é vista como fuga, uma vez que o dirigente temeria ter seu passaporte retido em caso de permanência no Brasil. Outra situação pouco enfatizada é a doença intestinal da qual ele sofre. Tratada como algo menor, poucos repararam em como Teixeira se mostrou abatido nos últimos tempos. Portanto, a minimização do problema de saúde parece muito mais uma tentativa de valorizar a pressão sofrida nos últimos tempos do que a percepção de que o paciente em questão requer cuidados que a rotina anterior dificultaria.
Sinto falta de um jornalismo mais investigativo no Brasil. Realmente existe uma ala crítica de nosso futebol, mas, hoje, ela prefere a crítica pela crítica, quase como uma marcação de posição sob uma ótica maniqueísta. Na tentativa de manter essa postura quase xiita, pouco importa o embasamento técnico ou a reflexão, dizendo apenas o que o público quer ouvir. Para ficar num único exemplo, lembro as citações de nosso precário sistema de saúde como mostra de que temos prioridades maiores do que a realização de um Mundial. É verdade, como também é verdade que existe uma Lei de Responsabilidade Fiscal que regulamenta os percentuais de recursos públicos gastos em todas as áreas. Quando ouço comentários do tipo “gente morrendo nos hospitais e o governo preocupado com Copa” penso em duas coisas: Primeiro, se o jornalista conhece a referida lei; segundo, se ele realmente acha que a não realização de uma Copa do Mundo em nosso território resultaria na solução para todas as nossas mazelas. Eu duvido. E desconfio de que, no fundo, ele também sabe disso. Todavia, mais importante do que isso, parece estar a necessidade de mostrar de lado está. Pelo visto, precisamos superar muitas coisas e não só no que diz respeito a nossa cartolagem.  
Imagem: Estadão

17 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Sem dúvida que a queda do RT se deve primeiramente ao problema da ISL e ao fato da FIFA não vê-lo mais como alguém interessante ao sistema; é sintomático que o Blatter ter vindo ao Brasil logo depois da queda dele. A porta fechada que ele encontrou no Planalto com a Dilma também contou para a renúncia, além da hipótese mais plausível como o PVC disse certa vez: ele, além do possível problema de saúde, simplesmente "encheu o saco".

Também acho que a crítica pela crítica é o que mais predomina no Brasil, mas temos de lembrar que a tendência do oba-oba ainda é a mais forte; infelizmente temos uma cultura de submissão da nossa imprensa, e penso que leva um certo tempo para que isso mude, infelizmente.

Pedro disse...

Michel Costa, tenho dificuldade para interpretar texto você poderia me dar umas dicas ?

Michel Costa disse...

Concordo que o oba-oba é mais preocupante, Alexandre, mas a postura da outra parcela da imprensa também me chama a atenção. Afinal, são eles os responsáveis pela condução de um jornalismo mais sóbrio no Brasil.

Lembra quando a região serrana do Rio foi devastada pelas chuvas em 2011? Pois bem. Naquela ocasião, foi revelado que o governo federal havia disponibilizado quase meio bilhão de reais para a prevenção desses acidentes e que nem 50% havia sido gasto. Aí vem um jornalista da Trivela acusar a CBF de não ajudar as vítimas, sendo que a Granja Comary ficava ali perto. Ora, a entidade não tinha a obrigação LEGAL de fazer nada. Mas fez. Dias depois saiu uma reportagem dizendo que a Granja serviu de heliporto e ponto para estocagem de doações. Aí foi a minha vez de dar uma cutucada... hehe.

Na verdade, esse episódio só mostrou o quanto alguns jornalistas esportivos são bitolados em futebol e como a crítica pela crítica está enraizada nessa parcela da classe. Sem contar que muitas vezes a CBF era acusada pelos problemas dos clubes, quando estes eram causados pelos próprios dirigentes das agremiações.

É triste.

Michel Costa disse...

Posso sim, Pedro.
A primeira é ler com atenção.
A segunda é tentar entender do que fala o autor.
A terceira é concatenar os parágrafos e tentar formar a ideia central do texto.

Abraço.

Pedro disse...

Valeu Michel, Abração.Mas antes confirma si a ideia central do texto é sobre a postura da imprensa a renúncia de Ricardo Teixeira.

Pedro disse...

Michel, tem um trecho no último parágrafo em diz : "Realmente existe uma ala crítica de nosso futebol, mas, hoje, ela prefere a crítica pela crítica" talvez essa ala crítica precisa ser mais reflexiva(sugerir soluções)e informativa do que apenas crítica sem nenhuma profundidade ?

