sábado, 3 de março de 2012

Guardiola?

É ponto pacífico que a Seleção Brasileira não fez um bom jogo diante da Bósnia que, ao contrário do que dizem alguns “especialistas”, é um selecionado respeitável.  Também está claro que o trabalho de Mano Menezes evoluiu muito pouco desde que o ex-técnico do Corinthians assumiu o comando verde-amarelo. Em consequência, está se tornando unanimidade a ideia de que os Jogos de Londres podem marcar o fim de sua passagem pela Seleção, no caso da não conquista do ouro olímpico.
Deste modo, a possível sucessão de Mano levanta um velho tema: O Brasil está preparado para ter um treinador estrangeiro? Para muitos, neste momento, não temos um profissional plenamente capacitado para dirigir a Seleção na Copa do Mundo que iremos sediar. Muricy Ramalho, o maior vencedor dos últimos tempos, viu seu Santos cair de maneira ridícula diante do Barcelona e teve toda a mediocridade sua filosofia de jogo escancarada para o mundo inteiro. Outros nomes antes badalados como Vanderlei Luxemburgo e Luiz Felipe Scolari estão longe de seus melhores dias e figuras em evidência como Tite e Dorival Júnior ainda não têm a experiência necessária para o cargo.    
Neste cenário, é mais do que explicável a citação de nomes estrangeiros. E quem melhor para a missão do que o responsável pela montagem da equipe mais admirada da atualidade? Quem melhor do que o bastião do futebol bem jogado? Não foi difícil que o raciocínio alcançasse o nome de Josep Guardiola. E, como a renovação do ex-volante com o Barcelona se mostra complicada, o sonho tomou ares de possibilidade real por aqui.
Não deveria. Primeiro, porque tudo indica que o ciclo de Guardiola no Barça ainda não chegou ao fim. Nesta semana, jogadores como Daniel Alves e Pedro vieram a publico pedir sua permanência. Um exemplo de que o relacionamento tanto com titulares quanto com os reservas continua sadio. Segundo, porque o técnico nunca deu mostras de que esteja interessado em deixar a rotina de clube para se dedicar a uma seleção. E se o interesse pelo trabalho no dia-a-dia permanece vivo, a Internazionale parece disposta a pagar uma fortuna por seus préstimos. Em terceiro, mas não menos importante, está a dúvida sobre até que ponto um trabalho realizado numa agremiação que já possui uma filosofia de jogo consolidada pode ser parâmetro para uma seleção que só se encontra de tempos em tempos e que é composta por jogadores com estilos distintos em relação aos catalães.
É preciso entender que uma coisa é treinar uma equipe todos os dias e moldá-la ao seu planejamento. Outra, bem diferente, é mapear os melhores de um país que exporta seus atletas para o mundo inteiro, reuni-los e fazer deles um time. Não dá para apenas adorar o Barcelona e querer transpor o que ele tem de melhor sem pensar em como a equipe se construiu e como isso foge da realidade de uma seleção que não seja a espanhola. O Brasil tem seu estilo próprio e jogadores com talento suficiente para produzir mais do que a Seleção tem apresentado atualmente. Talvez não sob as ordens de Mano.
Foto: AP

4 comentários:

Alexandre Rodrigues Alves disse...

Penso que o principal problema do Guardiola ou outro técnico estrangeiro ser escolhido para treinar o Brasil é a soberba que muitos brasileiros têm ainda em relação ao futebol. Só por isso acho que ainda estamos distantes de um estrangeiro assumir a Seleção; penso que só uma catástrofe em Copa (ficar na 1ª fase em casa por exemplo), poderia mudar a situação.

E concordo quando você diz que, escolher um técnico muito bom, mas que ainda nunca treinou uma Seleção, seria um tanto arriscado nesse momento.

Yuri disse...

Uma coisa que eu não entendo é isso do Guardiola ficar renovando ano após ano seu contrato. Qualé... o cara tá no emprego dos sonhos, no seu time, com os melhores jogadores que existem, um grupo fantástico e ganhando tudo... é para fazer contrato de 10 anos. Não sei de quem parte isso, mas me parece ser do Barça. Seria para não deixar Pep acomodar-se?

Michel Costa disse...

Realmente existe essa arrogância, Alexandre. É aquele história de que somos o país do futebol e que ganhamos cinco vezes sem ajuda estrangeira. Pra mim, está claro que, além de vivermos uma entressafra de talentos, não temos um técnico em perfeita sintonia com o que o futebol mundial tem mostrado. Por ironia, o mais próximo disso é justamente o Mano Menezes. No entanto, esse conhecimento parece ficar apenas no discurso.

Michel Costa disse...

Isso parte do próprio Guardiola, Yuri. O Barça já tentou renovar por mais tempo várias vezes. Mas é ele quem quer deixar as portas abertas caso as coisas não estejam caminhando bem. E, pra mim, essa atitude diz muito sobre o bom caráter dele.