Pedro disse...

Falando em crítica pela crítica e maniqueísmo( lado do bem ou lado do mal), lembro de uma frase num texto do André Rizek no seu blog que possui a definição dos termos :" ... somos movidos a certezas absolutas! A gente coloca uma coisa na cabeça e depois fica buscando fatos para comprovar nossos argumentos. Dinho é melhor que Zidane! E depois vamos buscar argumentos para sustentar nossos devaneios (desculpa, Peninha)." O texto na verdade é uma carta para Caio Junior falando sobre os críticos do jornalismo, aqui o link http://migre.me/8kIf3

Michel Costa disse...

Sim, Pedro, o texto aborda a postura da imprensa diante da renúncia de Ricardo Teixeira. Enquanto uma ala quase chega a lamentar a saída do cartola, a outra o acusa até pela crise na Grécia. No caso dessa última, lamento mais porque ela é a responsável pela sobriedade do jornalismo esportivo brasileiro.

Quanto ao texto do Rizek, creio que ele propositalmente exagera ao citar a comparação Dinho/Zidane feita pelo divertido Peninha.

Abraço.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Detesto esse Rizek, acho ele lastimável apresentando o Redação Sportv com seu corinthianismo disfarçado, além das incontáveis mancadas que dá na condução do programa. Mas ele tem razão ao lembrar dessa cultura das pessoas de querer encontrar fundamento para as teses mais estapafúrdias. Também podemos falar da cultura do achismo e do lugar comun, que leva esses erros, como no caso da CBF e a ajuda aos desabrigados da região serrana do RJ.

Michel Costa disse...

Esse é o ponto, Alexandre. Coisas como o maniqueísmo e o achismo deveriam ser banidas do que esperamos que seja um bom jornalismo.
Quanto ao Rizek, também o considero fraco para a função que ocupa. Mas, dentro do padrão Sportv, até que ele não é dos piores.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Resumindo: O padrão do Sportv é fraco,rs...

Michel Costa disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Michel Costa disse...

No geral é mesmo, Alexandre. Em termos de som, imagem e gráficos, o Sportv é o melhor. Mas, no que se refere aos profissionais, realmente deixa a desejar.
Logicamente, faço minha ressalva de sempre ao ótimo Lédio Carmona.

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Concordo com você Michel, o Lédio realmente é o melhor comentarista ali, disparado até; tem o Rafael Rezende que é novo, mas parece ser mais interessado nos jogos fora do RJ e parece com potencial de crescer, mas ainda é médio; o restante realmente é sofrível, até o PCV que achava menos ruim na ESPN, hoje se tornou o rei do lugar comum nas transmissões (junto com o Noriega). O restante é abaixo da crítica.

paulosk partizan disse...

O pior de tudo é o Juquinha tomando para si os louros da derrubada do Ricardo Teixeira.

Quanto a mídia esportiva brasileira, é uma piada, a começar pelo Juquinha.
Temos de um lado os bajuladores do RT que fazem cara de paisagem por suas falcatruas e de outro lado, como alguém ja citou acima, que acham que o RT é culpado até pela crise na Grécia.
Menas, ele foi um dirigente que em 23 anos trouxe avanços - valorização do Brasileirão, sistema de rebaixamento para a primeira divisão, pontos corridos, valorização da imagem da $eleção Bra$ileira, a Copa do Brasil - e retrocessos - as viradas de mesa, a sua perpetuação no poder, as falcatruas, conchavos, o enfraquecimento do clube 13.

E acho que ele só caiu por vaidade, pois se, só ficasse com a CBF cuidando apenas da seleção em 2014, deixando o COL para outra pessoa, estaria aí até agora. Mas não, quis abraçar tudo e caiu do cavalo.

Michel Costa disse...

Realmente, o PCV é o rei do lugar comum. Ele só passa um verniz intelectual para que os comentários pareçam melhores. Considero o Noriega bom, mas confesso que já faz algum tempo que eu não ouço seus comentários.

Michel Costa disse...

Você me lembrou de algo que ouvi no Linha de Passe de ontem, Paulosk. Em certo momento, Juca anunciou solenemente que estava aderindo à campanha para que a bola da Copa se chame "Gorduchinha"e que só não o fez antes porque temia que sua adesão fizesse com que RT boicotasse o nome. Dado o estilo Teixeira, pode até ser, mas não deixa de ser uma declaração meio petulante do jornalista.